Encontros e reencontros
Neste início de 2024, enquanto os espíritas se
avolumavam em filas enormes nas salas de cinema para
assistir à produção Nosso Lar 2, em circuito alternativo
era exibida a película indicada ao Oscar chamada “vidas
passadas” (Past lives), produção estadunidense de
caráter autobiográfico, dirigida por Celine Song.
Sem antecipar o que ocorre no filme, para não prejudicar
a experiência do leitor, pode-se dizer que a peça aborda
como nossas escolhas influenciam nossos destinos
entrecruzados, trazendo perdas e ganhos nessas opções, e
que cada encontro na verdade é um reencontro, pelas
linhas da reencarnação, mas que esse compromisso não é
um grilhão e sim uma construção, que pode se dar de
diversas formas.
Ainda nos vemos, espíritas, enredados em ideias de almas
gêmeas, carmas ou outras justificativas superficiais que
por muitas vezes servem de racionalização para falta de
coragem em fazer certas escolhas ou ainda, reformar
aquelas que julgamos equivocadas, e que pela lei da
vida, colheremos algo dessas decisões a partir do que
fizermos dela, na busca do bem de todos, e do seu
próprio.
Mais importante do que o caminho, é a motivação que nos
leva a trilhar a esquerda ou a direita na encruzilhada
que importa. O que fazemos diante do que se apresenta, e
como nos conduzimos naquele papel, é a chave da
evolução, e não apenas usar a roupagem A ou B, por vezes
de forma burocrática e superficial.
A reencarnação é um mecanismo complexo, que propicia
encontros, reencontros e desencontros, e por vezes o
planejado de defronta com circunstancias outras, e
ainda, com a nossa própria fraqueza, nos impondo o
reinventar, sem desconsiderar que não se faz crescimento
espiritual com algemas e sim com o arado.
Talvez quem assista o filme entenda melhor essas
palavras, mas a mensagem que fica é de que cada
reencarnação é uma nova oportunidade, onde reencontramos
antigos atores, que foram objetos de relações conosco,
mas também encontramos outros novos, e nessa teia de
relações, somos intuídos dos compromissos que necessitam
ser saldados, mas também temos certa liberdade de fazer
esse ressarcimento.
O bem não é algo ponto a ponto, e sim uma força
omnidirecional que nos transforma e aos que nos cercam,
e que o nascer é para crescer, podendo ser crescer com a
pessoa A ou B, mas sempre crescer, em um sentido maior e
amplo.
Se assim não for, a reencarnação, a lei de amor, se
apresenta como algo reducionista, quase contábil, de
pagar uma dívida X para a pessoa A, para sermos
“salvos”, distante de um modelo no qual a reencarnação é
a porta de evolução que se faz com os que nos cercam,
para quem fizemos o bem e o mal, em diversas proporções,
dependendo de nossas fragilidades. Não ao maniqueísmo
que ignora a verdadeira essência do espírito!
Felizmente ou infelizmente, os desafios da vida
espiritual são mais complexos do que se imagina. São
muito mais do que A reencarnar com B e saldar a dívida
X. É algo mais rico, mais dinâmico e mais à altura do
que somos, imagem e semelhança da divindade.
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