O sentido
da vida
Muitas das pessoas
perguntam-se: qual o
sentido de suas vidas?
A resposta parece tão
difícil, porque vemos o
sentido como uma
direção, para onde me
devo virar? O que devo
fazer?
A parte mais importante
do sentido da vida não é
para onde vamos, mas
onde estamos, pois não
podemos tomar uma
direção sem sabermos
onde estamos.
Em toda a direção é mais
importante o início do
que o fim.
No caso da vida, o
início é o presente, o
que somos. O sentido da
vida não é um sentido
físico, mas um sentido
psíquico, para que nos
aproximemos do
espiritual.
No sentido físico,
podemos ver um corpo que
nasce, se desenvolve e
envelhece, que passa nas
zonas do globo, em
determinado país ou
países, numa família,
por determinados
empregos etc.
Temos a ideia de que
escolhemos o que
queremos para a vida,
mas não é bem assim. O
corpo com que nascemos
não foi uma escolha
nossa, foi a biologia
terrena a funcionar em
prol das necessidades
cármicas, segundo as
Leis Universais. A
escola em que estudamos
foi a que nos estava ao
alcance e escolhida
pelos pais. A profissão
que exercemos foi uma
oportunidade que surgiu
e que aproveitamos.
A nossa verdadeira
escolha está na
aceitação ou negação do
que a vida nos
apresenta.
Viemos passar por todas
as vicissitudes
terrenas, mas não vejam
vicissitudes como
negativo ou positivo,
vejam como experiências
neste enorme palco.
Este corpo, após a
conclusão deste teatro,
onde somos determinada
personagem, perece e
chega a hora de o
espírito se libertar. Na
altura certa,
regressaremos em um novo
personagem para
continuarmos nosso
aprendizado.
O crescimento é
espiritual, para tal
temos de amealhar
tesouros do Céu e não da
Terra.
Quais são os tesouros do
céu?
Estamos a falar de amor,
compassividade,
indulgência, paz,
resignação etc. Reparem
que estamos a falar de
estados de espírito e
não de conquistas
materiais.
Como podemos adquirir
estes tesouros?
Na verdade, já os temos,
apenas perdemos a
consciência disso, por
darmos mais importância
aos desejos terrenos do
que aos do Céu, vivendo
a ilusão do personagem
com um enorme apego.
Por vivermos apegados à
Terra e a este ser,
vemos o sentido da vida
como uma aquisição
constante de virtudes.
Isto deixa-nos
desgastados, pois é um
enorme e ilusório
esforço sermos virtuosos
pela aquisição ou o
acumular de emoções.
Na Bíblia lemos que
somos deuses e
aprendemos que nossa
primeira tarefa é a
procura do Reino de Deus
que está dentro de nós.
“O Livro do Espíritos”
ensina-nos que a Lei de
Deus está dentro de nós,
apenas a esquecemos.
Estes três ensinamentos
dizem-nos que a nossa
pureza espiritual está
em nosso interior, o
caminho é voltar para
dentro, voltar a ela, em
vez de adquirirmos mais
formas de estar, mesmo
que sejam virtudes, pois
esta forma de aquisição
de virtudes é uma
ilusão.
Vou usar o exemplo da
humildade.
A ideia de que somos
humildes é uma
aquisição. Colocamos em
nossa mente a imagem de
um homem humilde e
tentamos ser iguais. A
determinado ponto,
sentimos que nos
aproximamos e pensamos
que estamos a ser
humildes, o que é um
orgulho dissimulado. Na
verdadeira humildade,
não existe a ideia de
que somos humildes, pois
é uma forma de estar
espontânea, conquistada
pelo desapego e pelo
silêncio do ser. Ver com
alguma vergonha o
orgulho que nasce em nós
é uma forma de
humildade, mas ver a
humildade a nascer em
nós é uma forma de
orgulho, pois só tenta
ser humilde aquele que
vê na humildade um
“valor” importante,
tornando o homem
importante.
O interior de que é
referido para o nosso
regresso, onde está o
Reino dos Céus é por
detrás da parte
psíquica, como é lógico,
não pode ser na parte
física.
Para voltarmos para
dentro, temos de
ultrapassar a parte
turbulenta psíquica
característica do ser
humano, a mente exterior
onde está a construção
do Ego, do caráter.
Temos que abrandar o
nosso funcionamento
mental, onde estão os
certos e os errados, os
desejos e as motivações,
o orgulho e o egoísmo, a
vaidade, o desejo de ser
diferente, toda a
turbulência mental mesmo
que seja sobre sermos
melhores, para nesse
silêncio percebermos
para além do ser
terreno.
Jesus incentiva-nos a
chegar a esse silêncio
na primeira indicação
sobre a oração,
aconselhando-nos a
recolhermo-nos aos
nossos aposentos, um
local físico silencioso,
e em silêncio “mental”,
que Deus em silêncio
escuta, nos iremos
aproximar dEle.
Este silêncio de que nos
aproximamos ao nos
desapegarmos do ser, do
seu funcionamento,
através do Vigiai e Orai
no dia a dia, remete-nos
ao presente,
incentivando-nos a viver
a vida como os lírios do
campo, sem preocupação
com o futuro.
O passado e o futuro são
frutos da mente; no caso
do passado, através da
memória da perceção com
que vivemos determinada
situação; no caso do
futuro, através das
ideias que fabricamos
sobre ele, que não têm
realidade existencial a
não ser no pensamento. A
sua existência são a
causa dos maiores
defeitos humanos. Uma
sobrevalorização do
passado e do futuro,
como nos habituamos a
funcionar, levam-nos ao
orgulho, através do
apego ou ao que fizemos
bem, a ideia do que
somos, que é uma
construção mental do
passado, a ganância,
através do que queremos
adquirir e todos os
outros defeitos humanos
ou tesouros da Terra,
como quiserem chamar.
Se deixarmos esta forma
de funcionamento
problemática, somos
remetidos para o
presente, onde tudo
acontece. No presente
nos deparamos com o que
é preparado para
vivermos, temos a
oportunidade de corrigir
o que está errado,
podemos despertar o
enorme amor que existe
em nós, pois escapamos
da prisão da mente
humana que nos tem
submetido às maiores
atrocidades.
Podemos perceber que a
humanidade poderia viver
de uma forma bem feliz e
pacífica, se se
alterasse um pouco, mas
não sabemos como efetuar
essa mudança.
Ao vivermos o presente,
não com a memória do
passado, onde estão os
ódios, mas renascendo em
cada segundo, podemos
aproximar-nos do Reino
de Deus, pois deixamos
para trás a forma de
viver onde estão o
orgulho, o egoísmo e
todas as misérias
humanas.
A nossa maior
dificuldade é
abandonarmos o
protagonismo que nos é
ofertado pela existência
de um enorme Ego
fabricado pelo decorrer
do passado, que se
alimenta das
turbulências e defeitos
humanos, criados pelo
barulho da mente, em
prol do silêncio do
presente, mesmo sabendo
nós que Deus em silêncio
escuta, mantendo a
escravatura autocriada
que nos passa
despercebida. No
silêncio podemos
encontrara a paz, o
amor, a compassividade,
a indulgência e a
resignação, tudo num só
“local” (estado) mental.
O sentido da vida é
vivê-la, pois está feita
a medida para nós. Para
isso temos que aprender
a estar no presente,
porque o que temos feito
é viver a ideia que
temos sobre a vida, e
não saímos de nossas
cabeças.
O autor
reside em Lisboa,
Portugal.
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