Acreditar em Deus ajuda a desencarnar
melhor?
Como em muitas situações na vida… depende!
Este facto resulta de uma análise estatística realizada
há meia dúzia de anos a partir do atendimento mediúnico
a Espíritos desencarnados necessitados de auxílio. A
amostra rondou os 200 casos anotados.
A pergunta do estudo não era a do título, mas sim esta:
O Espírito comunicante acredita em Deus?
Verificados os apontamentos, que refletiram o
atendimento efetuado através de três médiuns na mesma
reunião mediúnica semanal, verificou-se nesta amostra
que uma expressiva maioria acreditava: 76%! Ainda assim,
percebe-se que foi insuficiente para desencarnarem numa
situação saudável ou equilibrada.
Houve ainda 14,5% de
casos indetermináveis. Representam os diálogos que não
refletiram com clareza se estes Espíritos desencarnados
de algum modo acreditavam ou não em Deus. Por sua vez,
os que evidenciaram não acreditar em Deus foram apenas
9,5%. (Confira
no gráfico abaixo)

Muitos deles começaram por envolver os médiuns com
sensações de dor física ou psicológica.
Independentemente disso, assim de memória, contar-se-ão
pelos dedos de uma mão os que não conseguiram sair no
final da conversa de esclarecimento numa situação
espiritual bem melhor, por vontade própria. Nestes casos
de renitência, tinham objetivos que queriam esgotar,
capazes de proporcionar o desequilíbrio em que se
encontravam na altura.
Estes factos não são novidade. É provável, inclusive,
que reflitam realidades aproximadas em numerosas
reuniões mediúnicas de auxílio espiritual deste género,
caso fosse feita a organização dos dados que lhes são
inerentes.
Na verdade, este estudo apenas replicou em Portugal no
início do século XXI algumas das conclusões que Allan
Kardec explana com sabedoria nas suas obras, publicadas
em meados do século XIX, resultado de profunda e acurada
experimentação, particularmente desdobradas em “O Livro
dos Médiuns”.
Falou-se de Deus, mas as culturas espalhadas pela Terra
refletem entendimento diverso sobre o que é a divindade.
Ao longo da história ocorreu a adoração de esculturas de
pedra, de plantas, de animais, etc.
No caso do espiritismo – ou doutrina espírita – isso não
é dúbio. Publicado em sucessivas e numerosas edições
ainda hoje, lê-se em “O Livro dos Espíritos”, de Allan
Kardec, a questão n.º 1 – O que é Deus?
A resposta dos Espíritos esclarecidos vem cristalina:
“Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas
as coisas”. E as perguntas continuam na obra primeira do
espiritismo, para quem quiser aprofundar.
Logo, Deus não é, na óptica espírita, um homem idoso
sentado num trono, obviamente. Também não é Jesus de
Nazaré, nosso irmão mais avançado na espiral evolutiva
em que nos movemos há incontáveis milhares de anos. Deus
é, isso sim, um ser espiritual extraordinário que nos
oferece o livre-arbítrio através do qual impulsionamos a
nossa própria evolução, através de muitos erros e
acertos, próprios de tão complexa aprendizagem. Quando,
dentro das limitações que nos caracterizam, nos
aproximamos da sua sintonia, é verdade que sentimos um
imenso amor a envolver-nos.
Não admira, por isso, diante de tantas diferenças de
entendimento sobre a divindade, que haja uma compreensão
mais limitada de Deus, em que se misturem atitudes muito
infelizes próprias dos estágios mais atrasados da
evolução. Exemplo disso são as crenças atuais em que em
nome de Deus se mata e rouba, ou incendeia seres vivos,
como ocorreu há tão poucos séculos com os crimes da
Inquisição. Esta é a antropomorfização (entender Deus à
imagem das imperfeições humanas) mais atrasada de que
tivemos notícia.
Atitudes de superfície, que não reflitam na profundidade
do psiquismo uma dinâmica de amor ao próximo, como
ensinou Jesus de Nazaré, não passam de papel de
embrulho. O evangelho falava de crentes de todas as
religiões que configuram sepulcros caiados por fora e
podres por dentro (Mateus 23:27).
As dinâmicas próprias da realidade espiritual de cada um
reflete a média horária, se quisermos dizer assim, de
sentimentos bons que somos capazes de trazer, de dentro
para fora do ser, no dia a dia. Um suposto ateu que seja
fraterno e auxilie de forma expressiva o seu semelhante,
dentro da conduta refletida pelo que de melhor o
evangelho expõe, espelhará uma realidade interior capaz
de lhe dar ouvidos para ouvir e olhos para ver quem o
vier ajudar ao regressar ao Plano Espiritual quando o
seu corpo material morrer. Crê de modo eventual em Deus
no seu inconsciente amando o próximo de modo
experimental, não meramente teórico. O mesmo para todos
os outros caminheiros da evolução. São leis da natureza
que não pedem opinião para funcionar.
Por essa razão Kardec explicava, corrigindo um chavão
com ruído de falsete que se pregava na época pela
Europa, que fora da caridade não há salvação. Não a
salvação de inferno ou de céu, que não existem senão
como estados de consciência, mas sim da ignorância, cujo
império nos mundos de provas expiações causa tantas
dificuldades, até que esta possa ser ultrapassada com
maturidade.
Caridade essa que mais não é do que o amor em movimento.
Amor tão desinteressado de retorno quanto possível, no
momento evolutivo primário em que por enquanto nos
situamos. (*)
(*) Esta análise foi efetuada a
partir de um grupo de serviço mediúnico situado nos
arredores da cidade do Porto, na região Norte de
Portugal, ao longo do ano de 2017. Através de registos
recolhidos das manifestações mediúnicas habituais no
grupo em que colaborámos regularmente durante vários
anos, até 2019, identificaram-se e registaram-se a
posteriori, anotando-se caso a caso, diversos dados
emergentes do diálogo de esclarecimento estabelecido com
a entidade espiritual no transe mediúnico. O póster
“Reuniões Mediúnicas: uma análise estatística”, relativo
a este gráfico, está disponível na internet, no site
Scribd e no Issuu, mas também pode ser visto
clicando-se neste
link
Jorge Gomes, escritor,
ex-vice-presidente da Federação Espírita Portuguesa e
ex-editor do Jornal de Espiritismo publicado pela ADEP -
Associação de Divulgadores de Espiritismo de Portugal,
da qual é membro, reside na cidade do Porto, Portugal.
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