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por Arleir Bellieny

 

Despertando consciências


O mês de maio traz sempre à lembrança a figura magnânima do professor Eurípedes Barsanulfo (*), nascido no dia do trabalhador.

Durante duas décadas aproximadamente, tive a oportunidade de visitar sua cidade natal (Sacramento-MG), bem como trocar experiências e informações com familiares, amigos e ex-alunos, que conviveram com ele. O motivo deste registro é enfatizar o trabalho de dedicação, respeito e amor, quando se trata de ajudar o próximo em todas as suas necessidades, incondicionalmente.

Em uma dessas visitas, levei comigo aproximadamente cinquenta pessoas, espíritas e simpatizantes, ao culto do Evangelho no lar, na Chácara Triângulo, iniciado por Eurípedes em 1904 e realizado diariamente às nove horas. Na época dirigido por Heigorina Cunha (*), após a leitura do Evangelho, me foi cedida a palavra para versar sobre o tema. Era uma manhã ensolarada onde os pássaros sobrevoavam o interior do salão, com seus sibilos e cantorias, alegrando o ambiente, chamando a atenção dos presentes para esse fato inédito para nós, cariocas, que ali estávamos. A emoção tomou conta dos nossos corações e cérebros, a inspiração nos levou às margens do Tiberíades onde o Mestre Jesus, costumeiramente, subia no barco para suas prédicas junto aos pescadores de almas que ali se reuniam na terceira hora do dia para ouvi-lo.

Ao fim da exposição, notavam-se com clareza lágrimas escorrendo dos olhos pelas faces sorridentes e gratificadas pelo presente recebido naquela manhã. Foi aí que recebi uma das mais belas e profundas lições do Evangelho que jamais esqueci e trago comigo desde então. Após o término do culto, continuamos no salão tomando chá de alfavaca, que tradicionalmente era servido a todos pela Nizinha, sua irmã. Eu me encontrava a aproximadamente uns cinco metros atrás da Heigorina conversando com os animados participantes que me cumprimentavam pela exposição, quando me ocorreu um pensamento olhando para a parte posterior da cabeça dela: “Daria um queijo para saber o que se passa no cérebro de uma médium como Heigorina!”. Não se passaram dois minutos, ela chamou-me para sentar-se perto dela enquanto autografava alguns exemplares do livro citado. Pela maneira delicada e serena do gesto, percebi que algo estava por vir. Na primeira pausa que teve nos cumprimentos e nos abraços, virou-se para mim e disse com sobriedade: “Belliny, assim ela me tratava, o Dr. Bezerra está aqui presente. Ele está pedindo para te dar um recado; está dizendo que tudo que a humanidade precisa saber, as informações já estão no ar; o que faltam são bons médiuns para captá-las”; silenciou por alguns segundos e continuou: “está dizendo também que você já aprendeu a fazer as pessoas chorar com o Evangelho do Nosso Senhor Jesus. Agora, Belliny, está na hora de despertar consciências, e você saberá como fazer isso”. Após uma breve pausa acrescentou: “Ah! não sei se estou entendendo bem, mas, ele está dizendo que os queijos da terra são de fato saborosos, para você degustá-los porque ele já não utiliza mais essas especiarias”. A lição recebida trago comigo na compreensão e no entendimento de que somos tão somente porta-vozes das lições aprendidas. A fonte de luz, de amor e esperança, continua jorrando incessantemente das mãos do Criador, alimentada pelo Mestre Jesus que nos promove a oportunidade de servirmos com abundância e simplicidade. Não há espaço para egos inflados na prática do Consolador prometido por Ele. O trabalhador de boa vontade que se esforça no caminho do bem, quer seja no exercício da profissão escolhida ou nas práticas doutrinárias, firma compromisso, primeiramente consigo mesmo, e por conseguinte, com a grande família espiritual, encarnada ou desencarnada, a quem deverá prestar contas e acertos aqui e alhures.

Vivemos momentos de estímulos à vaidade, de toda sorte. As redes sociais se apresentam a todo momento em velocidade espantosa, oferecendo-nos para nos tornarmos influenciadores de produtos dos mais diversos aos inimagináveis. A identificação com os apelos ao narcisismo e outros tantos ismos tem sido constante. Os cuidados com os compromissos assumidos ainda na erraticidade tornam-se cada vez mais encapsulados nos escaninhos do nosso inconsciente pelos apelos e estímulos externos, obliterando o despertar dos verdadeiros direcionamentos de forma adequada e confortável, favorecendo o cumprimento das etapas que foram previamente propostas pelos programadores das reencarnações, segundo as necessidades de cada qual.

Aprendemos com o Dr. Bezerra (***) que “De posse da instrumentação física, ao contato com os atrativos da matéria, a individualidade deixa-se levar ao sabor das circunstâncias, esquece os projetos de melhoria moral, nega os valores éticos relevantes da vida e busca avidamente os prazeres das sensações, permitindo a emersão das mesmas paixões do passado. Se não logra obter seus intentos, resvala para o despenhadeiro da revolta e do desajuste”.  O Espírito Eurípedes Barsanulfo (****), orientando irmãos em desalinho, assevera: “Logo, porém, que o corpo ensombra a lucidez espiritual, diminuindo-a, os impositivos da matéria passam a predominar no ser em recomeço, não poucas vezes afastando-o do caminho traçado. Eis por que o Espiritismo, representando o retorno de Jesus à Terra através de O Consolador, desempenha a missão sublime de despertar consciências adormecidas, facultando o intercâmbio direto com o mundo de origem, onde se haurem as energias indispensáveis ao cumprimento da tarefa e se dispõe das lembranças para o prosseguimento dos compromissos”.

Podemos reconhecer que a reencarnação seja um constante desafio para quem se propõe espiritualizar espiritualizando-se, apesar dos obstáculos que surgem para embaraçar as linhas a serem seguidas. A Psicologia Transpessoal traz na sua proposta precípua a inclusão do elemento espiritual no olhar, na leitura, na escuta, nas pesquisas e na sua aplicação prática, considerando o indivíduo como um ser biopsicossocial e espiritual: “... Ela também honra as dimensões espirituais da existência e reconhece a profunda necessidade humana de ter experiências transcendentais. Nesse contexto, a pesquisa espiritual parece ser uma atividade humana compreensível”. (*****)


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(*) Fundador do Colégio Allan Kardec, por ordem de Maria de Nazaré. Primeiro colégio espírita do planeta.

(**) Heigorina Cunha, sobrinha consanguínea de Eurípedes, foi médium, poetisa, beletrista, e autora do livro Cidade no Além (IDE), que trouxe a lume a planta baixa da Colônia Espiritual Nosso Lar, avalizada por Chico Xavier.

(***) Palhano Junior, Lamartine, Laudos Espíritas da Loucura – RJ Lachâtre, 1997.

(****) Miranda, Manoel Philomeno de, (espírito) - Tormentos da Obsessão – psicografia Divaldo Franco – Alvorada, 2001.

(*****) Grof, Stanislav – Psicologia do Futuro, 1ª ed. Heresis, 2000.

 
 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita