Crescimento espiritual
Nos dias que decorrem, ouvimos falar com facilidade em
Espiritualidade.
Espalhou-se pelos quatro cantos do nosso redondo planeta
a ideia de sermos melhores, como tal recorremos ao que
de mais importante nos parece existir no ser, o
crescimento espiritual. Este parece ser o tesouro do
Reino de Deus.
Difundiu-se a meditação das mais diversas vertentes
doutrinárias e religiosas, o yoga, utilizando o corpo
físico como instrumento, as rezas e as orações das mais
diversas religiões. O sentido é o mesmo, crescer
espiritualmente ou descobrir a verdade, como o quiserem
chamar.
Aonde queremos chegar com o crescimento espiritual?
Parece-me que é de comum desejo atingirmos a paz e a
felicidade, o Reino de Deus, que, segundo o Mestre, está
dentro de nós.
Se já sabemos para onde queremos ir, temos de mapear a
viagem. Neste caso é mais difícil, porque não é um lugar
físico, mas um “espaço” dentro de nós, que
desconhecemos.
Se está em nós, por que o desconhecemos? Por que não
chego lá? Por que me sinto tão perdido em sua direção?
Parecem-me perguntas lógicas e importantes. Nós temos
vivido em busca deste “canto”.
Para caminharmos em direção ao Reino de Deus, temos de
retornar para dentro, pois é lá que este está. Aqui
apresenta-se outra dificuldade, pois existe um grande
número de pessoas que desconhecem o que é o lado de
dentro.
Vamos dividir em três, o lado de fora, o ser e o seu
funcionamento consciente e o lado de dentro.
O lado de fora é tudo o que acontece fora de nós, o
trabalho, a casa, a família etc.
O ser é onde acontece toda a interação do lado de dentro
com o lado de fora. As emoções, os sentimentos, os
pensamentos, toda a ação que acontece no ser.
O lado de dentro para nós é invisível, mas este é
enorme, cabe lá o Reino de Deus.
Tudo o que aparece no ser nasce em algum lado, é como a
nascente de água, embora seja o início visível, a água
não aparece por magia, vem de longos lençóis internos
que nos passam despercebidos.
Nós só vemos o movimento do ser ou movimento consciente,
é quando aparecem os impulsos, os desejos, os
pensamentos etc.
Este funcionamento consciente é impressionante, não
descansa nem abranda um pouco. Ele está em constante
movimento.
Imaginem que este funcionamento do ser são nuvens,
existem camadas em cima de camadas, constantemente.
Fazem uma parede enorme, por isso não conseguimos ter
qualquer deslumbre para o outro lado, tudo o que existe
para nós, são estes movimentos. Podemos falar na teoria
que somos muito mais dos que este movimento, mas não
passam de teorias, por isso somos escravizados pelos
movimentos que formamos mentalmente. Nossa mente não
para e nós tornamo-nos fantoches. O maior exemplo disto
são os impulsos de raiva, o ódio, o pânico, o medo, as
doenças psíquicas que estão todas neste nível, e
facilmente percebemos ser comandados por estes sem força
para os contrariar.
Como podemos ter um deslumbre do outro lado? Sentirmos
paz e amor?
Quando as nuvens estão na Terra, forma-se o nevoeiro em
que pouco vemos. Com a dispersão deste, vamos vendo um
pouco mais, até que desaparece.
É igual para nós. As terríveis nuvens que nos têm
escondido a “verdade” e mantido na ilusão, tem de
dispersar. Temos de abdicar do que aparece em nós, os
desejos viciantes físicos, como álcool em excesso, os
desejos morais, como a maledicência, o orgulho, o
egoísmo, abdicar do enorme desejo humano da razão, que
nos leva a discutir, dos impulsos de raiva e
agressividade. Temos que trocar estas coisas pelo
silêncio e estou certo que concordam comigo, quando
afirmo que são uma perda de tempo, sem qualquer
utilidade para nós.
Nós continuamos sob este funcionamento, porque é como um
enorme vicio, aparece em nós e nós seguimo-lo como um
burro segue a cenoura, sem força para modificarmos esta
forma de estar.
Se concorda comigo, já deu o primeiro passo, que foi o
de descobrir esta forma de funcionamento viciante, o
segundo é fazer frente.
As pessoas, para combaterem as más tendências que
descobrem em si, entram em uma luta terrível, tentando
ser pessoas melhores, que normalmente a perdem e
desistem. Não lute consigo, seja seu próprio companheiro
As más tendências nascem em nós, correto? Estas são uma
das maiores provas de que o nosso funcionamento é
automatizado, pois não as queremos, mas não conseguimos
deixar de as ter. Faz parte do treino terreno.
Se conseguíssemos deixar de as ter? Seria fantástico.
Esta forma de funcionamento impulsiva e viciosa tem
sucesso em nós, por estarmos a maioria do tempo
inconscientes do funcionamento desta. Os pensamentos
decorrem a uma velocidade de 50.000 por dia, segundo a
psicologia, o que dá quase um por segundo.
Tente estar consciente dos pensamentos, o que aconteceu?
Em pouco tempo o pensamento o levou e só deu conta já
dentro deste, quando voltou a tentar estar atento aos
pensamentos. Mas também aconteceu algo muito
interessante, a atenção ou consciência fez com que a
velocidade destes diminuísse.
O Mestre aconselhou-nos a vigiar, pois através do
pensamento nascem todas as nossas más tendências, no
nosso interior tudo é formado, a atenção é indispensável
se não queremos ser “escravizados” ao ponto das doenças
psíquicas ou os problemas.
A Vigia, ou atenção, ou desenvolvimento da consciência,
é indispensável a dissipação das nuvens do ser para
podermos começar a ter um deslumbre do outro lado.
Não esqueça, se da Vigia perceber uma má tendência, ore
para que não se torne em ação.
Bruno Abreu reside na cidade de Lisboa,
Portugal.
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