A ciência do sofrimento
Gradualmente, a ciência vai comprovando – através dos
seus rígidos métodos e achados – as teses espiritistas.
Ao despojar-se de preconceitos fortemente arraigados e
concentrando-se em oferecer respostas plausíveis para
certos fenômenos que regem a vida, a ciência certamente
se fortalece em seus postulados e escopos. Allan Kardec
havia previsto essa possibilidade, conforme observado n’O
Livro dos Espíritos, “Quando
as crenças espíritas se houverem vulgarizado, quando
estiverem aceitas pelas massas humanas (e, a julgar pela
rapidez com que se propagam, esse tempo não vem longe)
[...]. os sábios se renderão à evidência. lá chegarão,
individualmente, pela força das coisas”.
Seguindo adiante em suas graves ponderações, o
Codificador também indagou na mesma obra: “Como
pretender-se em algumas horas adquirir a Ciência do
Infinito! Ninguém, pois, se iluda: o estudo do
Espiritismo é imenso; interessa a todas as questões
da metafísica e da ordem social; é um mundo que
se abre diante de nós. Será de admirar que o
efetuá-lo demande tempo, muito tempo mesmo?” (ênfase
minha).
E a ciência cumprindo a sua sagrada missão, como afirmei
acima, vem avançando, por exemplo, no correto
entendimento do papel do sofrimento – assunto dos mais
sensíveis à humanidade. É fato inegável que tal questão
permeia nossas existências - aliás, sempre assim o foi –
a ponto de Jesus – o maior emissário de Deus de todos os
tempos – referir-se à necessidade de carregarmos nossas
próprias cruzes se desejássemos segui-lo
verdadeiramente. Pois bem. Nenhum indivíduo nessa
dimensão em que ora nos encontramos está isento de
passar pelas experiências espinhosas, seja pelas
privações, limites físicos, abandono, traições,
decepções, frustrações, derrotas pessoais, entre outras
tantas mazelas, que constituem o pano de fundo da vida
na Terra. E elas funcionam, essencialmente, como um
imperativo no estágio de desenvolvimento espiritual em
que nos situamos.
Por outro lado, cumpre também relembrar que, segundo as
entidades espirituais, há pelo menos três variações no
campo da dor que merecem nossa reflexão, a saber: a dor-evolução, que
nos ocorre de fora para dentro de nossas almas; a dor-expiação, que
abarca a necessidade de vivência de experiências
extremas nesse particular, notadamente reservada aos
Espíritos recalcitrantes à assimilação das leis
divinas; e, finalmente, as dores-auxílio, que nos
alcançam para que nos recuperemos de certos deslizes e
fracassos moldados na existência em curso, tais como: o
enfarte, a trombose, o câncer e outras doenças e
enfermidades, que acabam se manifestando em certo
momento geralmente devido aos nossos excessos. Desse
modo, até mesmo os anjos, apóstolos, missionários não
estão incólumes a essas penosas sensações, a despeito
das suas determinações na prática do bem e do provimento
de autêntica fraternidade aos seus semelhantes. O maior
exemplo nesse sentido é Jesus Cristo, que se sacrificou
para nos mostrar o caminho da luz.
Posto isto, vale sublinhar que “54. Nenhuma
ciência existe que haja saído prontinha do cérebro de um
homem. todas, sem exceção, são fruto de observações
sucessivas, apoiadas em observações precedentes, como
sobre um ponto conhecido para chegar ao desconhecido.
[...]”, como bem observou Kardec na
obra A Gênese. Nesse sentido, a
ciência parece estar felizmente começando a vislumbrar
uma melhor compreensão desse fenômeno, pelo menos é o
que se deduz do recente editorial do periódico acadêmico
internacional Frontiers in Psychology. Conforme
declaram os seus editores com entusiasmo, “Uma
nova ciência do sofrimento (também conhecida como
psicologia positiva do sofrimento) é necessária para
compreender melhor (1) diferentes tipos de sofrimento
(por exemplo, sofrimento necessário versus sofrimento
desnecessário) e (2) a bidirecionalidade do sofrimento
(ou seja, as condições sob as quais o sofrimento pode
degradar ou fortalecer-nos). Esta
nova ciência do sofrimento é essencial para criar um
quadro completo do florescimento humano, assim como a
ciência do controle da dor e da doença é essencial para
a saúde física e a ciência médica”.
Notem, portanto, que o sofrimento é agora cogitado como
potencial alavanca do progresso humano. Ao aventar tal
possibilidade/linha de investigação, a ciência
certamente comprova algo que o Espiritismo explica de
maneira racional há muito tempo. Essa aproximação cria
simetrias e alinhamentos, aliás, como bem observou
Kardec na referida obra, “[...] O
Espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente;
a ciência, sem o espiritismo, se acha na impossibilidade
de explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria;
ao espiritismo, sem a ciência, faltariam apoio e
comprovação[...]”.
Assim sendo, alcançamos o ponto em que o sofrimento
começa a ser visto – agora sem a oposição da ciência –
também como uma necessidade natural e inerente às
grandes conquistas humanas. Apesar desse avanço, não
devemos imaginar que a ciência abraçará imediatamente a
lei de causa e efeito no bojo das suas cogitações e
especulações. Afinal de contas, o elemento espiritual
ainda lhe foge ao entendimento, e o tema per se não
é visto com a devida atenção pelo chamado mainstream.
No entanto, a partir dessa nova perspectiva pode-se
conjecturar que as experiências dolorosas – cedo ou
tarde - serão compreendidas pelo que efetivamente
significam, ou seja, como passos fundamentais para que o
Espírito possa avançar em sua trajetória evolutiva.
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