Por que
Deus não atende todos os
nossos pedidos?
Não é incomum que o
crente – de qualquer
corrente religiosa,
diga-se - tenha a
expectativa de, ao
dirigir-se a Deus, ver
todas as suas súplicas
atendidas pelo Criador.
Também não é incomum que
muitos cultivem uma
relação de troca com ele
na qual o tamanho da fé
é mediado por esse
distorcido entendimento.
Posto isto, é forçoso
ponderar sobre o teor do
petitório em nossas
orações, pois a fé
racional não abdica da
correta compreensão
sobre o que é aceitável
solicitar ao Pai
celestial.
A propósito, o Espírito
Emmanuel recomenda, no
livro Vinha de Luz (psicografia
de Francisco Cândido
Xavier), ser
indispensável “recorrer
a Jesus para a solução
de nossos problemas
fundamentais”. Eis a
questão central que
norteia a presente
reflexão: saber definir
o que é, de fato, um
problema vital a ser
enfocado em nossas
preces. Afinal de
contas, nem tudo o que
rogamos aos maiorais da
espiritualidade pode ser
enquadrado nessa
categoria. Aliás, não é
novidade para ninguém
que determinadas
religiões estão mais
para um “balcão de
negócios” do que para
instrumentos de real
transformação interior
humana. Tal abordagem,
convenhamos, em nada
ajuda o aderente a tal
credo - pelo menos no
que concerne aos seus
concretos desafios
existenciais. A
perspectiva material,
embora merecedora de
justas preocupações, não
supre as necessidades da
alma. Estas requerem
outro tipo de alimento e
enfoque, aliás, muito
diferentes das coisas
que absorvem a nossa
atenção.
Analisando essa
problemática, Emmanuel
argumenta que não é
suficiente de nossa
parte apenas “aprender a
rogar”, mas igualmente
devemos meditar sobre “a
arte de receber”. No
entanto, ainda segundo
ele, sucede que não raro
ocorrem desajustes entre
o que pedimos e
recebemos efetivamente
da Providência Divina.
Tal discrepância advém
do fato de que nossa
percepção das coisas
celestiais é ainda muito
estreita. Nesse sentido,
via de regra desfilamos
um rosário de pedidos e
rogos descabidos,
insensatos até mesmo
infantis ao Criador ou
seus missionários.
Explicando melhor, não
faz sentido rogar ao Pai
– seja para nós ou para
os nossos entes queridos
- por exemplo, um bom
par amoroso, riquezas,
bens materiais, desejos
de vinganças e coisas
desse jaez. Há,
portanto, que saber
pedir ao nos dirigirmos
a Deus. Lembra, a
propósito, a citada
entidade espiritual que
“Em muitos casos, a
Providência Divina nos
visita em forma de
doença, escassez e
contrariedade...” E tais
possibilidades decorrem
das nossas imensas
necessidades
espirituais, que só ele
conhece em profundidade,
e daí advém as terapias
existenciais em nosso
favor nem sempre suaves
ou brandas.
Por isso, é fundamental
que tenhamos em mente,
considerando o degrau
evolutivo em que nos
situamos, que precisamos
ardentemente de
experiências educativas
contundentes para o real
despertamento do nosso
Cristo interior. De
fato, o nosso valor como
criaturas de Deus só
pode ser devidamente
aquilatado mediante o
enfrentamento de testes
purificadores para que
nossas virtudes
latentes, enfim,
aflorem. A nossa luz
interior só poderá
despontar rumo a
eternidade através do
aperfeiçoamento da nossa
personalidade e maneira
de ser.
Como Deus conhece
plenamente a nossa
trajetória, os nossos
males e deficiências,
ela sabe o que é melhor
para nós – o que nem
sempre se coaduna com a
nossa limitada maneira
de pensar. Posto isto,
no devido tempo ele nos
envia as provas
libertadoras que nos
cabem receber – sem
exagero - como uma
espécie de presentes.
Elas não visam, em
hipótese alguma, nossa
destruição, mas,
sobretudo, oportunidades
para o nosso progresso
espiritual. Então,
recebamos os desgostos,
as desilusões, doenças,
decepções e reveses como
parte do aprendizado. Às
vezes, cabe frisar,
somos alvos de expiações
acerbas das quais
carecemos, de modo a
harmonizar-nos às leis
cósmicas.
Considerando a realidade
imposta, o que pedir,
então, a Deus em nossas
orações? O que pode ser
sensato e sábio a ele
rogar? Diante do
exposto, é melhor rogar
ao Senhor forças para
resistirmos às
tempestades do caminho,
inspiração para
acertamos em nossas
decisões, paciência e
resignação para lidarmos
com as dificuldades de
toda ordem, sabedoria
para discernirmos o bem
do mal, visão para
enxergarmos a verdade
dos fatos, sensibilidade
para olharmos nossos
semelhantes e suas
necessidades com
compaixão e espírito de
fraternidade, coragem
nos supremos
testemunhos,
determinação em nossos
propósitos no bem e no
autoaperfeiçoamento, e,
sobretudo, fé e
humildade em todos os
momentos da nossa vida.
Como diamantes brutos, o
Pai nos ajuda com
incomensurável boa
vontade a lapidarmos as
nossas imensas
imperfeições morais.
Nesse sentido, busquemos
sempre o seu amparo e
inspiração em nossos
passos.
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