Sensacionalismo sem fundamentação
Vez e outra surge um novo profeta (às vezes o mesmo) no
movimento espírita, trazendo notícias alarmantes e
sensacionalistas, mas que não encontram fundamentação
doutrinária. Apesar do equívoco, provocam estragos,
ainda mais quando muitos adeptos da Doutrina não tomam
cuidado em passar a informação pelos crivos da razão, da
lógica, do bom senso, dos princípios que formam a
Doutrina e da universalidade do ensino dos Espíritos,
aliás, a grande garantia da coesão doutrinária.
A bola da vez é o desaparecimento do movimento espírita
no prazo de quarenta anos, se não houver uma intervenção
dos Espíritos. Escuso-me de citar o nome do profeta,
pois devemos debater a ideia, a informação, e não a
pessoa que a transmite. Aprendemos com o Espiritismo a
respeitar o direito de opinião de quem quer que seja,
embora isso não pressuponha que acatemos essa opinião,
como é o caso.
O profeta dos dias atuais arroga-se ser profundo
conhecedor do movimento espírita, viajando país afora
para palestras e seminários, Não duvidamos que tenha
esse conhecimento, mas daí a afirmar quer os dirigentes
dos centros espíritas são octogenários perto da
desencarnação, e que o público frequentador e
trabalhador tenha de cinquenta anos para cima, é um
exagero, pois há toda uma nova geração trabalhando, como
sempre houve, e não temos dúvida que dará prosseguimento
ao movimento espírita, cada vez mais aprimorado e
incorporando novas tecnologias e novos serviços do mundo
pós moderno, sem macular os princípios que formam o
Espiritismo.
Outra profecia duvidosa, no mínimo precipitada, é que se
as coisas continuarem como estão somente a intervenção
da Espiritualidade pode salvar o movimento espírita.
Não, não se trata disso. Os Bons Espíritos cuidam da
Doutrina, da nossa orientação moral, mas não se imiscuem
no que nos pertence, ou seja, a organização e gestão do
Centro Espírita e do Movimento Espírita em geral. Isso é
tarefa que nos pertence, a nós, espíritos encarnados, e
não a eles, que se encontram no mundo espiritual, onde
têm muito a fazer.
É claro que os Bons Espíritos se preocupam com o que
estamos fazendo, isso faz parte da sua missão, e, na
medida do que lhes é permitido pela Lei Divina, podem
nos dar conselhos mais específicos sobre este ou aquele
assunto, mas jamais irão nos substituir. Não existe essa
história de intervenção espiritual, o que temos é a lei
de evolução e a interação natural entre encarnados e
desencarnados.
Não estou aqui para �tapar o sol com a peneira�, pois
problemas existem: ignorância doutrinária por falta de
estudo; centralização do poder
administrativo-doutrinário numa pessoa ou num pequeno
grupo de pessoas; desconfiança quanto à capacidade dos
mais jovens; ruídos de comunicação; discussões estéreis
sobre temas que nada servem para nosso progresso
espiritual; incompreensão da importância da educação
espírita. Problemas existem, como sempre existiram, mas
nunca significaram o fim do movimento espírita que, como
qualquer obra humana, possui seus períodos de crise, no
caldeirão cultural que nos envolve, sempre saindo mais
fortalecido e para novos tempos.
E quem é esse profeta para falar em alto e bom som que
no prazo de quarenta anos não teremos mais o movimento
espírita? Então ele não sabe que os Espíritos realmente
sérios nunca colocam data para qualquer acontecimento,
pois acima de tudo respeitam nosso livre- arbítrio? Isso
é elementar na Doutrina Espírita.
Alguém dirá que o profeta em questão é respeitado pelos
espíritas, e não temos dúvida sobre isso, mas toda
pessoa pode se equivocar, e não devemos aceitar tudo
seja de quem for, afinal os profetas precisam ser
provados se são de Deus, como nos lembra o apóstolo
Paulo.
O movimento espírita não vai acabar, nem hoje, nem
amanhã. Vai continuar seu aprimoramento geração após
geração. Agora, temos que estudar e compreender cada vez
mais e melhor o Espiritismo, para que seu movimento
representativo seja não apenas dinâmico, mas, em
primeiro lugar, seja fiel depositário da obra dos
Espíritos Superiores e de Allan Kardec, na finalidade
maior de contribuir com a transformação moral da
Humanidade.
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