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por Marcus De Mario

 

O que deu errado?


Um olhar sobre as crianças e os jovens da atualidade faz acender um sinal de alerta. Vemos na escola e na sociedade que muitas crianças e muitos jovens olham o outro como um estranho, e não como um ser humano igual, ou seja, com os mesmos direitos, garantindo as diferenças. Não podemos ser estranhos uns aos outros, pois somos todos seres humanos, pessoas, gente e, numa perspectiva transcendente, espíritos. Precisamos trabalhar, na família e na escola, a perspectiva de comunidade, que representa pessoas juntas com objetivos partilhados, trabalhando em conjunto para o bem de todos. Quando, na família, as pessoas não se encontram, não há diálogo, quando a comunicação é repleta de ruídos, essa família deixou de ser uma comunidade para ser um agrupamento de pessoas que não mais partilham os mesmos objetivos, não trabalham mais para o bem comum. Isso também acontece na escola, pois muitas deixaram de ser comunidades escolares para serem agrupamentos escolares.

Na comunidade temos convivência com objetivos comuns, relações de reciprocidade e mecanismos de autopreservação. Existe o conflito, mas este não se torna confronto, que é típico de um agrupamento de pessoas. Temos que reaprender a viver com o outro, que é a ideia da cooperação, e também reaprender a viver para o outro, que é a ideia da generosidade. Como pais de filhos que parecem não estar de bem com a vida, que perderam o sentido de comunidade, temos que nos perguntar: o que deu errado?

No processo histórico do progresso humano, até o final do século 18 havia a ideia que para melhorar a sociedade é preciso melhorar os indivíduos. A partir do século 19, e acentuando-se no século 20, houve uma inversão dessa crença, passando-se a acreditar que é preciso melhorar a sociedade para melhorar os indivíduos. Hoje assistimos esforços na segurança pública, nos benefícios sociais, na energia limpa, nos planos econômicos, tudo voltado para a sociedade, e não especificamente para os indivíduos, quando estes necessitam não de planos gerais, mas de desenvolverem as virtudes, de saberem viver em termos éticos, de respeito e solidariedade para com o outro. Um bom exemplo dessa mudança de rota é o movimento hippie, acontecido nos anos 1960, que em sua base tinha um propósito generoso, mas que guardava a ideia que não era preciso fazer um trabalho de aperfeiçoamento individual. Fazia-se parte do grupo, falava-se em paz e amor, e estava tudo bem. Essa geração, por não estar focada no indivíduo, não soube educar os filhos (com suas exceções, evidentemente). Houve um desleixo para com a formação moral, para com os valores humanos, na educação dos filhos; não houve articulação entre o coletivo e o individual, entre outros fatores, e isso vem repercutindo geração após geração.

Voltemos à pergunta: o que deu errado? Quando deixamos a formação moral dos indivíduos de lado; quando substituímos a ética pelo gozo imediato; quando relegamos a plano secundário a espiritualidade pessoal; quando fazemos da educação mero instrumento para aquisição de conhecimentos; não temos como nos espantar que a corrupção, a violência, o desleixo, a indiferença, a insensibilidade, o egoísmo, numa palavra, os vícios de toda ordem, tenham tomado conta da sociedade. Hoje vive-se pelo sensualismo, pela emoção, pelo poder, pelo dinheiro, por tudo aquilo que nos vincula cada vez mais à matéria, considerando-se a humanização e a espiritualização como temas da religião, para quem ainda acredita nessas coisas, como se diz, isso porque a religião, em grande parte, está desvirtuada de suas finalidades.

Diante de tudo isso, pergunta-se: e o Espiritismo, como fica e o que pode fazer? Não temos dúvida que o Espiritismo, como culminância do Cristianismo, abrindo o horizonte espiritual do ser humano, possui todos os elementos para trazer de volta o trabalho educacional de transformar os indivíduos para transformar a sociedade. Isso está apontado com toda clareza pelos Espíritos Superiores e por Allan Kardec já em O Livro dos Espíritos, quando sancionam o único caminho com força bastante para reversão do quadro atual: a educação moral.

Educação moral no sentido de desenvolver o potencial divino de cada indivíduo, que não podemos esquecer tratar-se de um espírito reencarnado em evolução; no sentido de combater suas más tendências de caráter; no sentido de religá-lo a Deus através da prática do amor e da caridade; no sentido de direcionar o uso da inteligência para a promoção do bem para todos. Educação moral no sentido de aliar a fé com a razão; no sentido de dar a cada indivíduo uma razão superior para viver.

Erramos sim, no que fizemos e estamos fazendo da educação, que deve ser nossa prioridade. Sendo o Espiritismo doutrina de educação, da educação moral que aqui tratamos, do espírito imortal que somos, sua aplicação trará humanização e espiritualização às novas gerações, assim como levará todos os indivíduos a promoverem a autoeducação, continuamente. Então, como consequência, assistiremos paulatinamente o raiar de uma nova sociedade, de um novo mundo, onde o individualismo egoísta não terá mais vez, e o sentido de comunidade fará mais sentido do que nunca antes visto na história da Humanidade.


Marcus De Mario é escritor, educador, palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo online de estudo espírita; edita o canal Orientação Espírita no YouTube; possui mais de 35 livros publicados.


 

 

     
     

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