Mãe querida
Torno a ver, nos meus dias de criança,
O teu regaço, a lamparina acesa,
O pequeno lençol que trago na lembrança,
A oração da manhã e o pão à mesa…
Varro o chão, a fitar-te as mãos escravas,
Afagando o fogão, de momento a momento…
A roupa e o batedouro em que cantavas
Para esquecer o próprio sofrimento…
Depois, era o tinir da caçarola,
Aumentando a despesa no armazém…
Vestias-me de renda para a escola
E nunca me lembrei de ofertar-te um vintém.
Cresci… A mocidade me requesta,
Ante a cidade de qualquer maneira…
Parti… — eu era a rosa para a festa,
Ficaste… — eras a rústica roseira.
De tudo vi na estrada grande e nova,
As flores do prazer, o brilho, a fama,
A malícia dourada e os suplícios da prova
Marcando a pranto e fel os passos de quem ama…
Hoje, volto a buscar-te, mãe querida,
Dá-me de tua paz sem ilusão,
Guarda-me em ti, amor de minha vida,
Alma querida de meu coração.
Do livro Preito de amor, obra
psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.