O poder
da razão como atenuante
à dor e ao sofrimento
Comprovando o seu papel
de Consolador Prometido,
o Espiritismo continua a
espalhar esclarecimentos
e elucidações às almas
encarnadas preocupadas
com a sua origem e
destino. Os mais
sequiosos em se
aprofundar nos
escaninhos da verdade
divina encontram
nessa doutrina
certamente forças e
inspiração para o
enfrentamento das
vicissitudes, bem como
explicações racionais,
sensatas e objetivas
para os grandes enigmas
existenciais. Um deles,
sem dúvida, que aflige
toda a humanidade é o
fenômeno da dor e do
sofrimento. Desse modo,
entender o seu caráter
terapêutico é vital para
compreender o pensamento
divino. Em outras
palavras, não basta
apenas sofrer; é preciso
também entender porque
passamos por essa
experiência.
Nesse sentido, o
Espírito Joanna de
Ângelis elucida, na
obra Plenitude (psicografia
de Divaldo Pereira
Franco), que:
“Certamente, o
sofrimento faz parte da
vida, por ser mecanismo
da natureza, através do
qual o progresso
intelecto-moral se
expressa e consolida.
“O diamante bruto
aguarda a lapidação para
fulgir como estrela
luminosa.
“Os metais necessitam da
alta temperatura, a fim
de amoldarem-se à beleza
e à utilidade.
“A madeira experimenta
os instrumentos
cortantes para
desempenhar os papéis
relevantes a que está
destinada.
“O rio cava o próprio
leito por onde corre.
“Igualmente, o espírito
necessita lapidar as
arestas que lhe encobrem
a luminosidade, e, para
tal, o sofrimento se
apresenta como
ocorrência normal, que o
conhecimento e a força
de vontade conseguem
conduzir com equilíbrio,
alcançando a finalidade
sublime a que se
encontra destinado”.
Vê-se, portanto, que se
trata de etapa natural
no caminho evolutivo à
qual todos estamos
submetidos. Posto isto,
o processo de
aperfeiçoamento moral e
intelectual dos
indivíduos pressupõe
vários estágios nesse
tópico em particular.
Assim sendo, à medida
que se avança no terreno
do entendimento tudo vai
ficando mais claro.
Embora sejamos dotados
do DNA divino, cabe a
cada um de nós a tarefa
do autoburilamento, e as
sucessivas encarnações
são o meio mais eficaz
para que tal meta seja
atingida.
Vale também recordar que
toda conquista humana
expressiva – seja ela em
que área for - vem
geralmente acolitada por
ingentes sacrifícios e
dedicação. Pergunte-se,
por exemplo, a um
atleta, a um
pesquisador-acadêmico,
ou a um músico sobre os
esforços por eles
empreendidos para algo
conquistar ou deixar a
sua marca, e certamente
os seus relatos
revelarão, na essência,
horas e mais horas de
sofrimento e
comprometimento. Tal
preço parece ser
inevitável para todos os
que almejam alcançar
algo mais, inclusive na
esfera da
autoiluminação.
Definitivamente, não se
consegue atingir as
culminâncias da
espiritualidade sem os
espinhos da dor e do
sofrimento. Paulo de
Tarso, o intimorato
apóstolo dos gentios,
descobriu isso às portas
de Damasco através da
convocação de Jesus para
que ele cooperasse no
serviço divino. Nesse
sentido, em maior ou
menor grau, chega a hora
em que todo o indivíduo
é também convidado a
mostrar o tamanho e a
coerência da sua fé. O
Cristo de Deus não pede
o nosso sacrifício como
outrora ocorreu nos
circos romanos. Aquele
foi um momento histórico
que demandou tal
providência para que a
verdade celestial se
estabelecesse no mundo
por meio da reforma dos
valores humanos. E cabe
ressaltar que Jesus foi
o primeiro a perecer
para que o início da
transformação das
criaturas se
desenrolasse no planeta.
A precária condição
espiritual em que ainda
nos encontramos requer
acentuado empenho de
nossa parte para que nos
autoburilemos. Como
explica Joanna de
Ângelis, no livro Autodescrobrimento:
Uma Busca Interior (psicografia
de Divaldo Pereira
Franco), “Da
insensibilidade inicial
à percepção primária,
dessa à sensibilidade,
ao instinto, à razão, em
escala ascendente, o
psiquismo evolve,
passando à intuição e
atingindo níveis
elevados de interação
com a Mente Cósmica”.
Sendo o sofrimento (pelo
menos a dor-evolução)
parte relevante do
processo ascensional,
conforme mostram as
evidências, é preciso,
então, (1) assimilar tal
imperativo e (2)
trabalhar para que ele
não seja
desnecessariamente
ampliado.
Desse modo, no primeiro
caso cabe estudar as
suas manifestações nas
vidas humanas, já que há
muito a aprender nesse
sentido. Muitas pessoas
passam por experiências
acerbas, às vezes, que
perduram toda uma
existência, e
observando-as podemos
muito aprender. No
segundo caso,
evitando-se condutas e
atitudes que possam
agravar a nossa
situação. Como bem
afirmou Léon Denis, no
livro O Problema do
Ser, do Destino e da
Dor, “[...] A dor
será necessária enquanto
o homem não tiver posto
o seu pensamento e os
seus atos de acordo com
as leis eternas; deixará
de se fazer sentir logo
que se fizer a harmonia
[...]”. Eis a causa de
muitos males que nos
atormentam ao longo do
caminho, nascidos de
nossa imprudência, falta
de bom senso,
sentimentos obscuros e,
especialmente, ausência
de luz dentro de nós.
Como outrora ensinou o
filósofo Aristóteles
(384-322 a.C.), no seu
seminal livro, Nicomachean
Ethics,
a sabedoria prática (a
boa deliberação)
pressupõe a ação
benéfica, a coisa certa,
realizada da maneira e
na hora certas.
Infelizmente, não raro
os indivíduos deixam-se
arrastar por estranhas
fixações, culminando em
atos maléficos e com
consequências nefastas.
E tal desarmonia não
deixa de ser notada
pelos maiorais da
espiritualidade, cabendo
ao infrator a
necessidade de
empreender o devido
reparo no momento
oportuno. Porém, o
sofrimento que daí
advenha não será
caracterizado como um
elemento evolutivo
propriamente dito, mas
de ajuste às leis
divinas, já que essas
não comportam a ideia ou
prática do mal.
Posto isto, só o
entendimento nos leva à
razão e essa à atitude
positiva. Assim sendo,
não acrescentemos maior
quota de sofrimentos e
desgostos em nossos
passos. Foquemos
igualmente no
aprendizado espiritual
donde se obtém
diretrizes existenciais
seguras à nossa vitória
e progresso. Lembremos:
a razão (fé raciocinada)
nos estimula a evitar os
tropeços éticos e
morais. Por fim,
tenhamos sempre em mente
que só se avança se Deus
e o próximo forem
efetivamente alvos dos
nossos melhores
sentimentos e ações.
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