Joias da poesia
contemporânea

Autor: Carmen Cinira

 

Olvida a própria dor

Se ao redor do teu passo

A mágoa tumultua,

Não te esqueças que, além do teu cansaço,

Há sempre muita dor maior que a tua.

 

Quando triste, chorares,

Com teu sonho tocado de aflição,

Recorda as amarguras e os pesares

De quem sofre sem pão.

 

Se perdeste na morte um ser amado

E a saudade infinita te reclama,

Lembra aquele que vive soterrado

Em sepulcros de lama.

 

Se enfrentas o destino agro e sombrio,

Foge à noite em que o mundo se subleva,

E recorda quem vai com fome e frio

Ao encontro da treva.

 

Trabalha e ajuda, embora descontente…

Além do pranto que te beija os olhos,

Correm sangue e suor de muita gente

Entre pedras e abrolhos!

 

Olvida a própria dor, por mais austera,

No serviço cristão,

E encontrarás na cruz que te lacera

O caminho da própria redenção.


Carmen Cinira (1902-1933), pseudônimo de Cinira do Carmo Bordini Cardoso, natural do Rio de Janeiro, onde faleceu, foi poetisa e autora de vários livros.

 

Do livro Relicário de luz, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita