Artigos

por Bruno Abreu

 

Quem nos guia?


Questão 459 d’O Livro dos Espíritos:

Os Espíritos influenciam os nossos pensamentos e as nossas ações?

– A sua influência é maior do que se supõe. Muito frequentemente são eles que vos dirigem.

A resposta a esta pergunta é assustadora. Sabermos que “frequentemente” são os espíritos que nos dirigem deve levantar em nós a questão: Como é que isso acontece?

Os Espíritos, incluindo os obsessores, trabalham através do pensamento e das energias, onde estão incluídas as emoções. Eles conseguem “insuflar” pensamentos e emoções no nosso campo mental e energias envolvendo o nosso corpo, para que possamos acreditar no que nos é transmitido, como sendo nosso.

Numa mente distraída, onde trabalham os pensamentos a sua vontade, surgindo automatizadamente sem que estejamos conscientes destes, é um campo fértil para qualquer influência através de pensamentos plantados.

A capacidade de nos dirigirem está ligada à forma como nós somos dirigidos pelo pensamento. Sei que isso pode parecer estranho, pois temos vivido com a certeza de que o pensamento é um resultado de uma vontade nossa, uma ferramenta nossa.

O pensamento é uma ferramenta nossa que, dado o mau uso e a falta de consciência, tornou-se o nosso “escravizador”, trabalhando sem nos apercebermos e dirigindo o nosso ser.

Existem dois funcionamentos distintos que chamamos a ambos de pensamento:

1 – O resultado inteligente do cérebro nas atividades diárias, como o trabalho ou a condução. Para conduzirmos não necessitamos de pensar, o acto parece automatizado. É uma ação inteligente, logo tem uma causa inteligente. O ser, corpo onde se inclui o cérebro, desempenha essa função com perfeição, ela é silenciosa.

2 – Enquanto conduzimos, nossa mente está longe, a pensar no que vai fazer, nos problemas que tem, em toda a novela da vida. Se nos distrairmos muito com ela, até corremos o risco de ter um acidente. Em quase todas as actividades, podemos ver os dois movimentos em funcionamento. Quando lemos um livro, a leitura é mentalmente silenciosa, quando aparece um pensamento, este nos distrai. Se temos pensamentos recorrentes, chamamos de falta de concentração e não temos paz na tarefa.

Consegue perceber como são dois movimentos diferentes?

Um acontece no presente, enquanto desempenha as tarefas e é uma inteligência silenciosa, o outro está preocupado ou a lembrar o que aconteceu ou a imaginar o que vai acontecer e é extremamente barulhento.

Podemos vê-lo também nas doenças psíquicas, tais como a depressão. Enquanto a vida decorre a pessoa está presa a um grupo de pensamentos autodestrutivos, criando essas perigosas doenças. Desempenha as suas funções sociais, laborais e familiares, vivendo um mundo interno aterrorizante.

Estas palavras não o levarão a conhecer essa realidade, mas poderão abrir uma vontade de tentar conhecer essa realidade, e a única forma de o fazer é através da prática: a pessoa tem de ver pelos seus “olhos”.

Experimente este pequeno exercício:

- Feche seus olhos após ler o exercício, e escute todos os sons atentamente, como se fossem uma música, ou seja, não dê atenção a um determinado som, pois isso criará a concentração, que é um túnel energético entre si e algo. Apenas escute todos os sons, vai ver que tem a sensação de que está recostado e os sons chegam a si sem qualquer esforço. Vai sentir uma paz enorme. Perceba que os pensamentos apenas surgem, sem que haja uma intenção de pensar antes. Perceba que alguns até trazem um teor inesperado. Quando este surgir, pergunte a si próprio se foi você que criou esse pensamento?

Com este exercício, podemos perceber várias coisas muito importantes:

- Quando existe o silencio mental, sem a actividade do pensamento, existe a consciência que acompanha este silêncio. Uma forma que raramente estamos e que Jesus nos aconselha a procurar, quando nos diz para recorrermos aos nossos aposentos e em silêncio, que nosso Pai em silêncio escuta. Esta consciência está no princípio do ser e é o que sobra quanto a mente com todos os seus movimentos e problemas para.

- Quando estamos em consciência ou silêncio, percebemos o pensamento a surgir. O mais interessante é que percebemos que esse surge sem qualquer intenção de nossa parte e com os mais diversos conteúdos. Aqueles a que nos apegamos levam-nos com eles, os outros, aos quais não nos apegamos, passam como se fossem bolas energéticas com conteúdo.

- Podemos ver na prática deste exercício o “Vigiai e Orai”. A vigia é o estado de consciência, a oração deve aparecer quando somos levados e envolvidos pelos pensamentos aos quais somos apegados.

Em uma passagem do Evangelho, foi-nos relatado que Jesus subia ao monte para ensinar seus discípulos a vigiar. Sem a prática deste tipo de exercícios, não podemos perceber quanto somos escravos do pensamento:

E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará".

Eles lhe responderam: "Somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém. Como você pode dizer que seremos livres?"

Jesus respondeu: "Digo a vocês a verdade: Todo aquele que vive pecando é escravo do pecado. João 8:32 a 34

O pecado nasce no pensamento, que é seu senhor. Dirigidos por esta forma de funcionamento automatizada, podemos ter a perceção no exercício acima descrito e entender por que facilmente caímos nas mãos dos obsessores, sendo dirigidos por estes.

Por que me refiro apenas aos obsessores?

Os Espíritos bons não nos dirigem, aconselham respeitando o nosso livre-arbítrio; ao contrário, os obsessores querem-nos dirigir para que tomemos o caminho que lhes apraz.

A melhor forma de comandarmos a nossa vida, sem corrermos o risco de sermos dirigidos é permanecendo em consciência. Com a prática daquele exercício podemos transportar aquela forma de estar para o nosso dia a dia.

Com isto não quero dizer que devemos estar constantemente em atenção aos sons, mas para estamos em atenção ao que vamos fazendo, ou seja, ao presente.

Quando estavam atentos aos sons estavam atentos ao presente. Qualquer atividade que estejamos a fazer, como lavar os dentes ou a louça, vermos televisão, trabalharmos, podemos estar atentos ao presente. Ao estarmos atentos ao presente, estamos atentos à mente, em estado de consciência, o que nos leva a perceber qualquer movimento de nossa mente.

Não desista desta enorme tarefa, a sua própria mente e os obsessores farão um trabalho muito inteligente para que desista, eles querem estar à vontade, comandando o seu ser; por isso Jesus nos diz que somos escravos.

Estamos há muitas vidas, se não em todas, habituados a que trabalhemos com o pensamento a nos dirigir, por isso ser tão difícil manter a consciência e fácil voltarmos aos velhos hábitos.


(Próximo tema de seguimento: “A consciência”.)


O autor reside na cidade de Lubango, Angola.
 


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita