Eles demoram mesmo mais tempo a perceber?
Naquela noite o céu ainda conseguia mostrar algumas
estrelas, apesar da luz excessiva dos lampiões. O
relógio deveria aproximar-se das 23h00 quando Álvaro
Silva, jovem amigo que participava na reunião mediúnica
que terminara há escassos minutos, dizia com gentileza,
ainda sob influência do notável ambiente de paz vivido
na sala: “Estive a relacionar os dados recolhidos e há
uma evidência estatística interessante nesta amostra –
os Espíritos de perfil masculino demoram
significativamente mais tempo a ser esclarecidos através
dos médiuns do que os do sexo oposto!”.
Repare, caro(a) leitor(a), que esta amostra reúne apenas
duas centenas de casos anotados.
Ainda assim fiquei curioso. Não me tinha apercebido
disso. Em várias amostras de apontamentos recolhidos de
forma organizada, na folha de cálculo, no dia seguinte
às reuniões mediúnicas semanais dedicadas ao
esclarecimento de entidades espirituais desencarnadas
que os amigos espirituais traziam a manifestar-se, havia
a recorrência de, independentemente de o médium ser
masculino ou feminino, ocorrer uma expressiva maioria de
Espíritos de perfil masculino necessitados de
esclarecimento. Isso sim, não era novo. Porém, demorarem
mais tempo a aceitar ser entregues aos amigos
espirituais para a devida reabilitação…
A referida evidência estatística é acentuada, como se vê
no gráfico, mas será necessário repetir noutras
amostras, noutros grupos mediúnicos do mesmo teor, para
verificar se o padrão se repete. Confesso, com toda a
falta de rigor que esta linha encerra, que não me
admiraria se se viesse a reverificar esta realidade.
Uma vez anotado o presente pressuposto, será
interessante colocar algumas perguntas e deixar umas
poucas hipóteses explicativas, imaturas, contudo, por
falta da autenticidade que decorreria de um cadinho
experimental mais alargado.
Por que razão se verifica isso? Será porque os homens
encarnados, ou desencarnados ainda envoltos em
ignorância, não gostam de dar a razão a outrem? Ou será
porque demoram mais tempo a perceber? Mais: poderá ser
porque tardam mais um pouco a abrir-se a sentimentos
positivos, no âmbito da afetividade, e como resultado as
suas perceções espirituais visuais e auditivas são mais
lentas a abrir-se, a ponto de verem os amigos
espirituais que os vêm receber no final do
esclarecimento para uma vida mais feliz?
As respostas a estas perguntas podem ajudar os que,
entre nós, ainda não foram chamados a regressar de novo
ao Plano Espiritual, de onde todos viemos, antes de
(re)nascermos na Terra. As vidas sucessivas são
oportunidades de aceleração evolutiva, desde que bem
aproveitadas no sentido de aumentar as coordenadas
interiores de amor e sabedoria.
O próprio Jesus de Nazaré exortou: “Brilhe vossa luz”
(Mateus 5:16). Com estas palavras destacava a
importância da autoeducação. Os bons sentimentos
oferecem luz aos olhos na vida espiritual e, na vida
terrena, propiciam maior facilidade de interação
telepática com os amigos espirituais que se interessam
pela nossa evolução espiritual.
Na verdade, o conteúdo das indagações acima apontadas
pode funcionar simultaneamente num mesmo caso em várias
camadas ou não. Seria necessária uma análise assaz
minuciosa caso a caso com grande gasto de tempo. Em todo
o caso, há considerações pertinentes que podem ser
alinhadas.
Se enveredarmos pela via da história natural,
encontramos um fluxo evolutivo em várias espécies de
primatas segundo o qual os machos dominantes no grupo
são mais robustos e tendem a chamar a si a defesa do
território, do qual dependem, e da família. O
investimento biológico no músculo prepondera,
independentemente das alianças de poder que consigam
pontualmente estabelecer. Por sua vez, as fêmeas
evoluíram mais associadas à necessidade de cuidar das
crias, com peculiar sentido de observação e cuidado.
Estas tarefas envolvem-se de emoções subtis, que a
defesa de um território normalmente não gera.
Se seguirmos pela via da cultura das comunidades em que
reencarnamos, na rua ouve-se até dizer a um menino, por
exemplo, que “homem não chora”, salientando-se com isso
que a masculinidade não deve ser dada a sentimentos.
Seria sinal de fraqueza, acreditam. Existirá até um
lugar-comum de que os sentimentos turbam o raciocínio –
sim, se forem desequilibrados – e, homem que se preze,
vai manter o foco. Essas linhas de força comportamentais
estão ligadas à inibição de sentimentos elevados, cujo
exercício quotidiano normal estabeleceria dinâmicas
próprias do perispírito – ou corpo espiritual – para que
as perceções que lhe estão associadas funcionem, ou se
abram, na vida espiritual a patamares vibratoriamente
mais elevados. Não é tópico de mera opinião, uma vez que
tudo isto funciona segundo as leis da natureza a nível
espiritual.
Ter sentimentos elevados e lúcidos, como os que Jesus de
Nazaré nos ensina e a doutrina espírita de uma maneira
tão cristalina nos relembra graças ao trabalho de Allan
Kardec, não diminui ninguém, bem pelo contrário!
Deve lembrar-se, ainda assim, a referência em O Livro
dos Espíritos, na questão 202, de que o Espírito não
tem sexo. É verdade. Possui sexualidade, mas não tem
sexo. Entende-se aqui sexo morfológico. Num exemplo
simples, veja-se o candeeiro luminoso, instalado com
“abat-jour”. Este último corresponde ao corpo físico que
temos numa vida material, masculino ou feminino. A luz é
a sexualidade, cuja sede se situa no ser espiritual que
somos. Quando desencarnamos, somos os mesmos, sem tirar
nem pôr, só que sem o corpo material. Conforme a
experiência demonstra sem margem de dúvida, as
condicionantes psicológicas seguem imperturbáveis na
vida que se desdobra vibrante além da morte do corpo
físico.
Fica por isso a ideia de que todos temos muitas razões
para ter esperança. Os véus densos de tristeza e
desolação, de infortúnio e deceção são resultado de
ações ou inações nossas diante das leis da natureza que
regem a nossa evolução sob as bênçãos de Deus, a
“inteligência suprema, causa primeira de todas as
coisas” (questão 1 de O Livro dos Espíritos).
Conhecer essas mesmas leis e perceber como lidar com
elas vai proporcionando uma maior capacidade de
realizarmos colheitas mais luminosas desde já na nossa
seara interior, cuja sede se situa na consciência. Jesus
de Nazaré fala-nos disso na boa nova. Mais tarde ou mais
cedo, iremos compreender melhor. O amor, tão
incondicional quanto possível, é mesmo a luz do mundo.
Examinados os factos, não acha que isto faz sentido?
Nota do Autor -
Esta análise foi efetuada a partir de um grupo de
serviço mediúnico situado nos arredores da cidade do
Porto, na região Norte de Portugal, ao longo do ano de
2017. Através de registos recolhidos das manifestações
mediúnicas habituais no grupo em que colaborámos
regularmente durante vários anos, até 2019,
identificaram-se e registaram-se a posteriori, através
de um código numérico, os médiuns em causa em cada
manifestação, anotando-se caso a caso o perfil masculino
ou feminino da entidade espiritual evidenciado no
diálogo esclarecedor decorrente do transe mediúnico. O
póster “Relação de género entre os Médiuns e os Perfis
evidenciados no transe mediúnico”, que expõe este facto,
está disponível na internet a partir da internet - clique
aqui
Jorge Gomes reside na cidade do Porto, em
Portugal, onde nasceu e atua na área da imprensa.
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