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por Eder Andrade

 

As lembranças de dor e tristeza


No mundo moderno em que estamos vivendo, nos deparamos diariamente com situações que nos reportam ao nosso passado, desta e de outras vidas. Estas lembranças às vezes geram um desconforto, uma tristeza, pois nem sempre conseguimos voltar no tempo para corrigir o erro que cometemos ou pedir perdão àqueles a quem ofendemos.

A ideia de ofensa é muito delicada, pois algo que no passado achávamos normal, hoje consideramos um abuso ou uma atitude imprudente da nossa parte. Buscando compreender o contexto, em que nos encontrávamos e que hoje estamos tentando ressignificar para conseguir uma melhora.

Lamentar os erros cometidos não vai consertar as coisas erradas que fizemos, muito pelo contrário; podem nos abater mais ainda, através de uma melancolia, uma depressão, acentuando o sentimento de culpa.

Emmanuel no livro Pão Nosso nos deixa a seguinte mensagem:

“Se a criatura refletisse mais sensatamente reconheceria o conteúdo de serviço que os momentos de cada dia lhe podem oferecer e saberia vigiar, com acentuado valor, os patrimônios próprios. Indubitável que as paisagens se modificarão incessantemente, compelindo-nos a enfrentar surpresas desagradáveis, decorrentes de nossa atitude inadequada, na alegria ou na dor; contudo, representa impositivo da lei a nossa obrigação de prosseguir diariamente, na direção do bem”.1

A terapia moderna, assim como a medicina holística, auxilia com dinâmicas, onde vamos ressignificando a nossa vida, através de uma releitura dos acontecimentos.

A imaturidade do nosso senso moral diminui o peso das atitudes erradas que um dia fizemos. Até o dado momento onde percebemos que já tínhamos algum conhecimento para não cometer certos deslizes ou magoar o nosso semelhante com atitudes e palavras não muito apropriadas. Como se a outra pessoa não tivesse peso de importância em nossa vida.

Fica difícil retornar 30 ou 40 anos no passado para pedir perdão ou desculpas, talvez nem faça mais sentido no momento presente para a outra pessoa. Nós é que somos portadores de um registro de lembrança, que nos causa desconforto. Precisamos aprender com os próprios erros e não os repetir em novas situações que venham acontecer em momentos futuros.

Deus, em sua infinita bondade e misericórdia, não permitiria que duas pessoas se aproximassem se não fosse para uma reciprocidade de correção comportamental e de aprendizagem, enquanto Espíritos imortais. Pela lei da atração vibratória, Espíritos que vibram na mesma sintonia se atraem para uma aprendizagem mútua. Ensinamos e aprendemos ao mesmo tempo, uns com os outros.

No livro Memórias de um Suicida, psicografado por Yvonne do Amaral Pereira, conta-se a história do escritor português Camilo Cândido Botelho, que desencarnou por cometer suicídio. Ele era um homem erudito para sua época, porém lhe faltava humildade para reconhecer as limitações e dificuldades que uma cegueira inesperada aos 65 anos lhe causou.2

Nos bastidores da alma ficam ocultos os motivos que levam a pessoa a sucumbir diante de situações que poderiam ser evitadas. O atraso moral, a ignorância e a inveja influenciam na grande maioria das vezes as decisões. Poucos são aqueles que conseguem perceber a escolha imprudente, em tempo, a ponto de evitar um desatino, que pode lhe exigir um tempo muito longo e sacrifício para reparação do mal causado.

Existem histórias tão complicadas, que o espírito infrator precisa às vezes de duas ou três existências físicas para reparar o dano causado às pessoas que foram suas vítimas.

O sentimento de culpa que paira na sociedade moderna é muito mais comum do que possamos imaginar. Boa parte dos atuais encarnados são portadores de emoções adoecidas por atitudes equivocadas, que refletem escolhas imprudentes em um dado momento passado, onde os desacertos não eram muito diferentes dos que ocorrem nos dias atuais.

“A moralização da humanidade é um processo lento e gradual.”

Todos temos uma conta para acertar com a nossa consciência, que reflete uma decisão tomada em um passado distante, desta encarnação ou de outras vidas.

Em O Livro dos Espíritos encontramos a resposta para uma pergunta que sempre fazemos:

Qual o objetivo da encarnação dos EspíritosDeus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão.3

Quando nos perguntamos qual o motivo de precisarmos viver em um mundo de provas e expiações, a resposta sempre estará relacionada à necessidade de autossuperação das nossas dificuldades.

Os sentimentos adoecidos são responsáveis pela dor moral de que quase todos somos portadores e que na grande maioria dos casos se apresentam sob forma de uma doença, como melancolia, tristeza ou depressão.

“Nossas obras ficam conosco. Somos herdeiros de nós mesmos.” (André Luiz)

Não tenhamos dúvida de que não somos melhores do que as outras pessoas e estamos neste mundo para aprender e evoluir. Os erros refletem o nível evolutivo do espírito, assim como seus sentimentos de egoísmo e imaturidade. O sofrimento será proporcional à dificuldade de autoaceitação da sua realidade.

A reforma íntima poderá representar o primeiro grande passo para um acerto de contas com nossa consciência, assim como uma mudança de conduta para com os semelhantes.

“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”. (Chico Xavier)

 

Referências:

1)  Xavier, Francisco Cândido; Pão Nosso; Cap. 8 - Ansiedades; FEB.

2)  Pereira, Yvonne do Amaral; Memórias de um Suicida3a parte - A Cidade Universitária; V – A causa de minha cegueira no século XIX; FEB.

3)  Kardec, Allan; O Livro dos Espíritos, questão 132.

4)  Wikipédia (A Enciclopédia Livre).
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita