O vulto na foto
As fotos antigas de família mexem com a nossa alma.
Tenho o hábito de revê-las e isso me traz não só uma
gostosa nostalgia, mas também as vibrações de momentos
que vivi com pessoas queridas. Ter saudade não é ficar
preso ao passado, como alguns pensam, mas traze-lo
momentaneamente de volta, revivê-lo carregado de
sentimento e emoção.
Essas velhas fotos são capazes de arrancar uma lágrima
no canto do olho ou mesmo fazer brotar um sorriso
inesperado.
Elas costumam captar gestos brevíssimos que acabam sendo
registrados até sem querer. É o caso dessa foto que
tenho agora nas mãos. Apesar do tempo passado, me lembro
que a Lucinha pediu pra esperar que arrumasse a fita que
prendia os seus cabelos. Ainda ouço o seu grito
ansioso... mas já era tarde. O flash explodiu, e as suas
mãos acabaram cobrindo metade do rosto.
Essa outra também é engraçada. Vovô comprara uma câmera
nova e a ansiedade em estreá-la era tanta que o click
pegou as pessoas todas da cintura para baixo. Não se
sabe direito quem é quem.
Mas a mais sensacional de todo o meu álbum é a foto em
que “aparece” uma sombra do lado direito do grupo
familiar. Depois de revelada descobriu-se um “vulto” de
pessoa muito parecida com o tio Carlito, que já havia
falecido há muitos anos.
Toda a família fez questão de ver a foto. Alguns acharam
que mais parecia o Antenor, um simpático vizinho que
sempre participava das nossas reuniões familiares e que
um dia, sem mais nem menos, faleceu de repente. Mas a
maioria ficou mesmo com o tio Carlito, até porque o
vulto tinha bigode, igualzinho ao do nosso tio.
Muito tempo depois, nos meus estudos de Espiritismo, vim
a saber que é perfeitamente possível a um Espírito
mostrar-se numa foto. É mais fácil compreender quando se
aceita, como eu, a existência da alma, a existência dos
fluidos, e se conhece as propriedades do períspirito.
Já quiseram levar essa foto, mas eu não deixei. Pra mim
é mais que uma foto, é uma reflexão sobre a imortalidade
da alma.
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