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por Juan Carlos Orozco

A quem obedece e segue?


Essa reflexão aborda algumas questões em que, diante de certas circunstâncias da vida, somos arrastados por falsos discursos, mensagens distorcidas, hipocrisias, idolatrias equivocadas que nos desviam do caminho do bem, acreditando estar obedecendo e seguindo preceitos ditos como “verdadeiros”, os quais procuram adesão para objetivos que não do caminho da verdade e da vida em direção ao Pai maior.

Hipocrisia

A hipocrisia tem como característica principal o comportamento de uma pessoa que apresenta opinião, a qual não possui, ou finge sentir o que, na realidade, não sente, escondendo a sua falsidade, a sua dissimulação, o seu fingimento ou os seus sentimentos sinceros.

O hipócrita pode ocultar sua realidade por meio de máscara da aparência, fingir possuir boas qualidades para ocultar seus defeitos. Além disso, pode dissimular a verdadeira personalidade, intenções ou sentimentos para alcançar a realização pessoal ou por medo de assumir uma real identidade.

O Mestre Jesus ao trazer a Boa Nova para a Humanidade combateu a hipocrisia reinante da época, diante de escribas, fariseus e lideranças religiosas.

Falso profeta

Conceitualmente, profeta pode ser aquele que proclama, anuncia os desígnios divinos, dá sinais da divindade, sabe de coisas que pessoas comuns não sabem ou vem em missão para instruir os homens e revelar as coisas ocultas e os mistérios da vida espiritual. Associou-se profeta também às profecias, com o dom de desvendar o futuro.

Na história da Humanidade, muitas pessoas valeram-se de falsos discursos, promessas vãs, ilusões ou teorias falhas, atribuindo-lhes poder divino, prodígios ou milagres, apresentando-se como reformadores e messias, com a finalidade de enganar.

O alerta do Mestre Jesus quanto aos falsos profetas é oportuno, porquanto esses lobos em trajes de ovelhas poderão enganar até os escolhidos.

O Cristo passou uma regra para identificar os falsos profetas: “Conhecê-los-eis pelos seus frutos. (...), toda árvore boa produz bons frutos e toda árvore má produz maus frutos. Uma árvore boa não pode produzir frutos maus e uma árvore má não pode produzir frutos bons”. (Mateus, 7: 15-20)

O verdadeiro profeta é um homem de bem, inspirado por Deus. Podemos reconhecê-lo por suas palavras e pelos seus atos. Impossível Deus servir-se de boca mentirosa para ensinar a verdade.

Os verdadeiros profetas são Espíritos adiantados que fizeram suas provas noutras existências. O missionário divino é reconhecido pela superioridade em inteligência, moralidade, virtudes, grandeza e influência moralizadora de suas obras.

Já os falsos profetas se dizem investidos de poder divino e possuidores da verdade, ao mesmo tempo em que se mostram orgulhosos, vaidosos, cheios de si, falam com altivez e parecem temerosos de que não lhes deem crédito.

Como no passado, continuará havendo falsos profetas, procurando desviarmos do caminho da verdade e da vida preconizado pelo Mestre Jesus.

A melhor prevenção é seguir os exemplos e os ensinamentos de Jesus: árvore boa somente dá bons frutos, não há como árvores más dar bons frutos.

Palavras de vida eterna

Em termos de obedecer e seguir, pergunta-se quem detém palavras de vida eterna?

Do Evangelho de João, extraímos: “Muitos dos seus discípulos se retiraram e não andavam mais com ele. Perguntou então Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna; e nós temos crido e conhecemos que és o Santo de Deus”.  (João, 6: 66-69) 

O contexto dessa passagem está logo após a revelação de Jesus sendo o pão descido do céu como alimento para a vida, provocando incompreensão entre os judeus.

Muitos de seus discípulos, receosos do dever que lhes caberiam, também se afastaram do Mestre.

Em razão da escassez de fortaleza moral, a pessoa não consegue pôr em prática os ditames da vontade. Essa é causa da maioria dos processos de fuga e dos recuos perante os desafios da vida, desorientando e conduzindo a temores infrutíferos.

Diante dos abandonos, sem violar o livre arbítrio, Jesus perguntou aos doze se eles também queriam se retirar. Pedro responde: “Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna”, indicando que “quem começa o serviço de espiritualidade superior junto com Jesus jamais sentirá emoções idênticas à distância d’Ele. (...) Quem comunga efetivamente no banquete da revelação cristã em tempo algum olvidará o Mestre amoroso que lhe endereçou o convite. (...) Por esse motivo, Simão Pedro perguntou com muita propriedade: ‘Senhor, para quem iremos nós’?” (Espírito Emmanuel. Pão nosso. Capítulo 151. Ninguém se retira. Na psicografia de Francisco Cândido Xavier)

As palavras do Cristo são de vida eterna porque verdadeiras, luz da vida e esperança que sustentam a fé e a confiança na justiça, na bondade e na misericórdia de Deus. Palavras de vida eterna do Evangelho de Jesus, legado abençoado que aponta diretrizes seguras, devem nortear o aprendizado na escalada evolutiva, pois atendem às necessidades e aos anseios de todos. Só a fé na vida eterna nos livra da escuridão.

Continuar a seguir as pegadas de Jesus e andar com Ele é decisão de cada ser no uso do seu livre-arbítrio. Se escolhida com consciência e discernimento, aprendemos a conciliar as expectativas da vida no plano físico com as necessidades de melhoria espiritual.

Cego que guia cego

Envolvidas por cegueira dominante, algumas pessoas se identificam com ideais e pensamentos que contaminam a alma, exemplificando ao que disse o Mestre Jesus em uma de suas parábolas: Pode porventura o cego guiar o cego? Não cairão ambos na cova?” (Lucas, 6: 39; e Mateus, 15:  12-14)

Essa Parábola está no contexto em que os fariseus, em suas hipocrisias, valorizavam mais as práticas exteriores do que realmente seguir os preceitos das leis de Deus, e tinham a pretensão de ser os mais esclarecidos da sua nação. As práticas do bem e da caridade sucumbiam para o formalismo religioso. A maioria dos fariseus e escribas estava cega e surda espiritualmente.

Em termos de fé, devemos estar atentos aos cegos do Espírito que se julgam aptos bastante para ser guia de cegos espirituais, porquanto estes são incapazes de enxergar as verdades divinas, em que o orgulho e a soberba são cataratas que cobrem a visão.

O Espírito Emmanuel, no livro Pão Nosso, Capítulo 165, em “Falsos discursos”, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, alertou: “Falsos discursos enganaram indivíduos, famílias e nações. Acreditaram alguns em promessas vãs, outros em teorias falaciosas, outros, ainda, em perspectivas de liberdade sem obrigações. E raças, agrupamentos e criaturas, identificando a ilusão, atritam-se, mutuamente, procurando a paternidade das culpas. Muito sangue e muita lágrima têm custado a criação do verbo humano.”

No mesmo livro, Emmanuel, no Capítulo 16, em “A quem obedeces?”, ensina: “Toda criatura obedece a alguém ou a alguma coisa. (...) O homem obedece a toda hora. (...) O discípulo necessita examinar atentamente o campo em que desenvolve a própria tarefa. A quem obedeces? Acaso, atendes, em primeiro lugar, às vaidades humanas ou às opiniões alheias, antes de observares o conselho do Mestre Divino? É justo refletir sempre, quanto a isso, porque somente quando atendemos, em tudo, aos ensinamentos vivos de Jesus, é que podemos quebrar a escravidão do mundo em favor da libertação eterna.”

Assim, não podemos, ao mesmo tempo, servir a dois senhores, ou obedeço e sigo a um ou ao outro. Não podemos viver a vida que Deus quer para nós e ceder, simultaneamente, aos desvarios da vida mundana.

Aquele que caminha para progredir moral e espiritualmente, obedece e segue as pegadas do Mestre Jesus, porquanto a conquista do reino de Deus deveria ser objetivo de todos.

A edificação do reino divino, em cada ser deste mundo, será decorrente do uso correto do livre arbítrio nas escolhas pelo caminho da verdade e da vida, do constante aprimoramento, do indispensável esforço e pela prática dos ensinamentos do Cristo que produz bons frutos, “porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e, então, dará a cada um segundo as suas obras” (Mateus 16:27). Fé sem obras é nada.

Jesus revelou outro mundo sob a ótica do amor, da fraternidade universal, da caridade, da justiça, da bondade e da misericórdia divina. É esse mundo, ou reino de Deus, que Ele promete aos que cumprirem os seus mandamentos, onde os bons encontrarão suas recompensas e bem-aventuranças.

Devemos juntar os bens celestiais. Jesus disse: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. (Mateus 6:19-21)

Com a aquisição dos tesouros celestiais, não precisamos ficar ansiosos pelo dia de amanhã, pois o dia cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal. É preciso ter fé, confiança em Deus, crer na imortalidade do Espírito, na vida que nunca acaba.

O Mestre ensina que dia virá em que o reino de Deus será deste mundo. Isso dar-se-á quando os homens forem regenerados pela verdade na estrada do progresso e da fé.

Para que todas as coisas sejam acrescentadas às nossas vidas, é indispensável que procuremos o reino de Deus e sua justiça, na busca da verdadeira felicidade.

Estão próximos os tempos em que nesse planeta reinará a grande fraternidade, em que os homens obedecerão à lei do Cristo, lei que será freio, esperança e conduzirá as almas às moradas ditosas.

No atual momento de transição planetária, é preciso agir com cuidado para não sermos envolvidos e enganados pelos falsos profetas e hipócritas, porque, submetidos ao peso das provações, estaremos mais expostos e fragilizados.

As vozes do mundo espiritual conclamam os trabalhadores do bem à vigilância e à oração, como forma de se neutralizar as incursões do mal.

Permanecendo na Palavra e conhecendo a verdade divina, na busca da transformação moral libertadora, a perseverança e a vigilância surgem como essenciais preceitos de conduta nas lutas renovadoras, das quais somos convocados a fazer as escolhas mais acertadas em prol dos mais elevados sentimentos de fraternidade universal, pela prática da caridade para com nós mesmos e aos nossos semelhantes.

A retidão de comportamentos, atitudes e procedimentos no caminho do bem e da caridade terá um efeito aglutinador pela fé e confiança, valendo mais do que mil palavras.

Dessa forma, cresce de importância a vigilância e a dedicação aos estudos doutrinários espíritas, para se obter os entendimentos do Evangelho Redivivo, mediante a correta assimilação dos verdadeiros entendimentos, exemplos e princípios. Orai e vigiai!

 

Bibliografia:

BÍBLIA SAGRADA.

KARDEC, Allan; Tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

EMMANUEL (Espírito); (psicografado por) Francisco Cândido Xavier. Pão nosso. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.

MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora). Estudo aprofundado da doutrina espírita: Ensinos Estudo aprofundado da doutrina espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte I. Orientações espíritas e sugestões didático pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do espiritismo1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.

MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (organizadora). Estudo aprofundado da doutrina espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte II. Orientações espíritas e sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.

ROCHA, Cecília (Organizadora). Estudo sistematizado da Doutrina Espírita: programa fundamental – Tomo I. 2ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.

MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora). O Evangelho Redivivo: estudo interpretativo do Evangelho segundo Mateus1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2020.

SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e Ensinos de Jesus. 28ª Edição. Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2016.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita