A fé, a
esperança e o presente
Muitas pessoas têm a
ideia de que a Fé e a
Esperança são a mesma
coisa, ou, pelo menos,
uma anda de mãos dadas
com a outra.
A Fé e a Esperança são
coisas completamente
diferentes, e a última
pode-nos afastar da Fé.
Quando visualizamos
esperança em nossas
vidas, é com a ideia de
que as coisas corram
como nós queremos ou nos
dá jeito.
Esperança vem de esperar
algo. O estudante faz um
exame e tem esperança
que saia uma boa nota.
Vamos ao médico fazer
uma consulta e umas
análises e temos a
esperança de que vai
correr tudo bem.
Descubro que tenho uma
doença má, como um
cancro, e tenho
esperança que me vá
curar.
A esperança tem de ter
um objetivo que irá
acontecer, a Fé já não é
assim.
Ter fé é despojarmo-nos
de nossos desejos,
problemas, vontades de
como a vida deve correr,
confiar plenamente em
Deus e aceitarmos a
nossa cruz, o que nos
vai aparecendo pela
frente. É sabermos que
Ele sabe o que
precisamos e o que vier,
simples ou complicado, é
aceite com amor, pois a
Fé diz-nos que “uma mão”
universal joga o
“xadrez” de nossas
vidas.
A Fé não olha para o
futuro colocando desejos
de como as coisas devem
correr, ao contrário da
Esperança. A Esperança
nasce no desejo, na
mente do homem, a Fé
nasce no interior, no
Espírito, e é
silenciosa.
A esperança é uma ideia
do futuro, por isso
criamos o desejo e
colocamos a estrela
norteadora no desejo
onde queremos chegar,
como o estudante espera
ter positiva. A fé vive
no presente, em
silêncio, sem qualquer
desejo, sabendo que tudo
o que está a acontecer é
o que tem de acontecer.
Através da Fé percebemos
que as pessoas difíceis
que estão ao nosso lado
não vieram por acaso e
que as dificuldades da
vida vieram para nos
ensinar.
Na Fé existe um enorme
amor, porque ao
aceitarmos plenamente a
vida, a nós e aos
outros, não temos
qualquer reação negativa
que nos tire da nossa
natureza.
A esperança pode-se
tornar turbulenta e
cegar-nos para a Fé.
Quando temos esperança
que alguma coisa corra
de determinada forma,
como a cura de uma
doença de um ente
querido, e esta
acontece, parece-nos fé.
Afirmamos que tivemos Fé
em Deus e ele ajudou o
nosso familiar a
curar-se. Esquecemos o
ensinamento do carma ou
a Lei de ação e reação.
Quando acontece ao
contrário do desejo, ou
seja, não se cura,
estamos perante uma
bifurcação. Acontece a
indignação, que é o
prolongamento do desejo
em uma determinada
direção que não
aconteceu como
queríamos, e leva-nos a
uma falta de fé,
questionando-nos por que
Deus não nos ajudou, por
que tinha de ser assim?
Após esta situação,
poderemos ir acalmando e
retomar a nossa Fé em
Deus, aceitando o que
aconteceu, mas,
consoante a dificuldade
de lidarmos com a
situação, levará tempo
para nos estabelecermos
na Fé ou até podemos
abandonar a Fé em Deus,
pela não aceitação. O
choque pode ser muito
grande, e nasce numa
esperança, que
erroneamente apelidamos
de fé, logo a colocamos
de lado por falta de
sentido com que vemos a
vida.
O apego à ideia que
criamos sobre a
esperança, o que
queremos que aconteça, é
um perigo à resignação.
A esperança não é uma
vilã enganadora, ela é
um movimento da nossa
cabeça que acreditamos
estar ligado à Fé. A
ideia que temos sobre a
esperança, de que é
ligada à Fé ou é a
própria Fé, é que é
errada.
Não estou, com este
texto, a querer dizer de
que não devemos sentir
esperança, isso seria
contrário à natureza
humana.
Nós devemos continuar a
sentir esperança. Se um
ente querido vai ser
operado devemos ter
esperança de que corra
tudo bem, pois isso nos
dá uma força motivadora
que cria uma energia
positiva. Esta energia
torna-se numa força
motivadora para nos
curarmos.
A esperança ajuda-nos a
atingir, através do
trabalho, o objetivo do
que queremos, tal como o
estudante ter boas
notas, motivado pela
esperança, para estudar.
O único ponto a que
quero chegar é que
devemos olhar para as
coisas como elas são e
não nos iludirmos
fazendo de uma coisa
outra, como da esperança
a ideia da fé.
Se olharmos para
esperança como ela é,
nunca perderemos a fé,
pois, por trás da ideia
da esperança, estará a
fé que nos ampara se não
correr como desejamos. A
esperança nasce na
mente, a fé nasce no
espírito, é uma energia
que nasce dentro de nós
que nos diz que
aconteceu o que deveria
ter acontecido, o melhor
para o espírito, embora
não nos pareça o melhor
para nossa mente.
Esta energia da fé é
inata ao ser humano, por
isso ele sempre cultuou
um Deus ou vários, desde
os tempos primórdios.
Mesmo os ateus, que vão
sentindo esta energia a
nascer, vão negando-a
através de um
“racionalismo terreno”
que funciona alicerçado
nos sentidos humanos,
limitando o ser àquilo
que os cinco sentidos
percebem.
Tenha ou sinta
esperança, pois ela é
importantíssima. Tenha
ou sinta esperança de
que um dia o nosso
planeta será um paraíso,
mas entenda com a Fé que
para chegarmos lá temos
de passar pelas “trevas”
do sofrimento para
aprendermos,
desapegarmo-nos e
ultrapassarmos o que
nasce em nós e, enfim,
crescermos
espiritualmente.
Tudo está no lugar
certo.
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