REFORMADOR: Lendo e
comentando, por Hermínio de Miranda
A
clareza em que os temas são desenvolvidos dispensa
comentários.
Dediquemo-nos, pois, à sua
leitura, meditação e... aplicação!
Em fevereiro de 1967, a
revista REFORMADOR publicou, de autoria de Hermínio
Miranda:
Uma
pessoa presente no grupo em que se manifesta o Espírito
de Silver Birch lhe pergunta sobre o que deve dizer de
maneira especial nas palestras e conferências que vem
fazendo. «Onde devo colocar a maior ênfase?
Que é mais indicado para
dizer aos que nos ouvem hoje?».
A resposta do Espírito serve
a todos os expositores da Doutrina Espírita.
Diz ele que:
«A ênfase deve ser colocada
sempre no fato supremo de que todos são essencialmente
seres espirituais, expressando-se através de corpos
físicos, e que o objetivo da vida terrena é ordenar suas
existências de tal forma que o Espírito, que é divino,
alcance a mais elevada expressão possível».
Devem situar suas
prioridades na ordem exata, tornando-se conscientes de
que a vida é baseada na realidade eterna, que é
espiritual, e não material.
Diga-lhes que aqueles que
vivem à luz do conhecimento e buscam harmonizar as suas
vidas com a vontade divina, conseguem saúde física, paz
mental e bem-estar espiritual.»
Outro assistente pergunta se
algum conhecimento novo nos pode ser trazido pelo
Espírito.
«Nada existe de novo, apenas
o que é antigo é encarado de maneira diferente.»
E qual a sua nova maneira de
olhar? insiste o assistente.
«Uma de minhas dificuldades
responde o Espírito é reter o conhecimento adquirido
quando me comunico com o seu mundo.
O processo envolve tal
descida que perco muito do conteúdo original. Faço um
esforço enorme, nos meus contactos com o seu mundo, no
sentido de aperfeiçoar tanto quanto possível a técnica,
de maneira a poder recapturar mais e mais do que já
aprendi.»
Ambos os pronunciamentos de
Silver Birch são de grande interesse.
É comum os Espíritos se
queixarem da dificuldade que têm de vencer para
conseguirem transmitir com clareza seu pensamento
através do médium.
Não apenas os bloqueios
conscientes ou inconscientes criados pelo próprio
médium, como também o problema de expressar em termos
humanos realidades e conceitos inteiramente fora dos
nossos padrões de julgamento e análise.
Além do mais, o Espírito já
liberto da condição humana tem de sofrer um processo de
readaptação que costumamos, algo impropriamente talvez,
classificar com a expressão «baixar o seu teor
vibratório».
A dificuldade é realmente
grande. Não se admire, pois, que tantos Espíritos não
consigam apresentar provas irretorquíveis de identidade
ou responder satisfatoriamente a algumas perguntas mais
sutis.
M. H. Tester pergunta-nos se
somos um sucesso ou um fracasso.
Se nos imaginamos bem
sucedidos, tornamo-nos tolerantes, seguros e realizados.
Se nos colocamos do lado dos
que falharam, ficamos «às turras» com a sociedade.
Tornamo-nos inseguros, agressivos, infelizes, inquietos,
intolerantes.
É que a imperfeição alheia
toma a nossa própria imperfeição menos evidente.
Uma pessoa nessas condições
acaba ficando realmente doente.
Dizem as estatísticas que
95% das doenças, na Inglaterra, são de origem
psicossomática. Quem o diz é o próprio Ministério da
Saúde daquele país, segundo Tester.
Acredito que o índice se
aplique, com pequenas variações, a toda a Humanidade. Um
médico, consultado por Tester, acha que na realidade a
porcentagem é 98. Tudo depende, porém, de como
conceituamos o êxito.
Como vivemos numa sociedade
materialista, julgamos bem sucedido o ricaço, todo
poderoso, e achamos que fracassou o pobre que mal tem o
que vestir e comer.
