A
eutanásia
esquecida
Série de
televisão da
Disney de grande
sucesso na
década de 1990,
a “Família
Dinossauro” se
caracterizava
por um humor
satírico e
crítico que
abordava temas
complexos por
meio de
situações
cotidianas. O
episódio “O dia
do arremesso”
tratava de uma
tradição na
sociedade dos
dinossauros na
qual ao
completar 72
anos, a pessoa
era sacrificada
pela família,
sendo jogada num
poço de piche,
por ser inútil e
um estorvo para
a sociedade. Uma
espécie de
eutanásia
motivada por
questões
econômicas e
sociais.
O movimento
espírita, desde
a década de
1990, mantém
forte campanha
em defesa da
vida, na qual um
dos temas de
trabalho é a
eutanásia, como
prática a ser
evitada, havendo
vasta produção
de textos,
psicografados ou
não, cartilhas,
e palestras
sobre o tema,
que é imerso de
polêmicas, com
uma visão
uníssona de que
a discussão da
eutanásia se
restringe a
pessoa que
padece de uma
doença terminal,
com grande
sofrimento, e se
seria legítimo,
em uma visão
espírita,
abreviar a sua
encarnação.
Os avanços da
tecnologia, do
suporte à vida
com
equipamentos,
tornam essa
discussão mais
acalorada nas
fileiras
espíritas, em
infindáveis
dilemas éticos,
mas o fenômeno
da eutanásia tem
outros vieses,
como questões
culturais de
povos que
sacrificam seus
nascidos
deficientes, ou
ainda, as
discussões sobre
capacitismo (1) de
idosos e o valor
da vida, como
debatido pelo
episódio da
família
dinossauro.
Para não achar
que essas coisas
orbitam apenas o
mundo da ficção,
basta lembrar
que em janeiro
de 2013, o então
primeiro
ministro do
Japão, como
relata a
imprensa, fez
uma infeliz fala
no sentido de
que os idosos
eram muito
onerosos para a
previdência e
para a saúde.
Como no episódio
da família
dinossauro, a
desumanização de
um pragmatismo
que desvaloriza
os que
necessitam de
cuidados da
sociedade,
incluídos aí os
idosos e
deficientes, não
deixa de ser uma
visão similar a
eutanásia, não
pelo alívio da
dor do enfermo,
mas pela visão
de que a
produtividade é
um critério para
justificar a
existência ou
não de um
indivíduo.
Apesar de ser
abjeto, esse
tipo de
pensamento
permeou vários
momentos da
história da
humanidade,
sempre na
invocação de um
custo benefício
que justifique
escolhas que não
coloquem a vida
com um bem
supremo,
argumento que se
robustece no
espiritismo, por
ver nesta a
oportunidade de
evolução e
crescimento
espiritual.
Aqueles mais
fragilizados,
como idosos e
deficientes,
necessitam de
cuidado por
parte da
sociedade, na
solidariedade
intergeracional,
uma outra
dimensão do
“amai-vos uns
aos outros”, e
que nos indica a
necessidade de
humanização
permanente dos
problemas
sociais e das
soluções
propostas, para
que a defesa da
vida tenha um
caráter amplo e
que dialogue com
a realidade dos
espíritos
encarnados.
(1) Capacitismo:
discriminação de
pessoas com
algum tipo de
deficiência.