Professor e
mestre:
diferenças e
aproximações
“Professores,
existem muitos
hoje em dia. Mas
poucos podem ser
chamados de
mestres.
Professores têm
alunos; mestres
têm discípulos
que procuram
quase imitá-los.
O professor é
aquele que
exerce sua
função como um
computador. O
mestre é um
computador que
tem alma.
Enquanto o
professor acha
que já sabe tudo
o que é
necessário, o
mestre se
considera sempre
um aprendiz.
Mestre é aquele
que ensina de
modo tal que o
discípulo se
interessa em
aprender e
colocar em
prática o seu
saber,
transmitindo-o a
outros.”
Sabe de quem são
essas palavras?
Do psicólogo e
educador Içami
Tiba, em seu
genial livro Ensinar
Aprendendo,
que todo
professor, e
todo educador,
deve ler. E como
o evangelizador
espírita da
criança e do
jovem é
igualmente um
educador, esta
recomendação
também é feita
para ele. O
processo de
evangelização
espírita é um
processo de
educação, que
leva em conta
nossa realidade
imortal e
reencarnatória,
e que deve
preparar o
Espírito para a
vida, esta e a
futura, depois
da morte.
Evangelizar
significa ligar
ou religar o
Espírito, que
todos somos, ao
Evangelho, o que
quer dizer, em
outras palavras,
aos ensinos
morais de Jesus,
levando o
educando a
compreendê-los e
vivenciá-los de
livre e
espontânea
vontade, no uso
da sua liberdade
de pensar e
agir.
Evangelizar não
é ensinar o
Evangelho de
cima para baixo,
ou de fora para
dentro, em aulas
que acabam
levando as
crianças e os
jovens apenas à
decoreba, à
memorização de
conhecimentos. É
muito mais do
que isso, pois
trata-se de
desenvolver o
potencial divino
que cada um
traz. Para isso
o evangelizador
espírita não
pode ser um
professor,
precisa ser um
mestre.
Ampliando o
pensamento de
Içami Tiba que,
é bom lembrar,
não é espírita,
mas possui uma
visão bastante
humanizada e,
podemos dizer,
espiritualizada,
da educação,
passamos a
palavra a Pedro
de Camargo,
também conhecido
por Vínícius
(pseudônimo que
ele utilizava):
“Mestre é aquele
que educa.
Educar é apelar
para os poderes
do Espírito.
Mediante esses
poderes é que o
discípulo
analisa,
perquire,
discerne,
assimila e
aprende. O
mestre desperta
as faculdades
que jazem
dormentes e
ignoradas no
âmago do ‘eu’
ainda inculto. A
missão do mestre
não consiste em
introduzir
conhecimentos na
mente do
discípulo: se
este não se
dispuser a
conquistá-los,
jamais os
possuirá.”
Essa fala está
publicada no não
menos genial e
importante
livro O
Mestre na
Educação,
onde Pedro de
Camargo
estabelece
diretrizes
educacionais
seguras à luz do
Espiritismo,
tendo por base o
exemplo e os
ensinos de
Jesus, o maior
dos mestres.
Despertar as
faculdades, ou
potências, do
Espírito, é a
missão do
evangelizador
espírita, e não
se faz isso
apenas
ensinando,
apenas
transmitindo o
conhecimento que
o Espiritismo
nos traz; é
necessário fazer
com que o
evangelizando,
seja ele criança
ou jovem, queira
conhecer, queira
conquistar esse
conhecimento,
percebendo
quanto ele é
útil para si e
para os outros.
Despertar a
consciência
adormecida,
fazendo pensar,
colocando em
prática a regra
do “fazer ao
outro somente o
que se deseja
para si mesmo”,
é a missão do
evangelizador
espírita, assim
indo muito além
de ser um
professor, para
ser um mestre.
As chamadas
aulas de
evangelização
espírita não
deveriam ser
aulas. Nesse
conceito o
evangelizador
imita o
professor da
escola e apenas
instrui,
repassando o
conhecimento
doutrinário,
ensinando,
enquanto o
evangelizando
ouve e tenta
aprender. Não
queremos dizer
que ensinar é
ruim e deveria
ser proibido,
pois o ensino
faz parte do
processo de
educação, o que
estamos
defendendo é que
esse ensino seja
prazeroso,
estimulante,
fazendo pensar,
permitindo que o
evangelizando
tenha ampla
participação e
exerça sua
criatividade,
fazendo da sala
de aula um
espaço de
aprendizagem
coletiva, onde o
evangelizador
será, na
verdade, um
orientador da
aprendizagem,
que, por sua
vez, não ficará
somente na
teoria, pois
propiciará a
prática, a
vivência, tão
necessária para
que a criança e
o jovem absorvam
os princípios
espíritas no seu
patrimônio
psíquico.
Todo mestre
ensina e faz dos
alunos
verdadeiros
discípulos, mas
nem todo
professor que
ensina faz dos
alunos seus
discípulos. Essa
é a diferença
capital,
profunda, entre
o ensinar e o
educar. Enquanto
estivermos
ensinando o
Espiritismo e o
Evangelho em
“aulinhas” de
evangelização no
Centro Espírita,
estaremos muito
longe da
proposta
pedagógica da
nossa doutrina,
ficando a dever
na transformação
moral da
humanidade
através da
transformação
moral dos
indivíduos. Os
espíritas mais
esclarecidos e
que entendem que
essencialmente o
Espiritismo é
doutrina de
educação do ser
imortal e
reencarnado,
precisam, de
forma urgente,
erigir a
educação, ou
evangelização,
como prioridade
e, nesse
contexto,
disponibilizarem
cursos,
palestras,
seminários,
congressos sobre
educação na
visão espírita.
Lembremos que,
na resposta à
questão 796 de O
Livro dos
Espíritos,
os benfeitores
espirituais são
categóricos: somente
a educação pode
reformar os
homens.
Os professores e
evangelizadores
precisam ser
mestres.
Continuar a
ensinar, a dar
aula, a
transmitir
conhecimentos,
como
instrutores, é
malbaratar a
educação, é
fazer da
educação um
simulacro,
substituindo a
aprendizagem
pela ensinagem.
Não é o ensino
que transforma,
é a educação.
Para finalizar,
deixemos que a
advertência do
Espírito Santo
Agostinho, no
item 9 do
capítulo 14 de O
Evangelho
Segundo o
Espiritismo,
fale bem alto ao
profundo de
nossa alma:
“Oh, espíritas!
Compreendei
neste momento o
grande papel da
Humanidade!
Compreendei que,
quando gerais um
corpo, a alma
que se encarna
vem do espaço
para progredir.
Tomai
conhecimento dos
vossos deveres,
e ponde todo o
vosso amor em
aproximar essa
alma de Deus: é
essa a missão
que vos está
confiada e da
qual recebereis
a recompensa, se
a cumprirdes
fielmente.
Vossos cuidados,
a educação que
lhe derdes,
auxiliarão o seu
aperfeiçoamento
e a sua
felicidade
futura.
Lembrai-vos de
que a cada pai e
a cada mãe, Deus
perguntará: ‘Que
fizestes da
criança confiada
à vossa guarda?’
Se permaneceu
atrasada por
vossa culpa,
vosso castigo
será o de vê-la
entre os
Espíritos
sofredores,
quando dependia
de vós que fosse
feliz. Então vós
mesmos,
carregados de
remorsos,
pedireis para
reparar a vossa
falta:
solicitareis uma
nova encarnação,
para vós e para
ela, na qual a
cercareis de
mais atentos
cuidados, e ela,
cheia de
reconhecimento,
vos envolverá no
seu amor.”
Que esse alerta
nos movimente, a
nós espíritas,
para a urgência
da educação,
entendida esta
como educação
moral do
espírito
imortal, se
queremos, de
fato, fazer da
Terra um mundo
de regeneração,
onde finalmente
o bem
predominará
sobre o mal,
graças a uma
educação que
destrói na raiz
a maior chaga
humana de todos
os tempos: o
egoísmo,
substituído que
estará pela
caridade, pela
humildade, pela
fraternidade,
pela
solidariedade,
enfim, pelo
amor!
Marcus De Mario
é escritor,
educador,
palestrante;
coordena o Seara
de Luz, grupo
on-line de
estudo espírita;
edita o canal
Orientação
Espírita no
YouTube; possui
mais de 35
livros
publicados.