A educação moral dos filhos
Compete aos pais a formação moral dos seus filhos, e
nisso está a mais sublime tarefa de um educador, tarefa
essa que exige responsabilidade, verdadeira missão a que
os pais não podem se furtar, respondendo pelos atos dos
filhos enquanto estes se fazem dependentes. Em verdade,
pais de consciência culpada pela má educação oferecida a
seus filhos vivem dramas de remorso, mesmo quando estes
já são adultos.
Há pais que por indolência do próprio caráter,
apresentando uma culposa indiferença, estimulam os
caprichos dos filhos, não lhes corrigindo as más
tendências verificadas desde os primeiros instantes,
porque a criança é um espírito que já traz as
potencialidades a serem desenvolvidas, as tendências
inatas que cumpre serem desenvolvidas, se boas, ou
corrigidas, se más. Isso é competência primeira dos
pais, educadores da alma infantil que lhes procura para
receber no seio da família a preparação para o viver
social.
Num mundo em que as más tendências do caráter
predominam, a correção das mesmas é entendida como sendo
o uso de métodos violentos. Tenta-se educar pelas
surras, pelos castigos corporais, pelo uso de
vocabulário degradante, quando a educação está no amor
conjugado com a disciplina, está nos bons exemplos a que
os pais devem se obrigar em dar a seus filhos.
Como podemos exigir o cumprimento de obrigações, como
podemos deplorar comportamentos, quando somos os
primeiros a não cumprir com essas mesmas obrigações e
quando nossos exemplos não servem para serem seguidos?
Quantas vezes temos surpreendido mães utilizando de
violência física acompanhada de palavrório fútil, porque
seu filho pronunciou uma palavra de baixo significado?
Como pode ela exigir cuidado com as palavras quando não
dá exemplo? O filho, com naturalidade, pensará: “se
minha mãe pode usar essas palavras, por que eu não
posso?”. Mas não lhe oferecem explicações, apenas
atitudes violentas, nem se preocupam em realizar uma
autoeducação que seria muito mais proveitosa para os
olhos da infância.
Estimulam-se vícios os mais diversos e depois se queixam
do comportamento que os filhos observam na família e nos
outros meios sociais. Na verdade, os pais deveriam
queixar-se de si mesmos. Deveriam realizar um exame de
consciência, não quanto aos esforços de proporcionar a
educação ou a ilustração da inteligência, mas em relação
ao que fazem no capítulo da educação moral.
Mesmo quando os pais revelam certo conhecimento do seu
papel na formação dos filhos, desviam a educação para a
total liberdade, deixando os filhos livres para fazer o
que quiserem, pois assim eles crescerão sem traumas e
sem as interferências prejudiciais da autoridade que
pode lhes cercear o desenvolvimento. Essa explicação não
tem respaldo no bom senso nem nas pesquisas pedagógicas.
A liberdade sem responsabilidade cria verdadeiros
monstros. Como aquelas crianças que, numa visita,
precisam ser agarradas pelos pais para não destruírem a
casa alheia, de tão acostumadas a agirem plenamente em
liberdade, sem consideração à propriedade e aos direitos
do semelhante.
Ou aquela criança sem cerimônia, que não diz para onde
vai, com quem vai, e chega como autoconvidada, sem dar
maiores satisfações, demonstrando que respeito é matéria
ultrapassada no processo educacional. Será mesmo?
Estes exemplos, que denominamos cenas de educação
familiar, acontecem sob a indiferença ou o beneplácito
dos pais, que a tudo assistem sem qualquer reação,
espantando-se mais tarde quando os filhos os deixam de
lado e enveredam pela filosofia materialista de
enxergarem apenas a si mesmos, sem outro sentimento.
Esse é o resultado do descuido com a formação do
caráter, afastando o educando da sua realidade de alma
criada por Deus para o progresso, o que depende nesta
existência da tarefa educacional dos pais, que, como já
o dissemos, tem a missão de educar e não simplesmente de
cuidar.
O ideal da formação moral e a família
Desde que compete aos pais educar seus filhos, tendo
nisso uma missão pela qual devem responder, e sendo a
educação o desenvolvimento das potencialidades morais e
intelectuais, onde os exemplos e sentimentos afetivos
preponderam na formação do caráter, é, sem dúvida, que
encontramos na família o ideal da educação moral.
A criança, nos primeiros estágios de seu
desenvolvimento, é dependente dos cuidados e dos afetos
dos pais, sendo fortemente influenciada pelos estímulos
que recebe por parte dos que a devem proteger e amar.
Ninguém e nenhuma instituição pode substituir as noites
mal dormidas de quem vela a cabeceira do filho. Quem
fornece as primeiras palavras a serem ouvidas pelo
recém-nascido? Quem lhe entrega sorrisos, abraços,
carinhos? Quem chora junto com o choro da criança, ainda
um ser frágil lutando por dominar o organismo físico?
São os pais, missionários da educação moral de seus
filhos no ambiente familiar.
A formação moral é feita através de alguns elementos que
sobram na organização familiar.
O primeiro deles é o exemplo, empregado pelos
pais até mesmo de forma automática, semiconsciente. Os
pais são espelhos em que os filhos se refletem, por isso
os cuidados com as atitudes e as palavras diante deles e
também diante dos outros, pois o exemplo não pode ser um
aqui e outro ali. No exemplo encontramos a força da
educação moral.
O segundo elemento encontrado na família é a conduta
afetiva. Para uma boa formação moral é
imprescindível integrar o educando numa atmosfera de
bons sentimentos. É necessário que ele se sinta aceito,
estimulado a mostrar quem ele é e quais são suas
tendências e suas potencialidades. O afeto entre pais e
filhos, educadores e educandos, possui alcance moral
muito maior que qualquer recurso didático.
Temos o terceiro elemento, o sentido de união,
muito importante para fazer com que os filhos,
sentindo-se protegidos, amparados e estimulados, possam
dar seus primeiros passos com segurança, sabedores que
os pais ali estão para ampará-los quando necessário, mas
sem coibir-lhes as experiências, os eventuais erros e
acertos, experiências essas que serão feitas
procurando-se sempre o melhor para um caráter bem
formado, consciente.
A família é detentora dos elementos primordiais para
levar a efeito a educação moral, entretanto, nem sempre
consegue resultados satisfatórios, isso porque a família
vem sofrendo um processo de afrouxamento de seus laços,
tendo perigosamente caminhado para os interesses
egoístas e imediatos das coisas que dizem respeito
somente ao prazer material, e de forma individual.
Siga-se o caminho dos interesses coletivos e
espiritualistas e a missão educadora da formação moral
será resgatada por essa mesma família.
Pelo fato de termos na família o ideal da formação moral
não se segue que somente ela possa trabalhar esse
aspecto, primordial, da educação.
A moral também pode ser, e deve ser, objeto da escola.
As metodologias pedagógicas só podem ser consideradas
completas levando em conta a educação da moral.
Na educação, a família não pode ser desprezada. Sua
influência é por demais sensível, e boa parte dos males
do fracasso do ensino se deve a termos relegado a
família a plano secundário, desligando-a da escola, do
sistema escolar, das ideias educacionais e das
filosofias da educação, e, numa outra vertente,
retirando dela a parte que lhe cabe na formação da
estrutura da sociedade.
Enquanto a família estiver reduzida a um grupo que
habita momentaneamente uma casa, sem maiores vínculos,
estaremos envolvidos com graves questões que somente uma
visão da educação moral do homem poderá resolver, e que
o Espiritismo tão bem elucida com a imortalidade da alma
a reencarnação e a destinação futura do espírito que
hoje se encontra na experiência da existência humana.
Marcus De Mario é escritor, educador,
palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo on-line de
estudo espírita; edita o canal Orientação Espírita no
YouTube; possui mais de 35 livros publicados.