O
que deu errado?
Um olhar sobre
as crianças e os
jovens da
atualidade faz
acender um sinal
de alerta. Vemos
na escola e na
sociedade que
muitas crianças
e muitos jovens
olham o outro
como um
estranho, e não
como um ser
humano igual, ou
seja, com os
mesmos direitos,
garantindo as
diferenças. Não
podemos ser
estranhos uns
aos outros, pois
somos todos
seres humanos,
pessoas, gente
e, numa
perspectiva
transcendente,
espíritos.
Precisamos
trabalhar, na
família e na
escola, a
perspectiva de
comunidade, que
representa
pessoas juntas
com objetivos
partilhados,
trabalhando em
conjunto para o
bem de todos.
Quando, na
família, as
pessoas não se
encontram, não
há diálogo,
quando a
comunicação é
repleta de
ruídos, essa
família deixou
de ser uma
comunidade para
ser um
agrupamento de
pessoas que não
mais partilham
os mesmos
objetivos, não
trabalham mais
para o bem
comum. Isso
também acontece
na escola, pois
muitas deixaram
de ser
comunidades
escolares para
serem
agrupamentos
escolares.
Na comunidade
temos
convivência com
objetivos
comuns, relações
de reciprocidade
e mecanismos de
autopreservação.
Existe o
conflito, mas
este não se
torna confronto,
que é típico de
um agrupamento
de pessoas.
Temos que
reaprender a
viver com o
outro, que é a
ideia da
cooperação, e
também
reaprender a
viver para o
outro, que é a
ideia da
generosidade.
Como pais de
filhos que
parecem não
estar de bem com
a vida, que
perderam o
sentido de
comunidade,
temos que nos
perguntar: o que
deu errado?
No processo
histórico do
progresso
humano, até o
final do século
18 havia a ideia
que para
melhorar a
sociedade é
preciso melhorar
os indivíduos. A
partir do século
19, e
acentuando-se no
século 20, houve
uma inversão
dessa crença,
passando-se a
acreditar que é
preciso melhorar
a sociedade para
melhorar os
indivíduos. Hoje
assistimos
esforços na
segurança
pública, nos
benefícios
sociais, na
energia limpa,
nos planos
econômicos, tudo
voltado para a
sociedade, e não
especificamente
para os
indivíduos,
quando estes
necessitam não
de planos
gerais, mas de
desenvolverem as
virtudes, de
saberem viver em
termos éticos,
de respeito e
solidariedade
para com o
outro. Um bom
exemplo dessa
mudança de rota
é o movimento
hippie,
acontecido nos
anos 1960, que
em sua base
tinha um
propósito
generoso, mas
que guardava a
ideia que não
era preciso
fazer um
trabalho de
aperfeiçoamento
individual.
Fazia-se parte
do grupo,
falava-se em paz
e amor, e estava
tudo bem. Essa
geração, por não
estar focada no
indivíduo, não
soube educar os
filhos (com suas
exceções,
evidentemente).
Houve um
desleixo para
com a formação
moral, para com
os valores
humanos, na
educação dos
filhos; não
houve
articulação
entre o coletivo
e o individual,
entre outros
fatores, e isso
vem repercutindo
geração após
geração.
Voltemos à
pergunta: o que
deu errado?
Quando deixamos
a formação moral
dos indivíduos
de lado; quando
substituímos a
ética pelo gozo
imediato; quando
relegamos a
plano secundário
a
espiritualidade
pessoal; quando
fazemos da
educação mero
instrumento para
aquisição de
conhecimentos;
não temos como
nos espantar que
a corrupção, a
violência, o
desleixo, a
indiferença, a
insensibilidade,
o egoísmo, numa
palavra, os
vícios de toda
ordem, tenham
tomado conta da
sociedade. Hoje
vive-se pelo
sensualismo,
pela emoção,
pelo poder, pelo
dinheiro, por
tudo aquilo que
nos vincula cada
vez mais à
matéria,
considerando-se
a humanização e
a
espiritualização
como temas da
religião, para
quem ainda
acredita nessas
coisas, como se
diz, isso porque
a religião, em
grande parte,
está desvirtuada
de suas
finalidades.
Diante de tudo
isso,
pergunta-se: e o
Espiritismo,
como fica e o
que pode fazer?
Não temos dúvida
que o
Espiritismo,
como culminância
do Cristianismo,
abrindo o
horizonte
espiritual do
ser humano,
possui todos os
elementos para
trazer de volta
o trabalho
educacional de
transformar os
indivíduos para
transformar a
sociedade. Isso
está apontado
com toda clareza
pelos Espíritos
Superiores e por
Allan Kardec já
em O Livro
dos Espíritos,
quando sancionam
o único caminho
com força
bastante para
reversão do
quadro atual: a
educação moral.
Educação moral
no sentido de
desenvolver o
potencial divino
de cada
indivíduo, que
não podemos
esquecer
tratar-se de um
espírito
reencarnado em
evolução; no
sentido de
combater suas
más tendências
de caráter; no
sentido de
religá-lo a Deus
através da
prática do amor
e da caridade;
no sentido de
direcionar o uso
da inteligência
para a promoção
do bem para
todos. Educação
moral no sentido
de aliar a fé
com a razão; no
sentido de dar a
cada indivíduo
uma razão
superior para
viver.
Erramos sim, no
que fizemos e
estamos fazendo
da educação, que
deve ser nossa
prioridade.
Sendo o
Espiritismo
doutrina de
educação, da
educação moral
que aqui
tratamos, do
espírito imortal
que somos, sua
aplicação trará
humanização e
espiritualização
às novas
gerações, assim
como levará
todos os
indivíduos a
promoverem a
autoeducação,
continuamente.
Então, como
consequência,
assistiremos
paulatinamente o
raiar de uma
nova sociedade,
de um novo
mundo, onde o
individualismo
egoísta não terá
mais vez, e o
sentido de
comunidade fará
mais sentido do
que nunca antes
visto na
história da
Humanidade.
Marcus De Mario
é escritor,
educador,
palestrante;
coordena o Seara
de Luz, grupo
online de estudo
espírita; edita
o canal
Orientação
Espírita no
YouTube; possui
mais de 35
livros
publicados.