Como
os Espíritos obsessores passaram a ser conhecidos? O que levou ao
descobrimento dessa causa de severos tormentos espirituais?
“A
mediunidade. Foi pela mediunidade que os inimigos ocultos traíram sua
presença. Ela fez para eles o que o microscópio fez para os
infinitamente pequenos: revelou todo um mundo”. (grifos
meus)
O
Espiritismo atraiu os maus Espíritos?
“O
Espiritismo não atraiu os maus Espíritos: descobriu-os e forneceu os
meios de lhes paralisar a ação e, consequentemente, os afastar. Ele não
trouxe o mal, pois este sempre existiu. Ao contrário, trouxe o remédio
ao mal, mostrando-lhe as causas. Uma vez reconhecida a ação do mundo
invisível, ter-se-ia a chave de uma porção de fenômenos incompreendidos
e a ciência, enriquecida com esta nova lei, verá novos horizontes
abertos à sua frente. Quando lá chegará? Quando não mais professar o
materialismo, pois este lhe detém o avanço, com barreiras
intransponíveis”. (grifos
meus)
Kardec
levanta uma questão que em meios espiritualistas diversos atormenta
muitos companheiros que enfrentam processos obsessivos mais graves.
Analisemos:
O
Espírito Protetor (que está atuando no tratamento da obsessão) poderia
ser menos poderoso do que o Espírito Obsessor?
“...figuremos um médium envolvido e penetrado do fluido perispiritual de
um mau Espírito. Para que o do bom possa agir sobre o médium é
necessário que penetre esse envoltório e sabe-se que dificilmente a luz
penetra um nevoeiro espesso. Conforme o grau da obsessão, o nevoeiro
será permanente, tenaz ou intermitente e, consequentemente, mais ou
menos fácil de dissipar.
“Não
é o bom Espírito que é mais fraco: é o médium que não é bastante forte
para livrar-se do manto que sobre si foi lançado, para se desembaraçar
dos braços que o apertam com o que – é bom dizer - por vezes se compraz.
Compreende-se que, neste caso, o bom Espírito não possa dominar, pois o
outro é preferido. Admitamos, agora, o desejo de se desembaraçar desse
envoltório fluídico, de que o seu se acha penetrado, como uma vestimenta
penetrada de umidade: não bastará o desejo e nem sempre a vontade é
suficiente.” (grifos
meus)
Kardec
discute a ação dos Espíritos protetores, a qual, por vezes, a nosso ver,
pode parecer muito sutil ou excessivamente lenta e gradual para o
tratamento dos casos graves. Não seria mais interessante uma ação mais
intensa e rápida? Em outras palavras, perguntaríamos:
Por
que os Espíritos superiores não forçam a retirada dos Espíritos
obsessores do contato com os Espíritos obsidiados?
“Sem
dúvida o podem e, por vezes, o fazem. Mas, permitindo a luta, também
deixam o mérito da vitória. Se deixam se debatendo pessoas de mérito
a certos respeitos, é para provar sua perseverança e fazer que adquiram
“mais força” no bem. É para elas uma espécie de “ginástica moral”. (grifos
meus)
Kardec
comenta sobre a ineficácia de fórmulas exteriores e a necessidade de
“fortalecimento espiritual”. Acompanhemos o pensamento kardequiano:
“...certas pessoas prefeririam outra receita mais fácil para expulsar os
Espíritos: algumas palavras a pronunciar ou sinais a fazer, por exemplo,
o que seria mais cômodo do que corrigir os próprios defeitos.
Lamentamos, mas não conhecemos processo mais eficaz para “vencer um
inimigo do que ser mais forte do que ele”. Quando estamos doentes, temos
que nos resignar a tomar remédios, por mais amargos que sejam. Mas, se
sente bem e como se fica forte! Temos que nos persuadir de que, para
alcançar tal objetivo, não há palavras sacramentais, nem fórmulas, nem
talismãs, nem sinais materiais quaisquer. Os maus Espíritos se riem e,
às vezes, gostam de indicar alguns, que dizem infalíveis, para melhor
conquistar a confiança daqueles de quem abusam, porque, então, estes,
confiantes na virtude do processo, entregam-se sem medo”. (grifos
meus)
Sobre a necessidade de autodomínio, vontade e prece para
superar o processo obsessivo. Analisemos a discussão kardequiana:
“Antes
de esperar dominar o mau Espírito, é preciso dominar-se a si mesmo. De
todos os meios para adquirir a força de o conseguir, o mais eficaz é a
vontade, secundada pela prece, entendido a prece de coração e não
aquelas nas quais a boca participa mais que o pensamento. É
necessário pedir a seu anjo de guarda e aos bons Espíritos que nos
assistam na luta. Mas não basta lhes pedir que expulsem o Espírito: é
necessário lembrar-se da máxima: “Ajuda-te, e o céu te ajudará”, e lhes
pedir, sobretudo, a força que nos falta para vencer nossas más
inclinações, que para nós são piores que os maus Espíritos, pois são
essas inclinações que os atraem, como a podridão atrai as aves de rapina.
Orando também pelo Espírito obsessor, pagamos com o bem pelo mal,
mostramo-nos melhores que ele, o que já é uma superioridade. Com a
perseverança acaba-se, na maioria dos casos, por conduzi-lo a melhores
sentimentos, transformando o obsessor em amigo reconhecido”. (grifos
meus)
Kardec
esclarece que a prece, a transformação moral e a paciência para
tolerar tais presenças espirituais (espíritos obsessores) são
fundamentais para resistir à influência negativa e até mesmo eliminá-la
definitivamente. Também frisa, uma vez mais, a ineficácia de fórmulas
exteriores. Vejamos:
“Em
resumo, a prece fervorosa e os esforços sérios por se melhorar são os
únicos meios de afastar os maus Espíritos, que reconhecem como
senhores aqueles que praticam o bem, ao passo que as fórmulas lhes
provocam o riso. A cólera e a impaciência os excitam. É preciso
cansá-los, mostrando-se mais pacientes”. (grifos
meus)
O
Codificador do Espiritismo também esclarece sobre a maior
complexidade do tratamento desobsessivo em casos mais graves de
obsessão, tais como a subjugação, a qual requer auxílio magnético de
outras pessoas, isto é, de passistas e/ou magnetizadores. Ele,
igualmente, destaca a necessidade da chamada “autoridade moral”, ou
seja, de um nível de espiritualização razoável por parte do agente
responsável pela terapia desobsessiva. Analisemos o texto kardequiano:
“...a
subjugação chega a ponto de paralisar a vontade do obsidiado e que deste
não se pode esperar nenhum concurso valioso. É sobretudo então que a
intervenção de um terceiro se torna necessária, quer pela prece quer
pela ação magnética. Mas o poder dessa intervenção também depende do
ascendente moral que o interventor possa ter sobre os Espíritos.
Porque se este não valer mais, sua ação será estéril”. (grifos
meus)
Em
seguida, Allan Kardec esclarece sobre o mecanismo de ação fluídica da
ação magnética (que poderíamos identificar no “Passe Espírita”) no
auxílio ao obsidiado. Vale destacar que Kardec já frisava o efeito
no corpo físico da ação magnética. Segue a explicação:
“...a
ação magnética terá por efeito penetrar o fluido do obsidiado por um
fluido melhor e desprender o fluido do Espírito mau. Ao operar, deve
o magnetizador ter o duplo objetivo de opor uma força moral a outra
força moral, e produzir sobre o paciente uma espécie de reação química,
para usar uma comparação material, expulsando um fluido por outro
fluido. Assim, não só opera um desprendimento salutar, mas dá força
aos órgãos enfraquecidos por uma longa e, por vezes, vigorosa dominação.
Aliás, compreende-se que o poder da ação fluídica não só está na
razão da força de vontade, mas, sobretudo da qualidade do fluido
introduzido e, conforme dissemos, tal qualidade depende da instrução e
das qualidades morais do magnetizador. (grifos
meus)
Kardec
também destaca a diferença de um processo magnético ordinário, ou seja,
uma troca fluídica espontânea que ocorre no dia-a-dia, para uma ação
magnética espírita (Passe espírita versus magnetismo espontâneo).
Observemos o texto:
“...um magnetizador comum, que agisse maquinalmente para magnetizar pura
e simplesmente, produziria pouco ou nenhum efeito. É de toda
necessidade um magnetizador “espírita”, que age com conhecimento de
causa, com a intenção de produzir, não o sonambulismo ou a cura
orgânica, mas os efeitos que acabamos de descrever”. (grifos
meus)
Kardec
também destaca a diferença no tratamento do subjugado para o
tratamento do obsidiado simples, uma vez que o subjugado não age
conscientemente para sair da situação de assédio espiritual, enquanto o
obsidiado simples age juntamente com o magnetizador espírita para
conseguir a cura. Portanto, trata-se de duas vontades somadas e não
apenas uma. Leiamos:
“...é evidente que uma ação magnética dirigida neste sentido não deixa
de ser útil nos casos de obsessão ordinária, porque então se o
magnetizador for secundado pela vontade do obsidiado, o Espírito será
combatido por dois adversários, em vez de por um só”. (Grifos
meus)
Sobre a
auto-obsessão, ao final do artigo, Allan Kardec afirma:
“Releva dizer ainda que muitas vezes se responsabilizam os Espíritos
estranhos por maldades de que não são responsáveis. Certos estados
mórbidos e certas aberrações, que são atribuídas a uma causa oculta,
são, por vezes, devidas exclusivamente ao Espírito do indivíduo. As
contrariedades frequentemente concentradas em si próprio, os sofrimentos
amorosos, principalmente, têm levado ao cometimento de muitos atos
excêntricos, que erradamente são levados à conta de obsessão. Muitas
vezes a criatura é seu próprio obsessor”. (grifos
meus)
Kardec
também esclarece que “pessoas de mérito” também sofrem obsessão. Vejamos:
“...certas obsessões tenazes, sobretudo de pessoas de mérito, por
vezes fazem parte das provas a que se acham submetidas. Por vezes
acontece mesmo que a obsessão, quando simples, seja uma tarefa imposta
ao obsidiado, que deve trabalhar para melhorar o obsessor, como um pai a
um filho vicioso”. (grifos
meus)
Considerando a amplitude de assuntos e a profundidade da abordagem,
destacamos a necessidade da leitura, na íntegra, dos artigos de Allan
Kardec sobre os chamados “possessos de Morzine”, abrangendo não somente
os dois textos presentemente analisados, que são as publicações de 1862,
como aqueles de 1863.
Referências bibliográficas:
Kardec,
A. A Obsessão – Origem, sintomas e curas [Tradução de Wallace
Leal V. Rodrigues]. Casa Editora “O Clarim”. Sexta edição. 2000.
Kardec,
A. Revista Espírita (Quinto Ano – 1862) [Tradução de Salvador
Gentile]. Instituto de Difusão Espírita (IDE). Primeira edição. 1993.
Kardec.
A. Revista Espírita (Sexto Ano – 1863) [Tradução de Salvador
Gentile]. Instituto de Difusão Espírita (IDE). Segunda edição. 2002.