No entanto, a medida da
felicidade pessoal não é o êxito material. Encontramos
pessoas felizes e bem sucedidas num lar pobre e humilde
e topamos com ricos infelizes que se consideram falhados
porque não conseguiram acumular toda a riqueza que
almejavam.
Há sempre alguém que tenha
mais dinheiro que eles.
«No final das contas diz
Tester há somente um critério. A vida que você leva
agora é a que você próprio escolheu.
Antes de nascer, a entidade
espiritual, que é você mesmo, decidiu acerca do tipo de
têmpera de que necessitava, a forma de refinamento, de
prova e de educação chame-lhe como quiser.
À medida que o Espírito
evolui, atravessa vários estágios. Você sabia que lições
tinha de aprender. Escolheu o currículo. Está agora
vivendo esse currículo.»
Palavras justas,
especialmente porque Tester coloca o problema na sua
exata perspectiva, por ser reencarnacionista convicto.
N. W. Patteson elogia a
coragem de um bispo em San Francisco, que teve de
renunciar ao seu posto, porque tanto os fiéis da sua
diocese como seus superiores hierárquicos o acusaram de
heresia.
O Bispo pôs em dúvida o
dogma da virgindade, a existência da Santíssima Trindade
e a divindade de Jesus.
Teve também suas
dificuldades com outras questões, como os problemas
raciais, a pena de morte e o aborto.
Patteson deseja que o Bispo
renunciante encontre um grupo espírita em San Francisco,
onde verá gente que discute com seriedade e serenidade
seus pontos de vista.
E. A. Tooke prossegue sua
exposição científica de certos aspectos da pesquisa
psíquica.
Desta vez discorre sobre as
possibilidades de automação do processo de comunicação
entre o mundo espiritual e o nosso. Fala mesmo em
«computadores clarividentes e televisão telepática».
Sua ideia é a seguinte:
«O ponto de partida para
qualquer programa com o objetivo de racionalizar o
contacto com o mundo espiritual deve ser o estudo das
vibrações. Estas desempenham um papel relevante em todos
os fenômenos psíquicos. Ora, as vibrações têm
frequências que estão ligadas à energia. A equivalência
entre energia e matéria foi demonstrada por Einstein na
sua fórmula imortal, já mencionada nesta série.
Tudo isso levado em conta,
portanto, parece que temos apenas de encontrar uma
fórmula adequada, inserir as frequências apropriadas e
pronto a matéria do mundo espiritual estaria unida
matematicamente à do nosso. As discrepâncias de tempo
não mais existiriam.»
Realmente, dito assim,
parece muito simples, mas o próprio autor não vê ainda
uma saída prática para o problema, por causa do
princípio da incerteza, contida na fórmula de De
Broglie: h/mv.
Enfim, leitor, a coisa é
muito complexa para a gente entender.
Acho melhor não esperar para
muito breve o tal computador clarividente nem a
televisão telepática.
Um autor hindu escreve para
demonstrar a realidade da reencarnação.
Trata-se de J. M. Ganguli,
que baseia o seu raciocínio no princípio científico da
conservação da energia. Lembra o caso das crianças que
guardaram lembranças de vidas anteriores e conclui
dizendo que a doutrina da reencarnação dá sentido à
vida. Mesmo que não dê sentido à existência individual
de cada um, é necessária ao processo evolucionista da
criação, diz ele:
«Se continuamos a viver,
vida após vida, também perduram as nossas relações
sentimentais e emocionais com os outros. A morte não
destrói as relações formadas nesta vida. Estaremos
reunidos nas vidas subsequentes àqueles com os quais
estivemos relacionados ou associados nesta vida.»
L. C. Danby expõe seu ponto
de vista acerca do trabalho mediúnico que muito coincide
com o meu.
É favorável aos grupos
domésticos para a prática mediúnica.
Acha que o objetivo
primordial do Espiritismo é demonstrar a realidade da
sobrevivência. Para isso precisamos de médiuns capazes,
puros, interessados e serenos. No entanto, por toda a
parte se observa a carência de médiuns.
