Aos jovens
Olhando pela janela de casa, ao alvorecer de
mais um dia, observei um grupo de cinco
adolescentes, todos vestidos de preto – tudo
indica ser a cor do momento -, conversando com
alegria e andando rapidamente em direção à
inauguração de nova escola, que abria suas
portas no primeiro dia letivo de mais um ano
escolar.
Qual não foi a minha vontade de entrar na mente
de cada um deles para conhecer seus sonhos, suas
metas, seus ideais, suas expectativas. Cabeças,
certamente, fervilhando diante de tantas
esperanças, características da juventude, de
Espíritos recém-chegados à Terra para cumprir
mais uma etapa de aprendizado e evolução.
Contudo, observando detidamente aquele grupo
refleti como é preocupante a situação da
juventude em nosso país. Confesso que um pouco
de tristeza invadiu a minha alma.
Lembrei da conhecida máxima de que os jovens são
o futuro! Bradam todos, inclusive os espíritas,
entretanto, refleti que se muitos agora não
possuem as condições adequadas para se tornarem
amanhã bons cidadãos, como esperar que promovam
as mudanças tão necessárias nos costumes e leis
da nossa sociedade materialista, preconceituosa,
misógina, homofóbica, armamentista, racista,
antiecológica...?
Todo cidadão precisa ter oportunidades de estudo
e trabalho, não esquecendo a tão necessária
saúde, de modo a viver dignamente, mas como
alcançarão esta condição se a sociedade egoísta
e utilitarista privilegia os poucos que
conseguiram, alguns a duras penas, penetrar no sistema?
É quase revoltante observar as classes
dominantes se embriagarem com o supérfluo, em
relação aos bens de consumo, detendo as melhores
possibilidades de instrução e lazer, enquanto
massas incalculáveis se digladiam para obter
apenas o mínimo imprescindível para sua
subsistência.
E para piorar, já está sobejamente comprovado
que o sistema econômico regendo este mundo,
basicamente materialista, é concentrador de
renda, e, curiosamente, apenas os detentores
destes provisórios bens do Criador em abundância
é que descreem desta realidade.
Não se consegue trilhar um caminho seguro sem
apoio daqueles já amadurecidos na escola da vida
e, para piorar, muitos ainda acusam os jovens de
irresponsabilidade e inutilidade.
O que fazer, meu Deus!?
Como o jovem vai suportar esta conjuntura de
quase abandono que lhe relegam as elites
dominantes que insistem em se alegrar com o uso
de bens de altíssimo custo, esbanjando a falsa
alegria em face de tantos sofrimentos?
Sem saída - a curto e médio prazo -, muitos,
infelizmente, com extremo pesar, se encaminham
resolutos rumo à injustificável porta de escape
representada pelo suicídio, como estamos
testemunhando nos dias modernos, realidade
prevista, ainda no século XIX por Allan Kardec.
As estatísticas não mentem: o número de
suicídios entre os jovens está aumentando e,
aqueles que deveriam se preocupar com este
triste indicador, providenciando medidas
concretas para estancar estes infelizes índices,
em muitos casos, nada mais fazem do que apenas
lamentar e noticiar, prosseguindo em suas vidas
de luxo e supérfluos:
Cerca de mil
crianças e adolescentes, na faixa etária entre
10 e 19 anos de idade, cometem suicídio no
Brasil a cada ano, de acordo com a série
histórica levantada pela Sociedade Brasileira de
Pediatria (SBP) entre 2012 e 2021. O dado se
baseia em registros do Sistema de Informação
sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.1
Abandonando a vida por meio deste tortuoso
caminho, criam dificuldades futuras de grande
expressão, pois a maioria desconhece que
continuará vivo, entretanto, com os problemas
agravados, pedindo solução e reparo em próximas
reencarnações, sob condições piores daquelas que
os fizeram desesperar e desistir da ingrata
existência.
Focalizando, particularmente, o ambiente
espírita, o quadro também se apresenta
preocupante, pois as cabeças encanecidas
predominam nos salões, e, os jovens, a eterna
promessa, pouco participam das atividades.
De modo geral, não há renovação no quadro de
trabalhadores em uma instituição espírita. Sem
as seguras explicações doutrinárias sobre a
continuidade da vida, a juventude permanece
desconhecendo a proposta renovadora e alentadora
do Espiritismo, um significativo freio moral
para o cometimento do suicídio.
É comum sugerir aos jovens que não desanimem,
contudo, é o que se pode e se deve mais uma vez
lembrar. Busquem com ardor seus objetivos, não
desertem de seus compromissos, não se intimidem
pelas barreiras construídas aos seus avanços por
uma sociedade ainda tão injusta, tal qual a
nossa.
Referência:
1 LINK-EBC -
Acesso em: 06/01/2024.