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por Marcus Vinicius de Azevedo Braga

 

A eutanásia esquecida


Série de televisão da Disney de grande sucesso na década de 1990, a “Família Dinossauro” se caracterizava por um humor satírico e crítico que abordava temas complexos por meio de situações cotidianas. O episódio “O dia do arremesso” tratava de uma tradição na sociedade dos dinossauros na qual ao completar 72 anos, a pessoa era sacrificada pela família, sendo jogada num poço de piche, por ser inútil e um estorvo para a sociedade. Uma espécie de eutanásia motivada por questões econômicas e sociais.

O movimento espírita, desde a década de 1990, mantém forte campanha em defesa da vida, na qual um dos temas de trabalho é a eutanásia, como prática a ser evitada, havendo vasta produção de textos, psicografados ou não, cartilhas, e palestras sobre o tema, que é imerso de polêmicas, com uma visão uníssona de que a discussão da eutanásia se restringe a pessoa que padece de uma doença terminal, com grande sofrimento, e se seria legítimo, em uma visão espírita, abreviar a sua encarnação.

Os avanços da tecnologia, do suporte à vida com equipamentos, tornam essa discussão mais acalorada nas fileiras espíritas, em infindáveis dilemas éticos, mas o fenômeno da eutanásia tem outros vieses, como questões culturais de povos que sacrificam seus nascidos deficientes, ou ainda, as discussões sobre capacitismo (1) de idosos e o valor da vida, como debatido pelo episódio da família dinossauro.

Para não achar que essas coisas orbitam apenas o mundo da ficção, basta lembrar que em janeiro de 2013, o então primeiro ministro do Japão, como relata a imprensa, fez uma infeliz fala no sentido de que os idosos eram muito onerosos para a previdência e para a saúde. Como no episódio da família dinossauro, a desumanização de um pragmatismo que desvaloriza os que necessitam de cuidados da sociedade, incluídos aí os idosos e deficientes, não deixa de ser uma visão similar a eutanásia, não pelo alívio da dor do enfermo, mas pela visão de que a produtividade é um critério para justificar a existência ou não de um indivíduo.

Apesar de ser abjeto, esse tipo de pensamento permeou vários momentos da história da humanidade, sempre na invocação de um custo benefício que justifique escolhas que não coloquem a vida com um bem supremo, argumento que se robustece no espiritismo, por ver nesta a oportunidade de evolução e crescimento espiritual.

Aqueles mais fragilizados, como idosos e deficientes, necessitam de cuidado por parte da sociedade, na solidariedade intergeracional, uma outra dimensão do “amai-vos uns aos outros”, e que nos indica a necessidade de humanização permanente dos problemas sociais e das soluções propostas, para que a defesa da vida tenha um caráter amplo e que dialogue com a realidade dos espíritos encarnados.

 

(1) Capacitismo: discriminação de pessoas com algum tipo de deficiência.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita