Abusos de poder, de autoridade ou
quaisquer outros
Não se assuste o leitor com o momento complexo da
atualidade, dentro e fora do Brasil. Abusos e
explorações de todo gênero continuam a ocorrer,
escancarando nossas necessidades que gritam aos nossos
próprios ouvidos e deixam à mostra nossa mediocridade
moral.
A justiça humana, sempre falha e adaptável a variados
interesses, tem progresso muito lento e abre sempre
brechas para fraudes, equívocos e atendimento de
interesses egoístas.
A Justiça Divina, todavia, perfeita, imutável e agindo
sem cessar, coloca cada um de nós no seu devido lugar,
no tempo certo, ensinando-nos a respeitar a vida.
Busque-se a clareza de três questões de O Livro dos
Espíritos, para percepção dessa sábia grandeza que
dirige a vida e nos conduz aos aprendizados que todos
precisamos assimilar.
Valemo-nos de apenas três delas, embora o assunto nunca
se esgote. Pela clareza, transcrevemos na íntegra. A
última selecionada é de uma expressão impressionante
para as ocorrências em curso. Acompanhe, trazendo o
assunto à nossa realidade atual:
Questão 273. Será possível que um homem de raça
civilizada reencarne, por expiação, numa raça de
selvagens?
“É; mas depende do gênero da expiação. Um senhor que
tenha sido de grande crueldade para os seus escravos
poderá, por sua vez, tornar-se escravo e sofrer os maus
tratos que infligiu a seus semelhantes. Um, que em certa
época exerceu o mando, pode, em nova existência, ter que
obedecer aos que se curvaram ante a sua vontade.
Ser-lhe-á isso uma expiação, se ele abusou do seu poder,
e Deus poderia impô-la a ele. Também um Espírito bom
pode querer encarnar no seio de povos selvagens,
ocupando posição influente, para fazê-los progredir. Em
tal caso, desempenha uma missão.”
Questão 684. Que se deve pensar dos que abusam de sua
autoridade, impondo a seus inferiores excessivo
trabalho?
“Isso é uma das piores
ações. Todo aquele que tem o poder de mandar é
responsável pelo excesso de trabalho que imponha a seus
inferiores, porquanto, assim fazendo, transgride a lei
de Deus.”
Questão 807: Que se
deve pensar dos que abusam da superioridade de suas
posições sociais, para, em proveito próprio, oprimir os
fracos?
“Merecem anátema! Ai deles! Serão, a seu turno,
oprimidos: renascerão numa existência em que
terão de sofrer tudo o que tiverem feito sofrer aos
outros.”
Estudando, todavia, a questão 807 (a última acima), no
livro Religião dos Espíritos (Chico/Emmanuel,
edição FEB), o autor espiritual amplia a questão com
exemplos impressionantes que não deixam dúvidas para
quem aprofunde o assunto. Transcrevo na íntegra o
capítulo 26 – Na Terra e no Além. A mensagem foi
transmitida na reunião pública de 13 de abril de 1959:
Interessado em desfrutar vantagens transitórias no
imediatismo da existência terrestre, quase sempre o
homem aspira à galhardia de apresentação e a porte
distinto, elegância e domínio, no quadro social em que
se expressa; entretanto, conduzido à Esfera Superior,
pela influência renovadora da morte, identifica as
próprias deficiências, na tela dos compromissos
inconfessáveis a que se junge, e implora da Providência
Divina determinados favores na reencarnação, que
envolvem, de perto, o suspirado aprimoramento para a
Vida Maior.
É assim que cientistas famosos, a emergirem da
crueldade, rogam encarceramento na idiotia; políticos
hábeis, que abusaram das coletividades a que deviam
proteção e defesa, suplicam inibições cerebrais que os
recolham a precioso ostracismo; administradores dos bens
públicos que não hesitaram em esvaziar os cofres do
povo, a favor da economia particular, solicitam
raciocínio obtuso que lhes entrave a sagacidade para o
furto aparentemente legal; criminosos que brandiram
armas contra os semelhantes requisitam braços mutilados,
assinando aflitivas sentenças contra si
mesmos; suicidas que menosprezaram as concessões do
Senhor, atendendo a deploráveis caprichos, recorrem a
organismos quebrados ou violentados no berço, para
repararem as faltas cometidas contra si
mesmos; tribunos da desordem pedem os embaraços da
gaguez; artistas que se aviltaram, arrastando emoções
alheias às monstruosidades da sombra, invocam a
internação na cegueira física; caluniadores eminentes,
que não vacilaram no insulto ao próximo, requerem o
martírio silencioso dos surdos-mudos; desportistas
eméritos e bailarinos de prol, que envileceram os dons
recebidos da Natureza, exoram nervos doentes e glândulas
deficitárias que os segreguem a distância de novas
quedas morais; traidores que expuseram corações
respeitáveis, no pelourinho da injúria, demandam a
própria detenção no catre dos paralíticos; mulheres que
desertaram da excelsa missão feminina, a se prostituírem
na preguiça e na delinquência, solicitam moléstias
ocultas que lhes impeçam a expansão do sentimento
enfermiço, e expoentes da beleza e da graça que
corromperam a perfeição corpórea, convertendo-a em
motivo para transgressões lamentáveis, requestam longos
estágios em quadros penfigosos que lhes desfigurem a
forma, de modo a expiarem nas chagas da presença
inquietante as culpas ominosas que lhes agoniam os
pensamentos…
Ajudai-vos, assim, buscando no auxílio constante aos
outros o pagamento facilitado das dívidas do pretérito,
porquanto, amanhã, sereis na Espiritualidade as
consciências que hoje somos, abertas à fiscalização da
Verdade, com a obrigação de conhecer em nós mesmos a
ulceração da treva e a carência da luz.
Nada mais a acrescentar, senão sugerir ao leitor reler
as questões acima e situá-las no presente momento
histórico da Humanidade.
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