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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Por que Deus não atende todos os nossos pedidos?


Não é incomum que o crente – de qualquer corrente religiosa, diga-se - tenha a expectativa de, ao dirigir-se a Deus, ver todas as suas súplicas atendidas pelo Criador. Também não é incomum que muitos cultivem uma relação de troca com ele na qual o tamanho da fé é mediado por esse distorcido entendimento. Posto isto, é forçoso ponderar sobre o teor do petitório em nossas orações, pois a fé racional não abdica da correta compreensão sobre o que é aceitável solicitar ao Pai celestial.

A propósito, o Espírito Emmanuel recomenda, no livro Vinha de Luz (psicografia de Francisco Cândido Xavier), ser indispensável “recorrer a Jesus para a solução de nossos problemas fundamentais”. Eis a questão central que norteia a presente reflexão: saber definir o que é, de fato, um problema vital a ser enfocado em nossas preces. Afinal de contas, nem tudo o que rogamos aos maiorais da espiritualidade pode ser enquadrado nessa categoria. Aliás, não é novidade para ninguém que determinadas religiões estão mais para um “balcão de negócios” do que para instrumentos de real transformação interior humana. Tal abordagem, convenhamos, em nada ajuda o aderente a tal credo - pelo menos no que concerne aos seus concretos desafios existenciais. A perspectiva material, embora merecedora de justas preocupações, não supre as necessidades da alma. Estas requerem outro tipo de alimento e enfoque, aliás, muito diferentes das coisas que absorvem a nossa atenção.

Analisando essa problemática, Emmanuel argumenta que não é suficiente de nossa parte apenas “aprender a rogar”, mas igualmente devemos meditar sobre “a arte de receber”. No entanto, ainda segundo ele, sucede que não raro ocorrem desajustes entre o que pedimos e recebemos efetivamente da Providência Divina. Tal discrepância advém do fato de que nossa percepção das coisas celestiais é ainda muito estreita. Nesse sentido, via de regra desfilamos um rosário de pedidos e rogos descabidos, insensatos até mesmo infantis ao Criador ou seus missionários.

Explicando melhor, não faz sentido rogar ao Pai – seja para nós ou para os nossos entes queridos - por exemplo, um bom par amoroso, riquezas, bens materiais, desejos de vinganças e coisas desse jaez. Há, portanto, que saber pedir ao nos dirigirmos a Deus. Lembra, a propósito, a citada entidade espiritual que “Em muitos casos, a Providência Divina nos visita em forma de doença, escassez e contrariedade...” E tais possibilidades decorrem das nossas imensas necessidades espirituais, que só ele conhece em profundidade, e daí advém as terapias existenciais em nosso favor nem sempre suaves ou brandas.

Por isso, é fundamental que tenhamos em mente, considerando o degrau evolutivo em que nos situamos, que precisamos ardentemente de experiências educativas contundentes para o real despertamento do nosso Cristo interior. De fato, o nosso valor como criaturas de Deus só pode ser devidamente aquilatado mediante o enfrentamento de testes purificadores para que nossas virtudes latentes, enfim, aflorem. A nossa luz interior só poderá despontar rumo a eternidade através do aperfeiçoamento da nossa personalidade e maneira de ser.

Como Deus conhece plenamente a nossa trajetória, os nossos males e deficiências, ela sabe o que é melhor para nós – o que nem sempre se coaduna com a nossa limitada maneira de pensar. Posto isto, no devido tempo ele nos envia as provas libertadoras que nos cabem receber – sem exagero - como uma espécie de presentes. Elas não visam, em hipótese alguma, nossa destruição, mas, sobretudo, oportunidades para o nosso progresso espiritual. Então, recebamos os desgostos, as desilusões, doenças, decepções e reveses como parte do aprendizado. Às vezes, cabe frisar, somos alvos de expiações acerbas das quais carecemos, de modo a harmonizar-nos às leis cósmicas.

Considerando a realidade imposta, o que pedir, então, a Deus em nossas orações? O que pode ser sensato e sábio a ele rogar? Diante do exposto, é melhor rogar ao Senhor forças para resistirmos às tempestades do caminho, inspiração para acertamos em nossas decisões, paciência e resignação para lidarmos com as dificuldades de toda ordem, sabedoria para discernirmos o bem do mal, visão para enxergarmos a verdade dos fatos, sensibilidade para olharmos nossos semelhantes e suas necessidades com compaixão e espírito de fraternidade, coragem nos supremos testemunhos, determinação em nossos propósitos no bem e no autoaperfeiçoamento, e, sobretudo, fé e humildade em todos os momentos da nossa vida. Como diamantes brutos, o Pai nos ajuda com incomensurável boa vontade a lapidarmos as nossas imensas imperfeições morais. Nesse sentido, busquemos sempre o seu amparo e inspiração em nossos passos.          
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita