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por Jorge Gomes

Eles demoram mesmo mais tempo a perceber?

 

Naquela noite o céu ainda conseguia mostrar algumas estrelas, apesar da luz excessiva dos lampiões. O relógio deveria aproximar-se das 23h00 quando Álvaro Silva, jovem amigo que participava na reunião mediúnica que terminara há escassos minutos, dizia com gentileza, ainda sob influência do notável ambiente de paz vivido na sala: “Estive a relacionar os dados recolhidos e há uma evidência estatística interessante nesta amostra – os Espíritos de perfil masculino demoram significativamente mais tempo a ser esclarecidos através dos médiuns do que os do sexo oposto!”.

Repare, caro(a) leitor(a), que esta amostra reúne apenas duas centenas de casos anotados.

Ainda assim fiquei curioso. Não me tinha apercebido disso. Em várias amostras de apontamentos recolhidos de forma organizada, na folha de cálculo, no dia seguinte às reuniões mediúnicas semanais dedicadas ao esclarecimento de entidades espirituais desencarnadas que os amigos espirituais traziam a manifestar-se, havia a recorrência de, independentemente de o médium ser masculino ou feminino, ocorrer uma expressiva maioria de Espíritos de perfil masculino necessitados de esclarecimento. Isso sim, não era novo. Porém, demorarem mais tempo a aceitar ser entregues aos amigos espirituais para a devida reabilitação…

 

A referida evidência estatística é acentuada, como se vê no gráfico, mas será necessário repetir noutras amostras, noutros grupos mediúnicos do mesmo teor, para verificar se o padrão se repete. Confesso, com toda a falta de rigor que esta linha encerra, que não me admiraria se se viesse a reverificar esta realidade.

Uma vez anotado o presente pressuposto, será interessante colocar algumas perguntas e deixar umas poucas hipóteses explicativas, imaturas, contudo, por falta da autenticidade que decorreria de um cadinho experimental mais alargado.

Por que razão se verifica isso? Será porque os homens encarnados, ou desencarnados ainda envoltos em ignorância, não gostam de dar a razão a outrem? Ou será porque demoram mais tempo a perceber? Mais: poderá ser porque tardam mais um pouco a abrir-se a sentimentos positivos, no âmbito da afetividade, e como resultado as suas perceções espirituais visuais e auditivas são mais lentas a abrir-se, a ponto de verem os amigos espirituais que os vêm receber no final do esclarecimento para uma vida mais feliz?

As respostas a estas perguntas podem ajudar os que, entre nós, ainda não foram chamados a regressar de novo ao Plano Espiritual, de onde todos viemos, antes de (re)nascermos na Terra. As vidas sucessivas são oportunidades de aceleração evolutiva, desde que bem aproveitadas no sentido de aumentar as coordenadas interiores de amor e sabedoria.

O próprio Jesus de Nazaré exortou: “Brilhe vossa luz” (Mateus 5:16). Com estas palavras destacava a importância da autoeducação. Os bons sentimentos oferecem luz aos olhos na vida espiritual e, na vida terrena, propiciam maior facilidade de interação telepática com os amigos espirituais que se interessam pela nossa evolução espiritual.

Na verdade, o conteúdo das indagações acima apontadas pode funcionar simultaneamente num mesmo caso em várias camadas ou não. Seria necessária uma análise assaz minuciosa caso a caso com grande gasto de tempo. Em todo o caso, há considerações pertinentes que podem ser alinhadas.

Se enveredarmos pela via da história natural, encontramos um fluxo evolutivo em várias espécies de primatas segundo o qual os machos dominantes no grupo são mais robustos e tendem a chamar a si a defesa do território, do qual dependem, e da família. O investimento biológico no músculo prepondera, independentemente das alianças de poder que consigam pontualmente estabelecer. Por sua vez, as fêmeas evoluíram mais associadas à necessidade de cuidar das crias, com peculiar sentido de observação e cuidado. Estas tarefas envolvem-se de emoções subtis, que a defesa de um território normalmente não gera.

Se seguirmos pela via da cultura das comunidades em que reencarnamos, na rua ouve-se até dizer a um menino, por exemplo, que “homem não chora”, salientando-se com isso que a masculinidade não deve ser dada a sentimentos. Seria sinal de fraqueza, acreditam. Existirá até um lugar-comum de que os sentimentos turbam o raciocínio – sim, se forem desequilibrados – e, homem que se preze, vai manter o foco. Essas linhas de força comportamentais estão ligadas à inibição de sentimentos elevados, cujo exercício quotidiano normal estabeleceria dinâmicas próprias do perispírito – ou corpo espiritual – para que as perceções que lhe estão associadas funcionem, ou se abram, na vida espiritual a patamares vibratoriamente mais elevados. Não é tópico de mera opinião, uma vez que tudo isto funciona segundo as leis da natureza a nível espiritual.

Ter sentimentos elevados e lúcidos, como os que Jesus de Nazaré nos ensina e a doutrina espírita de uma maneira tão cristalina nos relembra graças ao trabalho de Allan Kardec, não diminui ninguém, bem pelo contrário!

Deve lembrar-se, ainda assim, a referência em O Livro dos Espíritos, na questão 202, de que o Espírito não tem sexo. É verdade. Possui sexualidade, mas não tem sexo. Entende-se aqui sexo morfológico. Num exemplo simples, veja-se o candeeiro luminoso, instalado com “abat-jour”. Este último corresponde ao corpo físico que temos numa vida material, masculino ou feminino. A luz é a sexualidade, cuja sede se situa no ser espiritual que somos. Quando desencarnamos, somos os mesmos, sem tirar nem pôr, só que sem o corpo material. Conforme a experiência demonstra sem margem de dúvida, as condicionantes psicológicas seguem imperturbáveis na vida que se desdobra vibrante além da morte do corpo físico.

Fica por isso a ideia de que todos temos muitas razões para ter esperança. Os véus densos de tristeza e desolação, de infortúnio e deceção são resultado de ações ou inações nossas diante das leis da natureza que regem a nossa evolução sob as bênçãos de Deus, a “inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas” (questão 1 de O Livro dos Espíritos). Conhecer essas mesmas leis e perceber como lidar com elas vai proporcionando uma maior capacidade de realizarmos colheitas mais luminosas desde já na nossa seara interior, cuja sede se situa na consciência. Jesus de Nazaré fala-nos disso na boa nova. Mais tarde ou mais cedo, iremos compreender melhor. O amor, tão incondicional quanto possível, é mesmo a luz do mundo. Examinados os factos, não acha que isto faz sentido?

 

Nota do Autor - Esta análise foi efetuada a partir de um grupo de serviço mediúnico situado nos arredores da cidade do Porto, na região Norte de Portugal, ao longo do ano de 2017. Através de registos recolhidos das manifestações mediúnicas habituais no grupo em que colaborámos regularmente durante vários anos, até 2019, identificaram-se e registaram-se a posteriori, através de um código numérico, os médiuns em causa em cada manifestação, anotando-se caso a caso o perfil masculino ou feminino da entidade espiritual evidenciado no diálogo esclarecedor decorrente do transe mediúnico. O póster “Relação de género entre os Médiuns e os Perfis evidenciados no transe mediúnico”, que expõe este facto, está disponível na internet a partir da internet - clique aqui

 

Jorge Gomes reside na cidade do Porto, em Portugal, onde nasceu e atua na área da imprensa.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita