Nem tudo
que é permitido nos
convém
No mundo contemporâneo a
falta de noção de
limite, no comportamento
de certas pessoas, está
tomando proporções
maiores do que
imaginávamos. A
deterioração das
relações humanas está
promovendo uma
banalização no
comportamento não
somente dos jovens, mas
também de muitas pessoas
já adultas.
Não querendo ser
moralista, apenas um
observador histórico e
sociológico, percebemos
que as pessoas estão
abusando do uso de
artifícios para
contornar sentimentos
reprimidos, como álcool
e diversos tipos de
drogas. De uma certa
forma isso já vem
acontecendo há várias
décadas. Mas
infelizmente vem-se
acentuando
consideravelmente,
decorrente de um
desdobramento de uma
crise socioeconômica que
a Humanidade vem
vivenciando. Não temos
dúvida de que conviver
numa sociedade
competitiva exige muita
firmeza e equilíbrio por
parte do indivíduo, que
acaba buscando nessas
válvulas de escape uma
liberação para seu
estresse do dia a dia.
Porém a grande questão é
o desdobramento a longo
prazo no psiquismo
dessas pessoas, que
acabam se tornando
dependentes das emoções
provocadas por essas
substâncias e mais
suscetíveis a processos
de influência e
obsessão.
Quando alimentamos
formas de pensamento
doentias, com o objetivo
prazeroso, acabamos nos
tornando reféns dessas
emoções e infelizmente
ao longo dos anos fica
cada vez mais difícil se
libertar.
A reeducação das emoções
pode ser o primeiro
grande passo para nossa
transformação atual,
principalmente no que
diz respeito à nossa
conduta moral diante da
vida. Saber que todos
temos um livre-arbítrio
não é a garantia de um
processo de mudança de
curto prazo.
No Espiritismo, chamamos
de Reforma Íntima o
movimento de
autoconhecimento das
nossas dificuldades,
assim como o que pode
ser feito para se
modificar. Emmanuel por
intermédio da
mediunidade de Chico
Xavier nos chama atenção
para o seguinte:
Almas enfraquecidas, que
tendes, muitas vezes,
sentido sobre a fronte o
sopro frio da
adversidade, que tendes
vertido muitos prantos
nas jornadas difíceis em
estradas de sofrimentos
rudes, buscai na fé os
vossos imperecíveis
tesouros.1
Todos temos nossas
dificuldades pessoais,
porém nos momentos de
grandes desafios,
precisamos dar um
testemunho de boa
vontade, o que não é uma
tarefa fácil, em uma
sociedade com tantas
questões de
desigualdade, que
parecem se acentuar com
o tempo.
Apenas aqueles que
buscam se capacitar
moralmente conseguem
entender o verdadeiro
sentido do testemunho
pessoal diante da vida,
em um momento onde a
transição planetária
está promovendo um
processo de separação do
joio e do trigo, para
aqueles que entendem o
verdadeiro sentido da
parábola bíblica na
visão espírita.
Independente da
capacitação pessoal de
cada um de nós, para
melhor interagir com a
nossa caminhada, o
Espírito André Luiz
conversando com o
instrutor Silas na obra Ação
e Reação,
psicografada por Chico
Xavier, nos apresenta a
seguinte questão para
pensarmos:
Na mesma leira de terra
dadivosa e neutra, quem
acalenta a urtiga
recolhe a urtiga que
fere, e quem protege o
jardim tem a flor que
perfuma. O solo da vida
é idêntico para nós
todos. Não encontraremos
aqui neste imenso palco
de angústia almas
simples e inocentes, mas
sim criaturas que
abusaram da inteligência
e do poder, e que,
voluntariamente surdas à
prudência, se
extraviaram nos abismos
da loucura e da
crueldade, do egoísmo e
da ingratidão,
fazendo-se
temporariamente presas
das criações mentais,
insensatas e
monstruosas, que para si
mesmas teceram.2
O instrutor Silas deixa
claro que colhemos o que
plantamos e um dia
teremos de dar conta das
nossas escolhas à nossa
consciência e aos nossos
mentores que promoveram
nosso retorno ao mundo
material.
Emmanuel, percebendo
nossas dificuldades
pessoais em lidar com
nossas fraquezas e
arrastamentos, procurou
incentivar aqueles que
se sentem esmorecidos a
não desistir da luta de
transformação pessoal.
Não há forças
miraculosas para os
seres humanos, como não
existem igualmente para
nós. O livre-arbítrio
relativo nunca é
ab-rogado em todos nós;
em conjunto, somos
obrigados, em qualquer
plano da vida, a
trabalhar pelo nosso
próprio adiantamento.1
O esforço pessoal deve
ser feito por todos e os
espíritas não são
pessoas melhores e não
estão remidos de passar
pelos dissabores dessa
sociedade doente. Muito
pelo contrário, devemos
ser resilientes e
determinados em lidar
com os desafios do nosso
dia a dia.
Suely Caldas em seu
livro Transtornos
Mentais, procurou
fazer uma análise da
sociedade, procurando
correlacionar as
questões espirituais e
seus desdobramentos no
mundo contemporâneo.
Procurou mostrar as
dificuldades dos
encarnados em superarem
seus desajustes, já que
nem tudo pode ser
atribuído à sociedade,
porém ela acaba servindo
como gatilho para trazer
à tona nossas mazelas
mais íntimas da alma
para serem tratadas,
quando diz:
A Justiça Divina é
perfeita, portanto
equânime, conforme o
próprio Mestre Jesus
asseverou, "a cada um
segundo as suas obras."
Nos códigos divinos não
existem imperfeições,
privilégios, castigos,
perseguições ou
vinganças - embora assim
pense a maioria das
criaturas, que atribuem
a Deus, como punição
impiedosa, as provações
que enfrentam na vida
terrena.3
Não podemos alegar que
não sabíamos dos riscos
para nossa saúde física
e mental ao fazer uso de
certas válvulas de
escape, com a desculpa
de que era uma
necessidade iminente
para superarmos uma
crise momentânea.
A maturidade do senso
moral é uma conquista
individual de cada um de
nós. A natureza não dá
saltos e não podemos
usufruir de um
privilégio que não
fizemos por merecer.
Tudo é um processo, uma
conquista pessoal nossa
em direção a uma vida
melhor.
Referências:
1) Xavier,
Francisco Cândido:
Emmanuel; 1 - Almas
Enfraquecidas: Necessidade
do Esforço Próprio e Aos
Enfraquecidos na Luta;
FEB.
2) Xavier,
Francisco Cândido; Ação
e Reação; 5 - Almas
enfermiças; FEB.
3) Schubert,
Suely Caldas; Transtornos
Mentais; Parte I -
Cap. 8 - Visão Espírita
dos Transtornos Mentais;
Minas Editora.
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