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por Rodolfo Collevatti

 

Vamos para Nosso Lar


É comum ouvirmos frequentadores das Casas Espíritas afirmando desejarem ir para a Colônia Nosso Lar após o desencarne. Será que isso é possível para todos? Há também questionamentos de alguns confrades, com dificuldade de aceitar um mundo espiritual muito parecido com o nosso, como, por exemplo, nos é relatado em Nosso Lar, primeira obra da série “A Vida no Mundo Espiritual”, de André Luiz, psicografada por Francisco Cândido Xavier.

Para respondermos a essas questões, inicialmente vamos relembrar alguns conceitos e informações importantes contidas nas obras da Codificação Espírita.

Nosso destino imediato após a desencarnação depende do grau de adiantamento moral de nosso Espírito. Em nosso mundo há um número considerável de Espíritos inferiores, com perispírito tão grosseiro, que permanecem na superfície terrestre, acreditando estarem encarnados. Há também Espíritos um pouco mais desmaterializados sem, porém, conseguirem se elevar além dos limites do planeta (1)

Ora, se tais Espíritos permanecem na Terra, onde se encontram?  Para quem estranha o conceito de colônias espirituais com moradias e outras semelhanças com os recursos encontrados no plano material, o Codificador nos ensinou: nosso mundo é um pálido reflexo do mundo espiritual, onde os Espíritos se aproximam e formam grupos de acordo com interesses em comum, laços de simpatia, ou também pela necessidade de estarem entre seus semelhantes. Assim, uma cidade celeste pode ter sociedades boas ou más (2).

Temos também n´O Céu e o Inferno, uma das obras fundamentais da Doutrina Espírita, a Condessa Paula citando moradas aéreas rivalizando com nossos palácios e salões dourados, além de menções a moradas espíritas e habitações dos Espíritos na Revista Espírita, que traz ainda uma mensagem de Mesmer com conteúdo muito próximo ao texto mencionado acima, enfatizando a semelhança entre o mundo material - construído com material e grosseiro -  e o reino Espiritual - fluídico e etéreo - do qual o mundo material seria uma imagem imperfeita (3).

Assim, entendemos ser normal dar o nome de colônias espirituais às cidades celestes onde há grupos formados por Espíritos afins, de certa forma presos aos limites de nosso planeta, tido como uma imitação grosseira do mundo espiritual formam grupos no mundo espiritual. Aliás, o próprio Kardec usou o termo colônia ao descrever a vinda de Espíritos manchados de vícios, exilados na Terra nos tempos de Adão, apartados de uma colônia de um mundo melhor. (4).

Outra questão levantada por espíritas neófitos desconfortáveis com a semelhança entre nosso mundo e as colônias Espirituais é: como os Espíritos conseguem criar colônias espirituais? O Codificador nos esclarece sobre a capacidade dos Espíritos de agirem sobre os fluidos espirituais. Para eles, o pensamento e a vontade equivalem às nossas mãos e, dessa forma, reúnem, assentam ou espalham fluidos, mudam suas propriedades, criando objetos e conjuntos (5). Encontramos um exemplo dessa criação fluídica no livro Nas Voragens do Pecado, de Yvonne do Amaral Pereira, quando descreve o trabalho feito por Espíritos benfeitores, preocupados com um irmão desgarrado, reconstruindo o local onde haviam se encontrado durante a última reencarnação.

Colônias, edificações e/ou cidades espirituais foram relatadas por outros bons escritores em inúmeras ocasiões, entre eles Swedenborg, Reverendo Owen, Cairbar Schutel, Yvonne do Amaral Pereira e Francisco Cândido Xavier.

Considerando nosso nível de evolução espiritual, é natural não termos muita informação de cidades espirituais mais elevadas. Assim, a maioria das colônias mencionadas na literatura Espírita se localiza nos limites da Terra. Em Nosso Lar, conhecemos as dificuldades de André Luiz visitar sua mãe, Espírito habitante de colônia mais elevada, se comparada com Nosso Lar. Aprendemos também ali sobre Alvorada Nova, outra colônia localizada na Terra, também superior a Nosso Lar.

Também em Nosso Lar, estudamos sobre o Umbral, local que lembra o Purgatório, pelos sofrimentos e pela condição de lugar intermediário entre a Terra e a colônia espiritual. De fato, entendemos ser nosso planeta como um Purgatório: local passageiro, mundo de expiações e provas onde os Espíritos expiam também enquanto desencarnados (6). Não devemos estranhar, portanto, termos Postos de Socorro a Espíritos desorientados, pois, como já citamos, muitos desencarnam sem entender não mais pertencer ao mundo material.  Esses Postos, citados nas obras de André Luiz, por exemplo, servem de intermediários para o encaminhamento de Espíritos às Colônias Espirituais. Dessa forma, Deus, em sua infinita sabedoria e bondade, permite a tais Espíritos uma transição sem saltos.

Voltemos então à questão inicial, quanto à nossa ida para Nosso Lar. Inicialmente, devemos compreender que nossa presença naquela colônia vai depender de alguns fatores, a saber:

1. Nossa condição espiritual: Nosso Lar é uma estância de Espíritos endividados, não uma estância de Espíritos vitoriosos (7). Quando estudamos as diferentes ordens de Espíritos e a Escala Espírita, e os Mundos de expiações e de provas (8), facilmente percebemos sermos na maioria Espíritos imperfeitos. Assim, possivelmente teremos dificuldade de nos elevar espiritualmente além da Terra e, nesse caso, provavelmente seremos candidatos a uma estada numa colônia espiritual, mais cedo ou mais tarde.

2. Nossa localidade, ou condição cultural: Nosso Lar é uma colônia de transição, localizada ainda no Umbral, e encontra-se na ionosfera, sobre a cidade do Rio de Janeiro (9). Caso pertençamos à maioria dos Espíritos endividados que reencarnam na Terra, mas não sejamos oriundos ou conectados espiritualmente ao Rio de Janeiro, iremos para outra colônia ligada à região em que vivemos ou onde tivermos uma relação mais profunda.

Não devemos desanimar, porém com tais informações. Deus nos dá inúmeras oportunidades de progredirmos e a maior delas está ao nosso lado e muita vez não nos damos conta disso.

De fato, os laços de família são essenciais para nossa evolução espiritual.  Somente avançaremos na escala Espírita por meio do convívio social, e a família tem papel fundamental nessa caminhada. Convivemos com Espíritos afins, membros de nossa família espiritual, encarnados e desencarnados, cujos laços de simpatia e de comunhão de pensamentos nos unem há tempos e permanecerão mesmo após nossas encarnações. Somos provados também convivendo com outros Espíritos, colocados em nossa vida para evoluírem. Há outras ocasiões nas quais nós podemos ser esses Espíritos em busca de expiar e reparar erros do passado. Deus nos deu nossas famílias para aprendermos a amar como irmãos. O amor e a caridade começam, portanto, na família. Temos o dever de contribuir para o progresso e a educação dos outros, incluindo a missão de desenvolver nossos filhos pela educação e de respeitar e amparar nossos pais (10).

Dessa forma, quando nos dirigirmos para a nossa casa, pensemos: “Estou indo para o convívio com minha família. Tenho hoje a oportunidade de auxiliar outros Espíritos muito importantes para mim, a partir do meu exemplo, da prática da caridade, sendo benevolente, indulgente e perdoando-os, como eu também quero ser perdoado. Que maravilha! Já estamos morando em “nosso lar”. Não preciso mais rezar para ir para Nosso Lar.”

Agradeçamos a Deus por nossa família, por nosso lar, trabalhemos no limite das nossas forças para fazermos o bem para todos os Espíritos que nos cercam, uma vez que o conceito de família espiritual nos permite entender sermos todos irmãos e, assim, considerarmos também nosso planeta Terra como Nosso Lar!

 

Referências:

1. KARDEC, Allan. A Gênese. Tradução de Evandro Noleto Bezerra da 5ª ed. francesa, de 1869. 2ª ed. 1ª imp. Brasília: FEB, 2013. Cap. XIV, item 9.

2. _____. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 4ª ed. 5ª imp. Brasília: FEB, 2018. Questões 96 a 113.

3. NETO Sobrinho, Paulo da Silva. Artigo publicado n’O Consolador: Colônias espirituais seriam lugares circunscritos, como assim? Parte 2. Disponível aqui: LINK. Acesso feito em 10 de fevereiro de 2024.

4. _____. A Gênese. Op.cit. Cap. XI, item 46.

5. _____. Idem, ibidem. Cap. XIV, item 14.

6. _____. O Céu e o Inferno. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2ª ed. 1ª imp. Brasília: FEB, 2013. 1ª Parte, Cap. V.

7. XAVIER, Francisco Cândido Xavier. Nosso Lar. Obra psicografada de André Luiz. 64ª ed. Brasília. FEB, 2014. Caps. 5 e 6.

8. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Op. Cit. Introdução item X e questões 278 e 279 e
_____. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2ª ed. 1ª imp. Brasília: FEB, 2013. Cap. III, item 13

9. XAVIER, Francisco Cândido Xavier e CUNHA, Heigorina. Cidade no Além. 1ª ed. Araras: IDE, 2007.

10. _____. O Livro dos Espíritos. Op. Cit. Questões 204, 205, 208 e 774 e
 _____. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução Op. Cit. Cap. XIV.

 

Rodolfo Collevatti, palestrante e conselheiro do Centro Espírita Divino Mestre, reside em São José dos Campos (SP).


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita