Faculdade mediúnica
Mediunidade não é patrimônio especial de grupos
nem privilégios de castas.
“(...) Não
são os que gozam de saúde que precisam de
médico." - Jesus. (Mt., 9:12)
Essa resposta de Jesus, que é ao mesmo tempo uma
afirmativa, prende-se à interpelação eivada de
perplexidade feita pelos fariseus aos discípulos
de Jesus ao flagrarem o Mestre à mesa com
publicanos e gente de má vida. Causava-lhes
espanto ver um homem virtuoso compartilhar a
intimidade de homens indignos. Daí a resposta do
Mestre. Mas, hoje, a pergunta dos fariseus
ainda está no ar. Ela se dirige com as mesmas
características de espanto e perplexidade quando
se observa a mediunidade vicejar em terreno
indigno, ou seja: pessoas de má vida, portadoras
de potencial mediúnico. Ora, Kardec já
esclareceu, oportunamente, que a mediunidade "(...)
antes de tudo, é inerente a uma disposição
orgânica, de que qualquer pessoa pode ser
dotada", como é dotada de visão, audição e
voz...
Como são raras as pessoas virtuosas, a grande
maioria das criaturas seriam mudas se Deus só
desse a faculdade da fala aos virtuosos; da
mesma forma, se Ele concedesse somente aos mais
dignos o dom da mediunidade, quem ousaria
pretendê-lo? Pode parecer que tão preciosa
faculdade devera ser atributo exclusivo dos de
maior merecimento. Mas, na realidade, não é o
que se dá”.
Coerentemente com o Mestre Lionês, Joanna de
Ângelis conceitua
a mediunidade como “faculdade orgânica", que
se encontra em quase todos os indivíduos, não
constituindo patrimônio especial de grupos nem
privilégios de castas; é inerente ao Espírito
que dela se utiliza, encarnado ou desencarnado,
para o ministério do intercâmbio entre
diferentes esferas de evolução.
A mediunidade tem características próprias por
meio das quais, quando acentuadas, facultam
vigoroso intercâmbio entre os Espíritos
encarnados e os desencarnados, entre as
criaturas reciprocamente, bem como entre os
próprios médiuns”.
Segundo o ínclito Mestre Lionês1,
"(...) a mediunidade é conferida sem
distinção, a fim de que os Espíritos possam
trazer a luz a todas as camadas, a todas as
classes da sociedade, ao pobre como ao rico; aos
retos para fortificá-los no bem; aos viciosos
para corrigi-los. Não são esses últimos os
doentes que necessitam de médico? Por que o
privaria Deus, que não quer a morte do pecador,
do socorro que o pode arrancar ao lameiro?! Os
bons Espíritos lhe vêm em auxílio e seus
conselhos, dados diretamente, são de natureza a
impressioná-lo de modo mais vivo do que se os
recebesse indiretamente. Deus, em Sua Bondade,
para lhe poupar o trabalho de ir buscá-la longe,
nas mãos lhe coloca a luz. Não será ele bem mais
culpado, se não a quiser ver? Poderá
desculpar-se com a sua ignorância, quando ele
mesmo haja escrito com suas mãos, visto com seus
próprios olhos e pronunciado com a própria boca
a sua condenação? Se não aproveitar, será então
punido pela perda ou pela perversão da faculdade
que lhe fora outorgada e da qual, nesse caso, se
aproveitam os maus Espíritos para o obsidiarem e
enganarem, sem prejuízo das aflições reais com
que Deus castiga os servidores indignos e os
corações que o orgulho e o egoísmo endureceram.
A mediunidade não implica necessariamente
relações habituais com os Espíritos Superiores.
É apenas uma aptidão para servir de instrumento
mais ou menos útil aos Espíritos, em geral. O
bom médium, pois, não é aquele que se comunica
facilmente com os Espíritos, mas aquele que é
simpático aos bons Espíritos e somente deles tem
assistência. Unicamente neste sentido é que
a excelência das qualidades morais se torna
onipotente sobre a mediunidade”.
Manoel Philomeno de Miranda esclarece:
"(...) a mediunidade é expressão inerente ao
homem, por cujo meio lhe é possível entrar em
contato com outras faixas vibratórias, além e
aquém daquelas que são captadas pelos seus
equipamentos sensoriais.
(...) A mediunidade lutou e ainda luta contra as
vãs tentativas de negar a veracidade do
intercâmbio entre os encarnados e desencarnados.
(...) A hipótese de que o subconsciente é o
responsável pelas personificações parasitárias e
anômalas foi a primeira levantada contra a
mediunidade, dando surgimento às conceituações
negativas apressadas, como patologias inerentes
ao indivíduo, por cujo intermédio pareciam
comunicar-se as almas dos mortos. A histeria,
por sua vez, foi posta para coadjuvar tão
aberrante diagnóstico, que teria fundamento
fisiológico no polígono cerebral, de Wundt,
encarregado de arquivar os conflitos e as
frustrações que se corporificariam como estados
de alienação, credora de tratamento
especializado, em detrimento da possibilidade de
comunicação espiritual.
Mais tarde o inconsciente de Freud,
assumiu a responsabilidade por tal degradação da
personalidade, que ocultava na sua gênese,
qualquer tipo de distúrbio da libido. (...) Não
afirmamos que sejam totalmente destituídas de
respeito tais possibilidades, porquanto o
fenômeno anímico é uma ocorrência presente, como
se pode depreender, na estrutura do mediúnico,
sem prejuízo para este. Todavia,
sobrepondo-se a toda a gama de mecanismos
automatistas do inconsciente e das
interferências psíquicas outras, flui cristalina
a mensagem dos Imortais, confirmando a sua
realidade e oferecendo largo campo de estudos a
respeito da vida e do homem em si mesmo. (...)
Não procedem, desse modo, as alegações a
respeito de que a mediunidade é miséria
psicológica ou responsável pelos danos que
afligem aquelas pessoas dotadas.
O conhecimento de tão peregrina função ou dom da
vida auxilia o crescimento moral e o
desenvolvimento psíquico, criando um clima de
paz invejável, que passa a desfrutar aquele que
a respeita e a utiliza corretamente.
Allan Kardec afirmou com altas razões que ela é
manifestação anômala, às vezes, na personalidade
humana, porque especial; jamais, porém, de
natureza patológica, visto que "há médiuns de
saúde robusta; os doentes o são por outras
causas”.
De acordo com a direção que se lhe dê, pode a
mediunidade converter-se em motivo de
aprimoramento espiritual ou motivo de
perturbação ou enfermidade. Se conduzido a
precioso labor, o instrumento mediúnico,
mediante segura constrição, irá adquirir vasto
patrimônio de equilíbrio e iluminação ao mesmo
tempo em que irá resgatando os compromissos
negativos a que se encontra vinculado pelas
pretéritas defecções.
Se a mediunidade, por outro lado, surge como
impositivo provacional, ainda assim, o médium
que lhe experimenta os efeitos, poderá granjear
consideração e títulos beneméritos que lhe
conferirão paz, desde que dilate o exercício da
nobilitada missão a que se dedica.
“(...) Após a documentação Kardequiana que
compõe a Codificação Espírita, a
mediunidade abandonou as lendas e ficções,
os florilégios do sobrenatural e do miraculoso,
superando as difamações de que foi vítima,
para ocupar o seu legítimo lugar, recebendo
das modernas ciências psíquicas, psicológicas e
parapsicológicas o respeito e o estudo que
lhe desdobram os meios, contribuindo com
abençoados recursos de que a Psiquiatria se
pode utilizar, como outros ramos das Ciências,
para solucionar um sem-número de problemas
físicos, emocionais, psíquicos e sociais que
afligem a moderna e atormentada sociedade
hodierna.
Os exercícios da mediunidade com Jesus, isto é,
na perfeita aplicação dos seus valores a
benefício da criatura, em nome da Caridade, é
que o ser atinge a plenitude das suas funções e
faculdades, convertendo-se em celeiro de
bênçãos, semeador da saúde espiritual e da paz
nos diversos terrenos da vida humana na Terra”.
Kardec adverte: "a
mediunidade é coisa santa, e deve ser praticada
santamente, religiosamente”.
Assim procedendo, a faculdade mediúnica
tornar-se-á fator de equilíbrio, esparzindo paz
e harmonia onde quer que viceje, alterando
sobremaneira as escuras paisagens do Planeta,
fazendo raiar o Sol da esperança e do amor onde
antes só havia desespero e trevas.
-
KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o
Espiritismo. 125.ed. Rio [de
Janeiro]: FEB, 2006, cap. XXIV-12.
-
KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o
Espiritismo. 125.ed. Rio [de
Janeiro]: FEB, 2006, cap. XXVI-10.