Uma reflexão sobre as críticas ao trabalho de Chico
Xavier
Léon Denis (1846-1927), um dos pensadores mais lúcidos
do Espiritismo, disse em uma de suas obras que, conforme
for o ideal, assim será o homem. No ano em que se
completam 22 anos do seu desencarne, os temas difundidos
em torno do nome de Chico Xavier ainda causam muitas
reflexões.
Ao
mesmo tempo em que se erigem pedestais para o
endeusamento da figura de Francisco Cândido Xavier,
existem sítios dedicados a analisar possíveis plágios em
suas obras e de tantos outros escritores, arrolando o
médium aos processos de indivíduo fraudulento. Além, é
claro, das celeumas que se instauraram após o seu
desencarne em torno de diálogos com extraterrestres e
suas possíveis reencarnações.
O
que causa espanto, e espécie, é a completa ausência de
pudor nas críticas com fundamentações bastante
questionáveis, tanto para os que exaltam, quanto para os
que tentam denegrir a imagem do Chico Xavier.
O
conhecimento é a busca da verdade, ele não é a busca
pela certeza, já dizia Sir Karl R. Popper. É relevante
refletir sobre isso. Todo conhecimento humano é falível,
portanto, incerto. Errar é humano! Por isso é oportuno
que se faça distinção entre verdade e certeza.
Dizer que tem “certeza” que Chico Xavier fraudou pode
não ser “verdade”. De fato, a ciência tem limites,
contudo a humanidade tem-se esforçado para superar seus
limites e as contribuições podem ser percebidas, se
soubermos o que buscar.
Uma
pesquisa científica não é traduzida em uma escrita
comum, popular. Quando se busca dar algum “ar
científico” a qualquer texto, é preciso, de fato, que o
autor tenha uma ideia de método, do contrário corre-se o
risco de cair na infantilidade que se vê por aí. Melhor
atribuir o que se vê à infantilidade do que maldade,
porque, parafraseando Léon Denis, se o ideal dessas
pessoas que escrevem sobre o Chico Xavier é
desmascará-lo ou endeusá-lo, vê-se que pouco
compreenderam da essência do Espiritismo.
Na
esteira do espanto, diante de tantas críticas ácidas,
deseducadas e por que não injustas, dirigidas ao Chico
Xavier, entidades e suas respectivas editoras, que
publicam e vendem seus livros, fazem um profundo silêncio diante
de tudo que se diz sobre ele. Na hora do bônus,
divulgam-se os trabalhos do Chico Xavier. Quando o autor
é criticado e arrolado com possível fraude, essas mesmas
entidades que editam seus livros emudecem.
Allan Kardec deixou clara a diferença entre “polêmica e
polêmica” na Revista Espírita de 1858. Aquela que visava
defender o ponto de vista pessoal, disso Kardec abria
mão. Das outras que diziam respeito à defesa do
entendimento doutrinário, ele não recuava! Estão
interpretando e analisando errado as obras espíritas e
nenhuma instituição que edita seus livros se levantou
para esclarecer e auxiliar no melhor entendimento do que
seja um estudo espírita. Servem para quê, então? As
críticas ao trabalho de Chico Xavier, em essência, são
críticas à Doutrina Espírita! E o que os dirigentes das
entidades espíritas têm feito a esse respeito?
Buscando informações em outros sítios, nos deparamos com
um vídeo de um ex-companheiro do Chico Xavier, que
abandonou o Espiritismo para se dedicar a outra área do
conhecimento, dizendo que as fragrâncias exaladas quando
da presença de um Espírito Benfeitor foram encontradas
em frascos no armário de uma sala ao lado da sala de
tratamentos. Entretanto, apenas o Chico Xavier estava
envolvido, segundo o ex-companheiro. Ambos
desencarnados. O que é importante esclarecer: a verdade
ou a certeza? Ter certeza que é “mentira” pode não
refletir a verdade. Para dizer que é verdade, é
necessário que o conhecimento seja construído com método
e, mesmo assim, pode-se concluir que ficará o “dito pelo
não dito”. Por outro lado, pode-se aprender com a
situação e analisar o contexto para que casos assim
sejam tratados com a devida fraternidade que um Espírita
desenvolve quando está em busca de melhorar-se.
E
continua! Assistimos a um desses vídeos curtos de uma
rede social dizendo que o Chico Xavier foi um “assassino
cruel” em outro planeta. Veio para este planeta para
resgatar suas maldades.
O
que estão fazendo com o trabalho do Chico Xavier? O que
as casas espíritas têm ensinado sobre o Espiritismo?
Há
décadas, entidades e seus respectivos dirigentes vêm
auferindo vantagens em forma de projeção, exposição de
imagem, perpetuação de uma ideia, de um ideal, como
disse Léon Denis, mas junto com essa semeadura existe a
colheita. Os que ficam, o que têm feito para esclarecer
a respeito dos equívocos de interpretações doutrinárias?
Ou essas entidades acreditam que não são corresponsáveis pelo
que está acontecendo?
Há
uma profunda distância entre falar sobre o conteúdo de
uma obra, como o sítio citado, comparando frases,
utilizando testemunhos e etc. para identificar
“plágios”, e concluir que o autor é uma fraude. Alto lá!
Para ser considerado “verdade” é preciso desenvolver um
método que seja aceito de forma universal e o que usam é
tão frágil quanto o que acusam.
Citamos novamente o Popper que diz que, já que errar é
humano, isso significa que devemos lutar sem cessar
contra o erro, mas também, com todo cuidado, nunca
podemos estar totalmente certos de que não estejamos
cometendo um erro.
Diante desse cenário, deveras dantesco, o combate às
análises apressadas e conclusões inadvertidas deve ser
feito com método, prudência e cautela. Em meio ao
cascalho podem existir pedras preciosas, interpretações
oportunas, reflexões superiores de perspectivas pouco
exploradas. Contudo, é preciso ser firme diante das
críticas a trabalhos longevos, consistentes, coerentes,
repleto de exemplos, testados em “verso e prosa”,
analisados por diversos ângulos, inclusive acadêmico,
antes de se optar pelo veredito da fraude como estão
fazendo com o trabalho de Chico Xavier.
Por
fim, resta saber o que as entidades farão para defender
o trabalho daquele que tanto tem contribuído para suas
existências. A conta está chegando.