Autoconhecimento: conquista vital
Há frases que contêm extraordinária sabedoria. Ao
proferi-las seus autores são certamente inspirados pelas
potestades, e, quando bem compreendidas, nos ajudam a
assimilar novos elementos que contribuem para o
desenvolvimento da nossa maioridade espiritual. Nesse
sentido, atribui-se ao filósofo Sócrates a autoria da
máxima: “Conhece-te a ti mesmo”. A recomendação -
seja dele ou não - é assaz pertinente, já que há no
mundo milhões de criaturas que não se conhecem
verdadeiramente.
Em razão disso, vivem existências empobrecidas do ponto
de vista espiritual e sem significativas conquistas
interiores, porque simplesmente não conseguem perceber a
imensa bênção que é viver neste plano para progredirem
como seres cósmicos. Geralmente, são indivíduos que
prestam muita atenção às questões materiais, assim como
dão considerável espaço à satisfação dos prazeres. No
entanto, pouco ou quase nada focam no que lhes reside no
íntimo (especialmente de ruim ou reprovável) e o que são
capazes de fazer em se tratando de prejudicar os outros
diante de uma contrariedade ou revés.
Não seria exagero afirmar que são indivíduos que não se
examinam, não se interrogam, não se enfrentam, enfim.
Assim sendo, desconhecem, quase que por completo, o que
se encontra no âmago das suas almas, talvez porque
receiem descobrir e/ou aceitar que abrigam péssimas
inclinações e tendências. Desse modo errático, portanto,
evitam se autoconhecer - passo vital para a sua melhoria
ou cura interior.
O autoconhecimento é um recurso altamente valioso, pois
constitui “a chave do progresso individual”, como
declarou Santo Agostinho no Livro dos Espíritos (questão
919-a). Dito de outra forma, ninguém desenvolve a sua
própria luz sem ter exato entendimento dos pontos mais
fracos e vulneráveis da sua personalidade e caráter.
Portanto, identificá-los requer extremo esforço, já que
tendemos a aplicar a autodesculpa quando nossas
fragilidades são expostas. De qualquer maneira, o
autoconhecimento é a ferramenta imprescindível para que
tenhamos uma existência espiritualmente exitosa.
Nesse sentido, ao adotar o caminho da regeneração, é
certo que haveremos descobrir aspectos altamente
desconfortáveis no decorrer do processo tais como:
pensamentos malignos e viciosos, emoções nada
edificantes, atitudes malsãs, reações destrambelhadas,
entre outras tantas coisas negativas. Em suma, o
exercício do autoconhecimento nos ajuda a descortinar
todo o mal e impurezas que dormitam em nosso interior.
Como esforço de cunho moral, cabe destacar, nos ajuda
também a conquistar o autoaperfeiçoamento por meio de
uma cognição mais apurada sobre nós mesmos. Em outras
palavras, com bem ensinou Santo Agostinho, “Examinai
o que pudestes ter obrado contra Deus, depois contra o
vosso próximo e, finalmente, contra vós mesmos. As
respostas vos darão, ou o descanso para a vossa
consciência, ou a indicação de um mal que precise ser
curado.”
De forma análoga, salienta Allan Kardec,
“Os Espíritos protetores nos ajudam com seus conselhos,
mediante a voz da consciência [que não raro bloqueamos],
que fazem ressoar em nosso íntimo. Como, porém, nem
sempre ligamos a isso a devida importância, outros
conselhos mais diretos eles nos dão, servindo-se das
pessoas que nos cercam. Examine cada um as diversas
circunstâncias felizes ou infelizes de sua vida e verá
que em muitas ocasiões recebeu conselhos de que se não
aproveitou e que lhe teriam poupado muitos desgostos, se
os houvera escutado.”
Desse modo, ainda segundo o Codificador do Espiritismo,
“Muitas
faltas que cometemos nos passam despercebidas”. Isso
ocorre porque não somos suficientemente críticos conosco
na maioria das vezes. Ou seja, fazemos coisas absurdas e
tomamos decisões sem a devida consideração de ordem
ético-moral que, essencialmente, sempre nos dá a
dimensão do certo e do justo. Em assim nos conduzindo,
não medimos o impacto das nossas ações nos outros, bem
como negligenciamos a noção do bem que, a rigor, deveria
nos inspirar em todas as deliberações da vida. Aliás, “O
bem deve ser a flor e a fruto que o Céu nos pede”, como
formulou o Apóstolo Estêvão (ver a obra Paulo e
Estevão, ditada pelo Espírito Emmanuel e
psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier).
Portanto, o autoconhecimento leva
à ponderação e aos raciocínios mais elevados, ensejando
mudanças profícuas na esfera interior.
Às vezes, o indivíduo identifica algo grave nos recessos
da sua alma, mas não trabalha com determinação para a
obtenção da própria cura. Esse deve ser o caso, por
exemplo, da enfermeira inglesa Lucy
Letby, de 33 anos, que atacou 13 bebês matando 7 no Countess
of Chester Hospital, principal unidade de
saúde da cidade de Chester, na Inglaterra, entre 2015 e
2016. As investigações revelaram a descoberta de um
bilhete em sua casa em que se lia: “Eu sou má, eu fiz
isso. Matei-os de propósito porque não sou
suficientemente boa, não mereço viver, sou uma pessoa
horrível”.
Notem que essa criatura começava a ter a consciência
despertada para a gravidade dos seus atos. Mas não é
incomum, por outro lado, que muitos permaneçam em sua
sanha criminosa até que sejam descobertos e entregues à
justiça. Posto isto, com o sofrimento decorrente da
privação de liberdade vem o arrependimento, e daí
determinações mais saudáveis do Espírito culposo.
Santo Agostinho aconselha ainda que perscrutemos a nossa
consciência se desejamos seriamente nos melhorarmos para
que possamos extirpar de nós os maus pendores, como se
arrancássemos as ervas daninhas do nosso jardim.
Façamos, então, como ele recomenda, isto é, um balanço
moral diário. Desse modo, “Se puder dizer que foi bom o
seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o
despertar na outra vida.” Concluindo, o autoconhecimento
nos aponta o caminho para acendermos a luz dentro de
nós. Com essa capacitação aprendemos a arte do
autodomínio e serenidade, que nos conduzirão, por
extensão, à obtenção da felicidade plena no devido
tempo. Fundamentalmente, cabe ainda destacar que nunca é
tarde para se autoconhecer.
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