Nuvens e véus
Somos herdeiros
de nós mesmos,
portanto
artífices do
próprio destino
“A cada dia
basta o seu
cuidado.” Jesus. (Mt.,
6:34)
O esquecimento
do passado bem
como a incógnita
do futuro são de
molde a fazer
convergir para o
presente toda a
nossa atenção...
A hora presente
é, ao mesmo
tempo, a
colheita do
pretérito e a
sementeira do
futuro. Daí a
precisão do
asserto
messiânico
contido no
versículo
supramencionado,
nos registros de
Mateus.
Segundo explica
um Benfeitor
Espiritual,
“(...) o gênio é
a radiação das
conquistas
anteriores.
Essa “radiação” é
o estado do
Espírito no
desprendimento
ou nas
encarnações
superiores.
Há
duas distinções
a fazer: o
gênio mais comum
entre nós é
simplesmente o
estado de um
Espírito, do
qual uma ou duas
faculdades
ficaram
descobertas e em
condição de agir
livremente,
visto que
recebeu um corpo
que permite sua
expansão na
plenitude
adquirida. Daí
a explicação do
fato de
existirem
crianças que se
sobressaem
prematuramente
nas diversas
áreas das
atividades
humanas: artes,
ciências, etc...
A outra espécie
de gênio é o
Espírito que vem
dos mundos
adiantados e
felizes onde a
aquisição é
universal sobre
os pontos de
todo o
conhecimento;
aonde todas as
faculdades da
Alma chegaram a
um grau
eminente,
desconhecido na
Terra. Essas
espécies de
gênio se
distinguem dos
primeiros por
uma excepcional
aptidão para
todos os
talentos, para
todos os
estudos...
Concebem todas
as coisas por
uma intuição
segura e que
confunde a
ciência ensinada
pelos sábios.
Sobressaem em
bondade, em
grandeza d`alma,
em verdadeira
nobreza, em
obras
excelentes...
Tais foram entre
nós os homens
que, em diversas
épocas fizeram
avançar a
humanidade, os
sábios que
ampliaram os
limites dos
conhecimentos e
dissiparam as
trevas da
ignorância.
Viram e
pressentiram o
destino
terrestre, por
mais longe que
estivessem da
realização desse
destino. Todos
lançaram os
fundamentos de
alguma ciência
ou foram o seu
ponto
culminante”.
Nós somos os
herdeiros de nós
mesmos e,
consequentemente,
os artífices do
próprio destino,
portanto o
criminoso o é
por seus
antecedentes; o
homem de mérito,
o homem de
gênio, são
superiores pela
mesma causa.
Afirma o Mestre
Lionês:
“(...) ao
nascer, traz o
homem consigo o
que adquiriu;
nasce qual se
fez; em cada
existência tem
um novo ponto de
partida.
Pouco lhe
importa saber o
que foi antes:
se se vê punido,
é que praticou o
mal. Suas atuais
tendências más
indicam o que
lhe resta a
corrigir em si
próprio e é
nisso que deve
concentrar-se
toda a sua
atenção,
porquanto,
daquilo de que
se haja
corrigido
completamente
nenhum traço
mais conservará.
As boas
resoluções que
tomou são as
vozes da
consciência,
advertindo-o do
que é bem e do
que é mal e
dando-lhe forças
para resistir às
tentações...
Aliás, o
esquecimento
ocorre apenas
durante a vida
corpórea.
Volvendo à vida
espiritual,
readquire o
Espírito a
lembrança do
passado. Nada
mais há,
portanto, do que
uma interrupção
temporária,
semelhante à que
se dá na vida
terrestre
durante o sono,
a qual não obsta
a que, no dia
seguinte, nos
recordemos do
que tenhamos
feito na véspera
e nos dias
precedentes.
E não é somente
após a morte que
o Espírito
recobra a
lembrança do
passado. Pode
dizer-se que
jamais a perde,
pois que, como a
experiência o
demonstra, mesmo
encarnado,
adormecido o
corpo, ocasião
em que goza de
certa liberdade,
o Espírito tem
consciência de
seus atos
anteriores; sabe
porque sofre e
que sofre com
justiça. A
lembrança
unicamente se
apaga no curso
da vida
exterior, da
vida de relação.
Mas, na falta de
uma recordação
exata, que lhe
poderia ser
penosa e
prejudicá-lo nas
suas relações
sociais, forças
novas haure ele
nesses instantes
de emancipação
da alma, se os
sabe
aproveitar”.
Concluímos,
assim, que o
esquecimento do
passado é
relativo. Vez
por outra as
nuvens se
dissipam e os
véus se
levantam,
ensejando-nos
reorientações,
novas direções,
diferentes
perspectivas...
Complementa o
Benfeitor
Espiritual em a Revue
Spirite acima
mencionada:
“(...) nem tudo,
pois, é velado
na encarnação a
ponto de não
traspassar nada
de nosso ser
interior. A
inteligência e a
bondade são
luzes muito
vivas, focos
muito ardentes
para que a vida
terrena os
reduza à
obscuridade.
As provas a
sofrer bem podem
velar, atenuar
algumas de
nossas
faculdades,
adormecê-las,
mas se tiverem
chegado a um
alto grau, o
Espírito não
pode perder
inteiramente a
sua posse e
exercício. Tem
em si a
segurança de que
os mantém sempre
à sua
disposição;
muitas vezes
mesmo, não pode
consentir de
elas
apartarem-se.
Eis o que causa
as vidas tão
dolorosas de
certos homens,
que preferiram
sofrer por suas
altas faculdades
a deixar que
estas se
apagassem por
algum tempo.
Sim, todos nós
somos pela
esperança, e
alguns pela
lembrança,
cidadãos dessas
altas Esferas
Celestes, onde o
pensamento
irradia puro e
poderoso. Sim,
todos nós
seremos Platões,
Aristóteles,
Erasmos; nosso
Espírito não
verá mais
empalidecer as
suas aquisições
sob o peso da
vida do corpo,
ou extinguir-se
sob o peso da
velhice e das
enfermidades.
Estejamos certos
de que, todo
homem de bem se
tornará cidadão
desses mundos
felizes, dessas
Jerusaléns
esplêndidas,
onde o Espírito
vive livre num
corpo etéreo,
possuindo sem
nuvens e véus
todas as suas
conquistas.
Então,
conheceremos
tudo quanto
aspiramos
conhecer,
compreenderemos
tudo quanto
procuramos
compreender”.
Perguntando aos
Espíritos o que
levamos conosco
deste mundo,
Kardec obteve a
seguinte
resposta: “(...)
nada, a não ser
a lembrança e o
desejo de ir
para um mundo
melhor,
lembrança cheia
de doçura ou de
amargor,
conforme o uso
que se fez da
vida”.
-
KARDEC,
Allan. O
Evangelho
segundo
o
Espiritismo. 121.ed.
Rio [de
Janeiro]:
FEB,
2003,
cap. V,
item 11.
-
KARDEC,
Allan. O
Livro
dos
Espíritos. 88.ed.
Rio [de
Janeiro]:
FEB,
2006, q.
150.