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por Cláudio Bueno da Silva

 

O encanto da liberdade


Uma das coisas que mais me encantam na Doutrina Espírita é a liberdade que ela nos faculta. No mais amplo sentido. Já pela segurança da sua fundamentação moral baseada no amor, justiça e caridade, já pelas atribuições intocáveis do livre-arbítrio de que todos somos investidos. Não há proibições para o espírita, mesmo porque se espera dele a atitude responsável de quem compreende cada vez mais o seu papel na vida e na sociedade.

É notória a transformação que ocorre em nós quando entramos em contato com essa filosofia e passamos a experimentar a liberdade de decidir, opinar, acatar, discordar.  Move-nos, desde o início, a vontade de participar mais da vida, de somar, dividir com os outros, multiplicar recursos com todo o mundo.

O envolvimento é muito forte e não conseguimos ficar de braços cruzados. Lançamo-nos às tarefas, sofregamente. Perguntamo-nos como não ter percebido tudo isso antes.

A empolgação é mais que natural, mas as coisas do sentimento, da razão, da alma, levam tempo. A maturidade do senso moral a que se referiu Allan Kardec é atingida com o exercício da vida, das vidas. O progresso individual do ser depende basicamente dele próprio, embora possa estar sujeito a situações que lhe escapem ao controle. Se temos livre-arbítrio, os outros também o têm.

O certo é que há um momento em que as coisas acontecem. Somos despertados para uma realidade ampla que altera nossa visão em relação a todos os seres. Passamos a olhá-los, se não com amor ainda, porém com o compromisso de não fazê-los sofrer. E se possível fazê-los felizes. Sem notar claramente, estamos exercitando espiritualidade. Sorrimos mais, ouvimos com mais complacência, usamos a palavra com mais sobriedade, cuidamos melhor do pensamento. Devagar adentramos o tempo da delicadeza, como disse o poeta (¹), quando imperceptivelmente vamos nos desligando das rígidas convenções humanas, passando a caminhar como irmãos, amadurecendo as relações.

Há muitas portas em que se bater. Nós, os espíritas, escolhemos a do Espiritismo. Vamos entrando, deslumbrados com as novidades antigas. Queremos fazer entrar conosco aqueles que amamos. Mas nem sempre podemos entrar todos de uma vez por essa porta. O Espiritismo é um estado de consciência introjetado em nós pela experimentação na matéria em vidas sucessivas. As lutas, a dor, o sofrimento, convertidos em experiência, sedimentam-se em nosso espírito através dos milênios. Nem todos conseguem, por enquanto, identificar-se com a pauta do ensino espírita, que é educativo e renovador.

O mergulho no universo do Espiritismo não nos põe, entretanto, acima de nenhum dos irmãos que nos fazem companhia. Nosso campo de ação é aqui, na Terra, por muito tempo ainda. A alegria de vivenciar os ideais de Allan Kardec e de conhecer de verdade o pensamento de Jesus de Nazaré nos impõe grande responsabilidade no círculo de atuação que nos compete. O conhecimento bebido nessa extraordinária filosofia direciona com exatidão os nossos compromissos e nos torna agentes de importantes transformações, a começar por nós mesmos.

Portanto, precisamos muito do Espiritismo. Necessitamos do seu padrão moral superior de educação, voltado ao Espírito, todo ele modelado no ensino de Jesus. Construímos nosso destino pela livre escolha, sempre. Mesmo na opressão, na coação ou conjunturas compulsórias, somos chamados a escolher, ou seja: agir, reagir, pensar, falar, sob impulso de algum sentimento. A escolha é o resultado da liberdade. O espírita é livre pois suas escolhas são conscientes, baseadas no conhecimento e na pura moral, que são elementos essencialmente libertadores.

 

(¹) Todo o sentimento, música de Cristóvão Bastos/Chico Buarque. 


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita