Quem nos guia?
Questão 459 d’O Livro dos Espíritos:
Os Espíritos influenciam os nossos pensamentos e as
nossas ações?
– A sua influência é maior do que se supõe. Muito
frequentemente são eles que vos dirigem.
A resposta a esta pergunta é assustadora. Sabermos que
“frequentemente” são os espíritos que nos dirigem deve
levantar em nós a questão: Como é que isso acontece?
Os Espíritos, incluindo os obsessores, trabalham através
do pensamento e das energias, onde estão incluídas as
emoções. Eles conseguem “insuflar” pensamentos e emoções
no nosso campo mental e energias envolvendo o nosso
corpo, para que possamos acreditar no que nos é
transmitido, como sendo nosso.
Numa mente distraída, onde trabalham os pensamentos a
sua vontade, surgindo automatizadamente sem que
estejamos conscientes destes, é um campo fértil para
qualquer influência através de pensamentos plantados.
A capacidade de nos dirigirem está ligada à forma como
nós somos dirigidos pelo pensamento. Sei que isso pode
parecer estranho, pois temos vivido com a certeza de que
o pensamento é um resultado de uma vontade nossa, uma
ferramenta nossa.
O pensamento é uma ferramenta nossa que, dado o mau uso
e a falta de consciência, tornou-se o nosso
“escravizador”, trabalhando sem nos apercebermos e
dirigindo o nosso ser.
Existem dois funcionamentos distintos que chamamos a
ambos de pensamento:
1 – O resultado inteligente do cérebro nas atividades
diárias, como o trabalho ou a condução. Para conduzirmos
não necessitamos de pensar, o acto parece automatizado.
É uma ação inteligente, logo tem uma causa inteligente.
O ser, corpo onde se inclui o cérebro, desempenha essa
função com perfeição, ela é silenciosa.
2 – Enquanto conduzimos, nossa mente está longe, a
pensar no que vai fazer, nos problemas que tem, em toda
a novela da vida. Se nos distrairmos muito com ela, até
corremos o risco de ter um acidente. Em quase todas as
actividades, podemos ver os dois movimentos em
funcionamento. Quando lemos um livro, a leitura é
mentalmente silenciosa, quando aparece um pensamento,
este nos distrai. Se temos pensamentos recorrentes,
chamamos de falta de concentração e não temos paz na
tarefa.
Consegue perceber como são dois movimentos diferentes?
Um acontece no presente, enquanto desempenha as tarefas
e é uma inteligência silenciosa, o outro está preocupado
ou a lembrar o que aconteceu ou a imaginar o que vai
acontecer e é extremamente barulhento.
Podemos vê-lo também nas doenças psíquicas, tais como a
depressão. Enquanto a vida decorre a pessoa está presa a
um grupo de pensamentos autodestrutivos, criando essas
perigosas doenças. Desempenha as suas funções sociais,
laborais e familiares, vivendo um mundo interno
aterrorizante.
Estas palavras não o levarão a conhecer essa realidade,
mas poderão abrir uma vontade de tentar conhecer essa
realidade, e a única forma de o fazer é através da
prática: a pessoa tem de ver pelos seus “olhos”.
Experimente este pequeno exercício:
- Feche seus olhos após ler o exercício, e escute todos
os sons atentamente, como se fossem uma música, ou seja,
não dê atenção a um determinado som, pois isso criará a
concentração, que é um túnel energético entre si e algo.
Apenas escute todos os sons, vai ver que tem a sensação
de que está recostado e os sons chegam a si sem qualquer
esforço. Vai sentir uma paz enorme. Perceba que os
pensamentos apenas surgem, sem que haja uma intenção de
pensar antes. Perceba que alguns até trazem um teor
inesperado. Quando este surgir, pergunte a si próprio se
foi você que criou esse pensamento?
Com este exercício, podemos perceber várias coisas muito
importantes:
- Quando existe o silencio mental, sem a actividade do
pensamento, existe a consciência que acompanha este
silêncio. Uma forma que raramente estamos e que Jesus
nos aconselha a procurar, quando nos diz para
recorrermos aos nossos aposentos e em silêncio, que
nosso Pai em silêncio escuta. Esta consciência está no
princípio do ser e é o que sobra quanto a mente com
todos os seus movimentos e problemas para.
- Quando estamos em consciência ou silêncio, percebemos
o pensamento a surgir. O mais interessante é que
percebemos que esse surge sem qualquer intenção de nossa
parte e com os mais diversos conteúdos. Aqueles a que
nos apegamos levam-nos com eles, os outros, aos quais
não nos apegamos, passam como se fossem bolas
energéticas com conteúdo.
- Podemos ver na prática deste exercício o “Vigiai e
Orai”. A vigia é o estado de consciência, a oração deve
aparecer quando somos levados e envolvidos pelos
pensamentos aos quais somos apegados.
Em uma passagem do Evangelho, foi-nos relatado que Jesus
subia ao monte para ensinar seus discípulos a vigiar.
Sem a prática deste tipo de exercícios, não podemos
perceber quanto somos escravos do pensamento:
E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará".
Eles lhe responderam: "Somos descendentes de Abraão e
nunca fomos escravos de ninguém. Como você pode dizer
que seremos livres?"
Jesus respondeu: "Digo a vocês a verdade: Todo aquele
que vive pecando é escravo do pecado. João
8:32 a 34
O pecado nasce no pensamento, que é seu senhor.
Dirigidos por esta forma de funcionamento automatizada,
podemos ter a perceção no exercício acima descrito e
entender por que facilmente caímos nas mãos dos
obsessores, sendo dirigidos por estes.
Por que me refiro apenas aos obsessores?
Os Espíritos bons não nos dirigem, aconselham
respeitando o nosso livre-arbítrio; ao contrário, os
obsessores querem-nos dirigir para que tomemos o caminho
que lhes apraz.
A melhor forma de comandarmos a nossa vida, sem
corrermos o risco de sermos dirigidos é permanecendo em
consciência. Com a prática daquele exercício podemos
transportar aquela forma de estar para o nosso dia a
dia.
Com isto não quero dizer que devemos estar
constantemente em atenção aos sons, mas para estamos em
atenção ao que vamos fazendo, ou seja, ao presente.
Quando estavam atentos aos sons estavam atentos ao
presente. Qualquer atividade que estejamos a fazer, como
lavar os dentes ou a louça, vermos televisão,
trabalharmos, podemos estar atentos ao presente. Ao
estarmos atentos ao presente, estamos atentos à mente,
em estado de consciência, o que nos leva a perceber
qualquer movimento de nossa mente.
Não desista desta enorme tarefa, a sua própria mente e
os obsessores farão um trabalho muito inteligente para
que desista, eles querem estar à vontade, comandando o
seu ser; por isso Jesus nos diz que somos escravos.
Estamos há muitas vidas, se não em todas, habituados a
que trabalhemos com o pensamento a nos dirigir, por isso
ser tão difícil manter a consciência e fácil voltarmos
aos velhos hábitos.
(Próximo
tema de seguimento: “A consciência”.)
O autor reside na cidade de Lubango,
Angola.
|