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por Cláudio Bueno da Silva

 

A escola e a construção da consciência


As circunstâncias costumam colocar-nos frente a frente com o nosso passado. E esse reencontro acidental acaba trazendo à mente cenas que ficaram guardadas no espírito por muito tempo.

Foi o que ocorreu comigo quando precisei passar em frente do velho colégio onde me alfabetizei, tomei gosto pelo estudo, pela leitura, convivi e aprendi durante muitos anos.

Parei diante dos portões e a sensação foi intensa. Gostaria de ter podido entrar para percorrer de novo o mesmo chão por onde tantas vezes andei, subir as escadarias de acesso às salas, circular pelo pátio, embaixo das velhas árvores que ainda lá estão, frondosas e muito altas.

Em rápidos momentos revi na memória o rosto de alguns colegas da época, lembrei-me de vários professores, inclusive pelos seus nomes: dona Glória, dona Davina, dona Antonieta, senhor Nelson, senhor Sidney... Esses, sim, verdadeiros heróis.

As recordações­ me levaram de volta àquele ambiente severo e digno que, como menino, pressentia ser importante. Não sei se as coisas ganhavam amplitude por sermos crianças, o fato é que havia ali, além das brincadeiras infantis naturalmente, um ar de respeitabilidade e até de certa veneração.

Recordo-me de que obedecer não nos humilhava e cumprir as regras parecia ser a continuação do que fazíamos em casa. Acho que isso devia ajudar bastante o trabalho dos professores e funcionários da escola, que assim podiam desempenhar suas funções sem grandes contratempos.

Não era o paraíso, havia problemas, inevitáveis em vista da concentração de crianças e adolescentes, mas tinha também algo de sagrado que os meninos daquele tempo não ousavam afrontar.

Hoje parece que as coisas estão um pouco mudadas. Algumas décadas apenas se passaram, mas o suficiente para esgarçar os valores que se cultuavam respeitosamente, se não por convicção, ao menos por educação social, e que precisam ser resgatados.

Além de antigos problemas estruturais ligados ao ensino, que ainda resistem, há hoje as agravantes da violência, da insegurança e da intolerância. Além do que, agentes públicos desonestos sabotam a classe dos professores, ignoram as necessidades dos estudantes, menosprezam livros didáticos, tentam desconstruir os alicerces da escola democrática. A falta de escola decente precariza a educação.

Esses são reflexos dos vícios morais da sociedade, cuja principal causa está no egoísmo generalizado (1). Segundo Allan Kardec, “Cabe à educação combater as más tendências e ela o fará de maneira eficiente quando se basear no estudo aprofundado da natureza moral do homem. Pelo conhecimento das leis que regem essa natureza moral chegar-se-á a modificá-la, como se modificam a inteligência pela instrução e as condições físicas pela higiene” (2).

Quando os responsáveis pelos processos educativos aplicarem, com conhecimento de causa, princípios morais que regeneram pensamentos e atitudes, aí se verão resultados positivos no campo das relações humanas, a começar pela infância.

Quando os gestores públicos estiverem mais familiarizados com as ideias relativas aos verdadeiros objetivos da vida, assumirão o compromisso de investir seriamente na educação. Deixarão de atrapalhar e confundir o desenvolvimento educacional e cultural da população, como muitos têm feito, dando a impressão de que patrocinam projetos sinistros de manutenção da ignorância.

Foi prazeroso para mim voltar no tempo e reencontrar a escola que me ajudou a construir a consciência.

 

(1) Questão 917 de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, LAKE Editora.

(2) “Resumo teórico do móvel das ações humanas”, em O Livro dos Espíritos, item 872, LAKE Editora.

 
 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita