Novos pensamentos, novas ações
Procuramos elaborar neste texto algumas reflexões e
sugestões aos Centros Espíritas e ao movimento espírita
em geral, face à queixa de muitos dirigentes sobre o
afastamento de frequentadores e tarefeiros das
atividades, após a pandemia da Covid. Sabemos que,
durante o período da grave pandemia, por força de lei e
dos protocolos de segurança sanitária, os Centros
Espíritas não puderam realizar reuniões e atividades
presenciais, migrando muitas delas para o modo online
através da internet. Pouco a pouco, com o advento das
vacinas, a pandemia foi passando e as atividades
presenciais foram sendo retomadas, tendo cada Centro
Espírita deliberado a seu tempo quanto a esse retorno. O
fato é que houve diminuição no número de tarefeiros e de
frequentadores, e devemos nos perguntar, diante desse
fato, qual a causa ou causas desse fenômeno, para
podermos estabelecer ações que visem levar o público
novamente aos Centros Espíritas e aos eventos promovidos
pelo movimento espírita.
Uma primeira observação a fazer, e que constatamos em
conversas com dirigentes dos Centros Espíritas de várias
regiões do país, é que muitas instituições levaram tempo
muito longo para retorno das atividades presenciais.
Temos notícia de Centros Espíritas que ficaram com as
portas fechadas ou com funcionamento parcial, por dois
anos, o que consideramos tempo demasiado longo, propício
para causar o afastamento das pessoas. Muitas se
acomodaram com o conforto do lar, acompanhando palestras
a distância, e agora estudam o Espiritismo apenas e tão
somente no modo online. Nada temos contra a internet e
suas ferramentas, muito úteis quando utilizadas para o
bem, e nós mesmos muito as utilizamos, mas somos seres
de relação, e existem atividades que somente obtém bons
resultados no modo presencial. Como fazer reunião de
desobsessão pela internet? Como evangelizar crianças e
jovens somente por aplicativos? Como esclarecer e
consolar apenas por WhatsApp? Como socorrer através do
passe apenas a distância, virtualmente? Não é possível
desenvolver a assistência e promoção social pela
internet.
Algumas pessoas, e num número considerável, alegam que
evitam ir ao Centro Espírita por terem medo da
aglomeração das pessoas num recinto fechado, qual o da
reunião pública de palestra, ou do grupo de estudo, ou
ainda da reunião mediúnica. Essa alegação carece de
fundamento diante da frequência, dessas mesmas pessoas,
aos shoppings, aos cinemas, aos teatros, aos
supermercados, aos transportes públicos e aos
estabelecimentos profissionais em que atuam. Por que
somente o Centro Espírita é perigoso? As redes sociais
estão repletas de fotos e vídeos de espíritas fazendo
turismo, o que não é proibido, ou seja, vive-se
normalmente a vida, menos incluindo nela o Centro
Espírita. Isso representa uma grande contradição, pois
sabemos que o Centro Espírita recebe a proteção das
equipes benfeitoras espirituais, e ficar infectado por
um vírus ou uma bactéria pode acontecer em qualquer
lugar, por qualquer motivo, e não necessária e
especificamente no Centro Espírita.
Somos seres relacionais, dependemos uns dos outros, e
não há inteligência artificial, robótica, aplicativo,
que possa substituir o abraço entre duas ou mais
pessoas. Nosso progresso moral e intelectual é realizado
na convivência, na troca, no apoio mútuo, e isso fica
bastante limitado no modo online. Muitas pessoas estão
sofrendo de depressão e outras síndromes por motivo de
estarem muito isoladas, muito sozinhas, restritas ao
ambiente doméstico e à internet, isso quando tem esse
acesso e com boa qualidade.
Precisamos retomar, com urgência, as atividades
presenciais no Centro Espírita e também no movimento
espírita, voltando a realizar congressos, seminários,
encontros, cursos. Se tudo voltou ao normal, inclusive
as igrejas católica e protestante (evangélica), porque
os Centros Espíritas estão à míngua de público e
tarefeiros?
Os dirigentes espíritas precisam rever seus
procedimentos, seu entendimento do Espiritismo e do
papel de relevância do Centro Espírita. Não é mais
possível ficar apenas se queixando da falta das pessoas,
sem mudar uma única vírgula em suas ações. E uma ação
urgente é melhorar a comunicação, utilizando, por
exemplo, as redes sociais como ferramentas de apoio na
divulgação. Também utilizar as palestras públicas para
falar do Centro Espírita e suas atividades, convidando o
público a se engajar nas mesmas, mostrando o que se faz
e porque se faz. Naturalmente os dirigentes não podem
ser centralizadores, sabendo trabalhar com a delegação
de tarefas, sabendo ouvir as ideias, e sabendo
implementar com dinamismo o que for bom e útil.
Aqui precisamos dar uma palavra sobre a reunião pública
de palestra. É a porta de entrada do Centro Espírita e
do próprio Espiritismo. Os temas têm que ser adequados à
diversidade do público e suas necessidades. Não cabe, à
guisa de exemplo, pedir para o palestrante falar sobre
Perispírito e suas Propriedades, ou Gênese da Criação
Divina, temas para grupo de estudo e não para palestra
pública, onde melhor se adequam temas ligados ao
Evangelho: Por que Sofremos?; Como Amar o Nosso Próximo;
Perdoar é Viver Melhor e assim por diante. Tanto o
dirigente quanto o palestrante devem lembrar que tem
diante de si pessoas com nenhum ou pouco conhecimento do
Espiritismo, e que muitas vezes ali estão para serem
esclarecidas e consoladas diante de provas e expiações
pelas quais estão passando.
Aliar o presencial com o online não é problema. O
problema é ficar apenas com o online. O problema é
repetir indefinidamente procedimentos que não estão
dando certo, que não alcançam os resultados desejados.
Recomendamos aos dirigentes espíritas a leitura e
meditação dos livros Centro Espírita (José
Herculano Pires); Centro Espírita, Escola de Almas (minha
autoria); As Dimensões Espirituais do Centro Espírita (Suely
Caldas Schubert); Centro Espírita: Tendências e
Tendenciosidades (César Braga Said), entre outros de
real valor e importância, que servirão de base para
novos pensamentos e novas ações diante dos tempos atuais
e visando um futuro melhor para a humanidade.
Se estão faltando frequentadores, precisamos convidá-los
com afetivo acolhimento. Se estão faltando tarefeiros,
precisamos qualificar novos tarefeiros. O que não pode
acontecer é o Centro Espírita comemorar 50 anos de
existência e os dirigentes se orgulharem de fazer tudo
igual como era feito naquele tempo. Infelizmente essa
história é verídica, presenciada por este que escreve
estas linhas.
Dizem-nos os Espíritos Superiores que o Espiritismo, bem
compreendido, é o remédio que irá destruir o egoísmo.
Estamos bem compreendendo o Espiritismo e, igualmente, o
Centro Espírita?
Marcus De Mario é escritor,
educador, palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo
on-line de estudo espírita; edita o canal Orientação
Espírita no YouTube; possui mais de 35 livros
publicados.