Danby acha que a resposta a
essa dificuldade se acha «na formação e desenvolvimento
de grupos domésticos».
Deseja o autor distinguir
bem claramente que não se refere a grupos públicos.
Acha, com razão, que muitos
vão a sessões públicas, muito comuns nos países de
língua inglesa, «não tanto para se instruírem acerca das
provas da sobrevivência, como para conhecerem o seu
próprio futuro.
Os médiuns, nessas sessões
públicas, frequentemente devem enfrentar vibrações
cruzadas do egoísmo e do mercenarismo, as quais somente
os sensitivos muito experimentados podem neutralizar.
Não se recomenda, pois, aos
aspirantes a médiuns, experimentarem o desenvolvimento
em tais centros».
Sugere, o autor, um pequeno
grupo familiar, composto de parentes e amigos leais e
sinceros, todos empenhados em servir, no verdadeiro
espírito de caridade.
A melhor tradição espírita
está com este autor.
Também Kardec aconselhava
essa prática.
Os grupos devem ser
pequenos, compostos de pessoas que se harmonizem
perfeitamente, assíduas, pontuais e disciplinadas.
Cada grupo deve ter a sua
função e não exorbitá-la de modo algum.
Os resultados não são
imediatos, nem maravilhosos.
Os Espíritos bem
intencionados não estão interessados em nos mostrar
fatos extraordinários, nem em trazer mensagens que
revolucionem o mundo.
Logo que o grupo demonstre
sua boa intenção e seriedade de propósitos, os Espíritos
superiores, ligados a este ou àquele membro da equipe,
se incumbem de organizar o trabalho do lado espiritual
da vida e todos começam a desempenhar a sua tarefa.
São trazidos Espíritos em
dificuldades para aprender e oferecer a lição das suas
angústias. Também vêm Espíritos elevados, para ensinar e
orientar.
Todos se beneficiam
encarnados e desencarnados.
Fala-se e se escreve muito
no meio espírita sobre os três aspectos da Doutrina dos
Espíritos. Qual a sua posição nessa questão?
Hermínio C. de Miranda Não
me sinto atraído por debates ou polêmicas, como o que às
vezes se armam em torno de questões como essa. Está
claro, para mim, que o Espiritismo tem sua vertente
filosófica, a científica e a religiosa.
Ao falar sobre isso, tenho
em mente Religião com maiúscula; com todo o respeito
devido, não me refiro às várias denominações cristãs
contemporâneas. Mesmo porque o Cristo não fundou
religião alguma ele se limitou a pregar e
exemplificar uma doutrina de comportamento, ou seja,
como deve o ser humano portar-se perante o mundo, a
vida, seus semelhantes e, em última análise, diante de
si mesmo e da divindade.
Ao que sabemos, jamais o
Cristo cogitou de saber se sua doutrina devia ou não ser
caracterizada como religião.
E, no entanto, é religião,
no seu mais puro e amplo sentido, de vez que cuida de
nossa relação com as leis divinas.
Minha opção prioritária, por
assim entender, é pelo aspecto religioso do Espiritismo,
sem, contudo, ignorar ou minimizar os demais.
Nada tenho e nem poderia ser
contra os que pensam de modo diferente.
Não vejo como nem por que
disputar coisas como essa.
Tenho eu de desprezar,
combater, hostilizar, odiar e até eliminar aquele que
não pensa exatamente como eu?
Se você prefere cuidar do
vetor científico ou do filosófico, tudo bem.
Solicitado, certa ocasião, a
um pronunciamento dessa natureza, entreguei pessoalmente
ao eminente e saudoso companheiro Dr. Freitas Nobre um
pequeno texto sob o título Problema inexistente, que ele
mandou publicar em Folha Espírita.
Por que e para que todo esse
debate?
Começa que a posição a ser
assumida ante o problema depende da conceituação
preliminar do que se entende por religião. De que tipo
de religião estaríamos falando? (Hermínio
Miranda)
Referência bibliográfica:
REFORMADOR. FEVEREIRO,
1967 Lendo e comentando, por Hermínio de Miranda
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