Reencarnação de
arrumação
Aderaldo era
feitor de
escravos nos
idos de 1820.
Impiedoso, esse
negro forro
castigava seus
irmãos com a
dureza do
chicote e a
crueldade da
tortura.
Disciplinador,
usava e abusava
da aproximação
do poder,
perseguindo seus
desafetos e
tomando para si
as mulheres que
desejava. O
pequeno poder
transbordava
desse espírito
encarnado, até o
momento que a
desencarnação o
traz de volta a
realidade, como
faz com todos
nós.
Passado um longo
tempo na
espiritualidade,
aprisionado nos
fantasmas de sua
mente, tenta uma
encarnação na
Europa em
família judia
antes da eclosão
da segunda
grande guerra,
mas a encarnação
fracassa pela
força do medo.
Mais preparo,
mais
aprendizado, e
se busca de novo
o resgate frente
a tudo de
destrutivo que a
sua trajetória
deixou de
herança nos
outros e na sua
consciência.
A magia da
reencarnação o
conduz a nascer
no Brasil, no
Rio de Janeiro,
nos idos dos
anos 1950, em
família de
classe média,
vindo a
desencarnar como
adulto jovem de
forma dolorosa
pelas mãos da
repressão,
entrando na
lista de
desaparecidos,
sofrendo as
consequências da
lei que rege a
vida, nas ações
e reações, que
devem se
reverter em mais
amor, e não em
mais sofrimento.
Passada a
provação, os
amigos
espirituais
indicam a
Aderaldo que o
espera agora uma
reencarnação de
arrumação.
Depois da
inflexão de uma
encarnação de
muitas
complicações e
de uma de
resgate, é
preciso uma
passagem que com
alguma
normalidade,
permita a
retomada na
trajetória
espiritual,
digamos assim,
por vias mais
normais.
Nasce assim no
final da década
de 1970, em uma
família simples,
e tem seu
emprego, casa-se
e constitui
família, e nessa
nova jornada
reencontra
vários
personagens que
cruzaram sua
trajetória agora
como parentes
próximos.
Algozes e
vítimas o
cercam, na busca
de reconstruir
relações na rede
de atores que se
forma. E numa
vida considerada
normal, com as
dificuldades
naturais da vida
encarnada, vai
se arrumando, se
ajeitando para a
jornada da
evolução.
Essa historinha
fictícia, e que
dialoga com as
discussões da
doutrina
espírita,
ilustra uma
ideia de pulsos
no processo
evolutivo, que
não
necessariamente
segue uma
linearidade, e
que visa, no
aperfeiçoamento
do espírito,
lidar com
situações nas
quais nos vemos
muito afundados
nas nossas
próprias
imperfeições, e
precisamos de
uma retomada
nesse processo,
as vezes mais
diretiva, mas
que precisa
depois de uma
retomada com um
certo grau de
normalidade,
digamos assim.
Essa reflexão
nos induz a
questão de que a
lei é de amor, e
que somos
espíritos,
complexos, e que
o processo de
evolução tem
igual
complexidade, e
que por vezes
tentamos
pasteurizar
essas
trajetórias,
buscando anjos
ou demônios, sem
perceber as
nuanças da
beleza que é o
progresso
espiritual.