Artigos

por Bruno Abreu

 

A fé, a esperança e o presente


Muitas pessoas têm a ideia de que a Fé e a Esperança são a mesma coisa, ou, pelo menos, uma anda de mãos dadas com a outra.

A Fé e a Esperança são coisas completamente diferentes, e a última pode-nos afastar da Fé.

Quando visualizamos esperança em nossas vidas, é com a ideia de que as coisas corram como nós queremos ou nos dá jeito.

Esperança vem de esperar algo. O estudante faz um exame e tem esperança que saia uma boa nota. Vamos ao médico fazer uma consulta e umas análises e temos a esperança de que vai correr tudo bem. Descubro que tenho uma doença má, como um cancro, e tenho esperança que me vá curar.

A esperança tem de ter um objetivo que irá acontecer, a Fé já não é assim.

Ter fé é despojarmo-nos de nossos desejos, problemas, vontades de como a vida deve correr, confiar plenamente em Deus e aceitarmos a nossa cruz, o que nos vai aparecendo pela frente. É sabermos que Ele sabe o que precisamos e o que vier, simples ou complicado, é aceite com amor, pois a Fé diz-nos que “uma mão” universal joga o “xadrez” de nossas vidas.

A Fé não olha para o futuro colocando desejos de como as coisas devem correr, ao contrário da Esperança. A Esperança nasce no desejo, na mente do homem, a Fé nasce no interior, no Espírito, e é silenciosa.

A esperança é uma ideia do futuro, por isso criamos o desejo e colocamos a estrela norteadora no desejo onde queremos chegar, como o estudante espera ter positiva. A fé vive no presente, em silêncio, sem qualquer desejo, sabendo que tudo o que está a acontecer é o que tem de acontecer.

Através da Fé percebemos que as pessoas difíceis que estão ao nosso lado não vieram por acaso e que as dificuldades da vida vieram para nos ensinar.

Na Fé existe um enorme amor, porque ao aceitarmos plenamente a vida, a nós e aos outros, não temos qualquer reação negativa que nos tire da nossa natureza.

A esperança pode-se tornar turbulenta e cegar-nos para a Fé.

Quando temos esperança que alguma coisa corra de determinada forma, como a cura de uma doença de um ente querido, e esta acontece, parece-nos fé. Afirmamos que tivemos Fé em Deus e ele ajudou o nosso familiar a curar-se. Esquecemos o ensinamento do carma ou a Lei de ação e reação. Quando acontece ao contrário do desejo, ou seja, não se cura, estamos perante uma bifurcação. Acontece a indignação, que é o prolongamento do desejo em uma determinada direção que não aconteceu como queríamos, e leva-nos a uma falta de fé, questionando-nos por que Deus não nos ajudou, por que tinha de ser assim?

Após esta situação, poderemos ir acalmando e retomar a nossa Fé em Deus, aceitando o que aconteceu, mas, consoante a dificuldade de lidarmos com a situação, levará tempo para nos estabelecermos na Fé ou até podemos abandonar a Fé em Deus, pela não aceitação. O choque pode ser muito grande, e nasce numa esperança, que erroneamente apelidamos de fé, logo a colocamos de lado por falta de sentido com que vemos a vida.

O apego à ideia que criamos sobre a esperança, o que queremos que aconteça, é um perigo à resignação. 

A esperança não é uma vilã enganadora, ela é um movimento da nossa cabeça que acreditamos estar ligado à Fé. A ideia que temos sobre a esperança, de que é ligada à Fé ou é a própria Fé, é que é errada.

Não estou, com este texto, a querer dizer de que não devemos sentir esperança, isso seria contrário à natureza humana.

Nós devemos continuar a sentir esperança. Se um ente querido vai ser operado devemos ter esperança de que corra tudo bem, pois isso nos dá uma força motivadora que cria uma energia positiva. Esta energia torna-se numa força motivadora para nos curarmos.

A esperança ajuda-nos a atingir, através do trabalho, o objetivo do que queremos, tal como o estudante ter boas notas, motivado pela esperança, para estudar.

O único ponto a que quero chegar é que devemos olhar para as coisas como elas são e não nos iludirmos fazendo de uma coisa outra, como da esperança a ideia da fé.

Se olharmos para esperança como ela é, nunca perderemos a fé, pois, por trás da ideia da esperança, estará a fé que nos ampara se não correr como desejamos. A esperança nasce na mente, a fé nasce no espírito, é uma energia que nasce dentro de nós que nos diz que aconteceu o que deveria ter acontecido, o melhor para o espírito, embora não nos pareça o melhor para nossa mente.

Esta energia da fé é inata ao ser humano, por isso ele sempre cultuou um Deus ou vários, desde os tempos primórdios. Mesmo os ateus, que vão sentindo esta energia a nascer, vão negando-a através de um “racionalismo terreno” que funciona alicerçado nos sentidos humanos, limitando o ser àquilo que os cinco sentidos percebem.

Tenha ou sinta esperança, pois ela é importantíssima. Tenha ou sinta esperança de que um dia o nosso planeta será um paraíso, mas entenda com a Fé que para chegarmos lá temos de passar pelas “trevas” do sofrimento para aprendermos, desapegarmo-nos e ultrapassarmos o que nasce em nós e, enfim, crescermos espiritualmente.   

Tudo está no lugar certo.    


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita