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por Marcus Vinicius de Azevedo Braga

Encontros e reencontros


Neste início de 2024, enquanto os espíritas se avolumavam em filas enormes nas salas de cinema para assistir à produção Nosso Lar 2, em circuito alternativo era exibida a película indicada ao Oscar chamada “vidas passadas” (Past lives), produção estadunidense de caráter autobiográfico, dirigida por Celine Song.

Sem antecipar o que ocorre no filme, para não prejudicar a experiência do leitor, pode-se dizer que a peça aborda como nossas escolhas influenciam nossos destinos entrecruzados, trazendo perdas e ganhos nessas opções, e que cada encontro na verdade é um reencontro, pelas linhas da reencarnação, mas que esse compromisso não é um grilhão e sim uma construção, que pode se dar de diversas formas.

Ainda nos vemos, espíritas, enredados em ideias de almas gêmeas, carmas ou outras justificativas superficiais que por muitas vezes servem de racionalização para falta de coragem em fazer certas escolhas ou ainda, reformar aquelas que julgamos equivocadas, e que pela lei da vida, colheremos algo dessas decisões a partir do que fizermos dela, na busca do bem de todos, e do seu próprio.

Mais importante do que o caminho, é a motivação que nos leva a trilhar a esquerda ou a direita na encruzilhada que importa. O que fazemos diante do que se apresenta, e como nos conduzimos naquele papel, é a chave da evolução, e não apenas usar a roupagem A ou B, por vezes de forma burocrática e superficial.

A reencarnação é um mecanismo complexo, que propicia encontros, reencontros e desencontros, e por vezes o planejado de defronta com circunstancias outras, e ainda, com a nossa própria fraqueza, nos impondo o reinventar, sem desconsiderar que não se faz crescimento espiritual com algemas e sim com o arado.

Talvez quem assista o filme entenda melhor essas palavras, mas a mensagem que fica é de que cada reencarnação é uma nova oportunidade, onde reencontramos antigos atores, que foram objetos de relações conosco, mas também encontramos outros novos, e nessa teia de relações, somos intuídos dos compromissos que necessitam ser saldados, mas também temos certa liberdade de fazer esse ressarcimento.

O bem não é algo ponto a ponto, e sim uma força omnidirecional que nos transforma e aos que nos cercam, e que o nascer é para crescer, podendo ser crescer com a pessoa A ou B, mas sempre crescer, em um sentido maior e amplo.

Se assim não for, a reencarnação, a lei de amor, se apresenta como algo reducionista, quase contábil, de pagar uma dívida X para a pessoa A, para sermos “salvos”, distante de um modelo no qual a reencarnação é a porta de evolução que se faz com os que nos cercam, para quem fizemos o bem e o mal, em diversas proporções, dependendo de nossas fragilidades. Não ao maniqueísmo que ignora a verdadeira essência do espírito!

Felizmente ou infelizmente, os desafios da vida espiritual são mais complexos do que se imagina. São muito mais do que A reencarnar com B e saldar a dívida X. É algo mais rico, mais dinâmico e mais à altura do que somos, imagem e semelhança da divindade.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita