A
banalização da
indiferença
Observamos nas grandes
capitais e muitas
cidades, tanto pelo
Brasil como mundo afora,
que os homens pela
pressa e necessidade de
sobrevivência acabam se
afastando dos
necessitados,
principalmente dos
pedintes nas ruas e
esquinas dos grandes
centros urbanos.
A grande crise
socioeconômica pela qual
nossa sociedade vem
passando, como um
afastamento gradual da
crença em Deus, do
exercício do amor ao
próximo e da caridade
aos necessitados,
favorecem a uma
banalização, na condição
de pobreza que boa parte
da população vive.
As pessoas gradualmente
vão perdendo a
sensibilidade de
perceber a necessidade
do próximo, pois o
imediatismo acaba
favorecendo um
julgamento do semelhante
e atribuindo a sua
dificuldade de
sobrevivência a uma
falta de esforço,
indolência ou uso de
drogas. Muito poucos são
aqueles que conseguem
perceber nos moradores
de rua ou nas pessoas
abaixo da linha da
pobreza problemas que
vão além da oportunidade
na oferta de trabalho.
Existem casos complexos
de problemas
psiquiátricos ou de
alcoolismo familiar,
porém observamos uma
banalização quase
generalizada em que as
pessoas passaram a não
mais se importar com
esses indivíduos,
passando eles a ser
invisíveis ao olhar do
cidadão comum. Passam
totalmente a transferir
qualquer tipo de ajuda
para os órgãos públicos
ou para Organizações não
Governamentais.
Tivemos a oportunidade
de ter contato com um
familiar por parte de
pai que, devido a uma
grande decepção, se
tornou morador de rua na
Grande São Paulo. Ele
não era sem teto, fez a
opção de viver nas ruas,
já aposentado, e me
apresentou um submundo
no qual muitas pessoas
que já tiveram uma
família e também
profissão, por um
acidente de percurso da
vida, passaram a viver
nas ruas. Esse parente
falava francês e inglês
fluentemente. Não se
sentia infeliz, foi uma
opção, não pedia
esmolas, tinha
aposentadoria. Escolheu
viver dessa forma. Foram
diversas idas a São
Paulo, onde eu o
procurava para saber se
precisava de algo e ele
sempre me recebia feliz,
não desejava ajuda.
Faleceu ano passado
durante o inverno, sendo
recolhido como
indigente.
Não existe dúvida de que
existem pessoas
oportunistas para
tirarem vantagem do
sentimento de compaixão
dos indivíduos,
solicitando uma ajuda
que poderiam conseguir
através do esforço
próprio, porém como
nossa sociedade vem
passando por uma grave
crise, já há alguns
anos, torna-se difícil
para alguns perceber
quem de fato necessita
de ajuda.
Por conta disso, fica
mais fácil atribuir
oportunismo nas atitudes
das pessoas que vivem
nas ruas das grandes
cidades e não
necessariamente pobreza
ou carência.
Muitas Casas Espíritas
possuem frentes de
trabalho direcionadas à
assistência social, com
distribuição de cesta
básica, roupas e
material escolar para as
famílias cadastradas,
assim como quentinhas ou
sopa para os moradores
de rua. Algumas até
fazem cadastro dos
moradores de rua para
tentar ajudar de outras
formas.
A doutrina espírita
procura mostrar-nos que
nada acontece por acaso,
existem obras
doutrinárias que
apresentam relatos em
que os principais
personagens fizeram a
opção de retornar numa
condição provacional,
vivendo em condições de
pobreza para reparar uma
falta cometida ou, em
alguns casos, por um
processo obsessivo que
se arrasta por décadas
ou gerações.
O livro Memórias de
um Suicida1,
psicografado por Yvonne
A. Pereira e ditado pelo
Espírito Camilo Cândido
Botelho, apresenta no
final da terceira parte
uma história que
representa exatamente a
necessidade da
reencarnação na condição
de pobreza.
Mesmo sabendo que muitos
espíritos solicitam
reencarnações
provacionais, para
saldar antigas faltas
contraídas, não
justifica de forma
alguma nossa omissão.
Nossa ajuda representa
um desprendimento da
nossa parte dos bens
materiais e uma
colaboração para que o
outro possa concluir sua
missão de expiação.
No livro Inesquecível
Chico2 organizado
por Romeu Grisi e Gerson
Sestini, eles nos contam
a história do "O Mendigo
Renitente", pág. 91 até
93, na qual Chico revela
o motivo por que
determinado mendigo
permanecia na varanda da
casa de um frequentador,
médico e militante na
doutrina, amigo pessoal
do próprio Chico.
As revelações que a
doutrina espírita nos
vem oferecendo sobre a
ideia de provas e
expiações podem
modificar o nosso foco
ou a nossa vibe em
relação ao mundo em que
nos encontramos.
Precisamos romper com o
sentimento de descaso ou
de total indiferença em
relação às pessoas
necessitadas, de forma a
não julgar, mas fazer o
que está ao nosso
alcance de acordo com
que sentimos no momento
quando somos abordados
na rua pelos pedintes.
Vamos ajudar de acordo
com o sentimento que
desejamos ressignificar
em cada um de nós, no
que diz respeito à
caridade para com o
próximo, segundo as
palavras de Maria
Dolores no livro Uma
vida de Amor e Caridade3:
“… E quem é o meu
próximo? — Indaguei
Ao coração da vida”
E o coração da vida
obedecendo a Lei...
Respondeu com voz clara
e decidida: ”
“Olha em redor de ti,
onde o dever te leve
Trabalha, serve, crê,
chora, sofre e auxilia…
Sem o próximo em tua
companhia
Nunca serás alguém”.
Referências:
1) Pereira, Yvonne
Amaral; Memórias de
um Suicida; 3a Parte:
VII - Últimos traços;
FEB.
2) Sestini, Gerson e
outro; Inesquecível
Chico; Cap. 12 -
Entre casos e conversas;
Ed. GEEM.
3) Xavier, Francisco
Cândido; Uma vida de
Amor e Caridade; 2a Parte:
9 - Ante o próximo
(Espíritos Diversos);
Ed. Fonte Viva.
4) Wikipédia (A
Enciclopédia Livre).
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