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por Rogério Coelho

 

Dissociação da conduta ou influência espiritual?


A psicologia transpessoal fortaleceu-se com os conceitos clarificantes de Joanna de Ângelis


“A influência dos Espíritos em nossa vida é tal que, de ordinário, são eles que nos dirigem.” O Livro dos Espíritos - q. 459.


A moderna psicologia vem rastreando – embora ainda palidamente – os caminhos espíritas desbravados por Allan Kardec lá pelos meados do século XIX.

Observou muito bem, nosso querido confrade Dr. Jorge Andréa[1], notável psiquiatra espírita de saudosa lembrança, que “(...) a pesquisa freudiana, apesar de válida e oportuna, não possibilitou a devida avaliação a fim de que se percebesse a zona espiritual. A condição espiritual, somente foi ampliada por Jung que, com seus estudos, aprofundou mecanismos de molde a propiciar valiosos dados na compreensão da Individualidade. Com isso, a psicologia começou a descerrar seus véus mostrando a existência do Espírito.

Além de Jung, psicólogos que lhe sucederam ampliaram os procedimentos de seu pioneirismo, concorrendo na formação da psicologia transpessoal, onde nomes como Assagioli, Maslow e S. Grof merecem lugar de destaque...

Assim, a psicologia transpessoal tomou forte impulso, sendo enriquecida com as assertivas clarificantes de Joanna de Ângelis (Espírito) abordadas em livros psicografados por Divaldo Pereira Franco”.

Mas, ao contrário do que se poderia pensar, Freud (mesmo sem o saber) tangenciou levemente a zona espiritual com o escopro de seu raciocínio no momento em que estudava os fenômenos psicológicos conhecidos por “dissociação da conduta ou divisão esquizoide”, cujo grau ou magnitude, segundo José Bleger[2], pode ser muito variável.

Antes de demonstrarmos o quanto Freud se aproximou da zona espiritual, precisamos entender o que - no jargão dos psicólogos - é chamado de “áreas de conduta”.

Aprendemos com J. Bleger2 que o termo conduta ou comportamento foi incorporado à psicologia de outros ramos do conhecimento, vez que já foi exaustivamente empregado na química – e o segue sendo ainda – para referir ou dar conta da atividade de uma substância, um corpo, um átomo, etc. Posteriormente Huxley o introduz na biologia para se referir também às manifestações da substância viva: célula, núcleo, etc.; e Jennings, em psicologia animal. Em todos esses campos, o termo refere-se ao conjunto de fenômenos que são observáveis ou que são factíveis de detectados, o qual implica a instrução metodológica de ater-se aos fatos tais qual eles se dão, com exclusão de toda interferência animista.

No estudo do ser humano, também se aplicou o termo a todas as reações ou manifestações exteriores, tratando, assim, de que a investigação psicológica se convertesse também numa tarefa objetiva e – portanto – a psicologia numa ciência da natureza.

O termo “conduta”, aplicado às manifestações do indivíduo, tem sempre a conotação de estar deixando de lado o mais central ou principal do ser humano: os fenômenos propriamente psíquicos ou mentais. Esses últimos seriam realmente os fenômenos mais importantes, dado que originam a conduta, e se estudarmos unicamente essa última, estaríamos nos ocupando tão somente de produtos e derivados, mas não do fenômeno central. 

 Etimologicamente, a palavra conduta vem do latim “conduto” e significa: conduzida ou guiada; quer dizer, que todas as manifestações compreendidas no termo de “conduta” são ações conduzidas ou guiadas por algo que está fora das mesmas, isto é, pela mente.   [Pedimos aqui licença para introduzir um elemento novo ao raciocínio de J. Bleger, “puxando ostensivamente a sardinha” para o terreno do Espiritismo: nada obsta que a mente mencionada possa estar recebendo influência de outras mentes, tanto de encarnados quanto de desencarnados].

Dessa maneira, no âmbito da psicologia, o estudo da conduta, considerada assim, assenta sobre um dualismo ou uma dicotomia corpo-mente (o que já não era novidade para os mais antigos filósofos que postularam: “mente sã, corpo são”.    

Segundo a tradição do mais puro idealismo a mente [Espírito] tem existência própria e é o ponto de origem de todas as manifestações corporais; segundo essa perspectiva, o corpo é somente um instrumento ou veículo do qual se vale a mente [alma] para se manifestar. A raiz religiosa desse esquema é fácil deduzir.

Na história do conceito de conduta em psicologia, tem importância o artigo de Watson, publicado em 1913, que inicia a corrente ou escola chamada de Comportamentalismo ou Behaviorismo, no qual sustenta que a psicologia científica deve estudar só as manifestações externas (motoras, glandulares e verbais); aquelas que podem ser submetidas à observação e registro rigoroso, tanto como a verificação. Já antes de Watson, Pillsbury havia definido a psicologia como a ciência da conduta e Angell – integrante da escola funcionalista – antecipava a substituição da mente pela conduta como objeto da psicologia, o que foi um redirecionamento muito feliz vez que agora seriam verificadas as causas e não mais as consequências dos fenômenos psicológicos.

Seguindo o pensamento de Pichon Rivière detectamos três áreas de conduta: 1) - área da mente; 2) - área do corpo; 3) - área do mundo externo.

Podemos representar os três tipos de conduta como três círculos concêntricos e os enumeramos como um, dois e três, que correspondem respectivamente, aos fenômenos mentais, corporais e os de atuação no mundo externo:
1 - Área da Mente
2 - Área do Corpo
3 - Área do Mundo Externo.

As manifestações das três áreas coexistem de forma relativamente equivalente e de tal maneira que todas têm o mesmo sentido ou constituem uma mesma reação a uma dada situação.

Sem embargo, pode ocorrer – também – uma contradição entre as áreas de conduta e é nesse terreno da contradição que Freud “esbarrou” sem ver, sem notar e sem saber, na zona espiritual.

O que é uma contradição nas distintas áreas da conduta? A contradição em distintas áreas ocorre, num mesmo momento, também tanto em condições normais como patológicas, quando, por exemplo, deseja-se comparecer a uma entrevista e, ao mesmo tempo, chega-se depois da hora fixada (contradição entre as áreas um e três); quando se deseja ser cordial e, ao mesmo tempo, está-se tenso (áreas um e dois), quando se age afetuosamente e, ao mesmo tempo, está-se com o corpo tenso (áreas três e dois).

Essas contradições entre as manifestações nas distintas áreas da conduta, que se apresentam de forma simultânea, correspondem ao fenômeno mais geral conhecido como: dissociação da conduta ou divisão esquizóide.

O caráter contraditório ou conflituoso da conduta foi estudado muito detalhadamente por Freud e constitui uma contribuição fundamental da escola psicanalítica; mas Freud, que não mantinha a teoria no plano da conduta concreta, viu-se levado à hipótese da existência de uma segunda mente, ou [e aqui ele descamba para a teoria animista] uma parte especial da mente, que já não era de caráter consciente e sim inconsciente, e que estava com a parte consciente em um jogo recíproco, de cujos vaivéns dependia a conduta concreta.

O desenvolvimento da hipótese da existência de uma segunda mente, levaria Freud à zona espiritual, mais especificamente ao terreno pantanoso das obsessões tão bem estudado por Allan Kardec. E o que Freud detectou como “uma parte especial da mente”, outra coisa não teríamos aí do que as expressões do animismo.

No terreno das contradições das áreas da conduta, Freud teria encontrado a “ponte” para a zona espiritual e, se tal tivesse ocorrido, a psicologia estaria hoje avançando em segurança de mãos dadas com o Espiritismo no campo metafísico, resolvendo de forma holística as magnas e cruciais questões do comportamento humano.

Não temos dúvida que num futuro - talvez nem tão remoto assim - tal associação se dará, o que evidentemente muito enriquecerá a psicologia. Jung, Assagioli, Maslow, S. Grof e outros já começaram a construir uma pequena “pinguela”, sobre o rio do preconceito, avançando por terrenos que Freud não pisou. Outros, com certeza, os seguirão... 

Joanna de Ângelis em livros de sua “série psicológica”, psicografados por Divaldo Franco, está transformando essa pequena “pinguela” de Jung e seus colegas em uma grande, bem pavimentada e iluminada PONTE, onde estão transitando livremente as informações novas dos Planos Maiores da Vida para a Terra, auxiliando assim o homem a conhecer-se a si mesmo e, consequentemente, a viver melhor e progredir sempre, sem cessar, pois tal é a Lei!...


 

[1] - ANDREA Jorge [Revista “Presença Espírita” – set/out-99] – coluna: Problemas e soluções.

[2] - BLEGER. José “Psicologia da conduta” – cap. 2 – Editora Artes Médicas Sul Ltda.


    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita