É
o Espírito quem
ama e não o
corpo
Em O Livro
dos Espíritos,
na Parte Quarta,
Capítulo I –
“Das penas e
gozos
terrestres”, na
questão 939,
Allan Kardec
pergunta: “Uma
vez que os
Espíritos
simpáticos são
induzidos a
unir-se, como é
que, entre os
encarnados,
frequentemente
só de um lado há
afeição e que o
mais sincero
amor se vê
acolhido com
indiferença e,
até, com
repulsão? Como
é, além disso,
que a mais viva
afeição de dois
seres pode
mudar-se em
antipatia e
mesmo em ódio?”
A resposta dos
Espíritos é:
“Não compreendes
então que isso
constitui uma
punição, se bem
que passageira?
Depois, quantos
não são os que
acreditam amar
perdidamente,
porque apenas
julgam pelas
aparências, e
que, obrigados a
viver com as
pessoas amadas,
não tardam a
reconhecer que
só
experimentaram
um encantamento
material! Não
basta uma pessoa
estar enamorada
de outra que lhe
agrada e em quem
supõe belas
qualidades.
Vivendo
realmente com
ela é que poderá
apreciá-la.
Tanto assim que,
em muitas
uniões, que a
princípio
parecem
destinadas a
nunca ser
simpáticas,
acabam os que as
constituíram,
depois de se
haverem estudado
bem e de bem se
conhecerem, por
votar-se,
reciprocamente,
duradouro e
terno amor,
porque assente
na estima!
Cumpre não se
esqueça de que é
o Espírito quem
ama e não o
corpo, de sorte
que, dissipada a
ilusão material,
o Espírito vê a
realidade.
Duas espécies há
de afeição: a do
corpo e a da
alma,
acontecendo com
frequência
tomar-se uma
pela outra.
Quando pura e
simpática, a
afeição da alma
é duradoura;
efêmera a do
corpo. Daí vem
que, muitas
vezes, os que
julgavam amar-se
com eterno amor
passam a
odiar-se, desde
que a ilusão se
desfaça.”
A questão 939
trata da união e
desunião de
pessoas que, de
início,
estabeleceram
relação
aparentemente
simpática e
amorosa, mas,
com o convívio,
começaram a
ocorrer
situações de
indiferença,
repulsão e
antipatia,
passando da
afeição de amor
para ódio.
Pela resposta,
no caso da
pergunta, há uma
punição, embora
passageira,
porquanto as
pessoas se
julgavam amar
fervorosamente
pelas aparências
materiais. Mas,
com o tempo de
relacionamento,
perceberam que
houve
encantamento de
supostas
qualidades que
ruiu com as
experiências do
cotidiano. Por
outro lado,
muitas uniões,
que pareciam
destinadas a
antipatias,
prosseguiram com
relacionamento
duradouro,
inclinado ao
amor, ao afeto e
à amizade,
porque houve
estima,
enfrentando a
realidade do
convívio.
A resposta
complementa: “...
é o Espírito
quem ama e não o
corpo, de sorte
que, dissipada a
ilusão material,
o Espírito vê a
realidade.”
É o Espírito
quem ama, pois o
ser humano
integral possui
três coisas: o
corpo físico ou
material,
análogo aos
animais e
animado pelo
mesmo princípio
vital; a alma,
ou o Espírito
encarnado no
corpo; e o
perispírito, o
primeiro
envoltório do
Espírito, sendo
o laço que
prende a alma ao
corpo, sendo elo
entre a matéria
e o Espírito.
O Espírito é
sede da
inteligência e
dos sentimentos,
pensamentos,
desejos,
vontades,
consciência,
lembranças e
memória. O corpo
físico, por ser
material,
obviamente, não
tem sentimentos.
Por outro lado,
o corpo físico,
como qualquer
bem material,
pode despertar
interesse,
desejo, paixão,
cobiça, prazer,
apego, posse,
dentre outros
tantos.
O Espírito
precisa do corpo
físico, por meio
da encarnação,
para evoluir,
dominando e
depurando
imperfeições e
sentimentos
inferiores, tais
como: egoísmo,
orgulho,
ganância,
vaidade, paixão,
apego, inveja,
ambição, cobiça,
desejo, prazer,
tentação,
indiferença. O
Espírito
encarnado sofre
as vicissitudes
e necessidades
que a matéria
proporciona, o
que não seria
possível
enquanto no
plano
espiritual.
Logo, o corpo
físico não ama,
pois ele
representa um
bem material.
A resposta da
questão 939 diz
mais: “Duas
espécies há de
afeição: a do
corpo e a da
alma,
acontecendo com
frequência
tomar-se uma
pela outra.
Quando pura e
simpática, a
afeição da alma
é duradoura;
efêmera a do
corpo. Daí vem
que, muitas
vezes, os que
julgavam amar-se
com eterno amor
passam a
odiar-se, desde
que a ilusão se
desfaça.”
Por esse
esclarecimento,
as pessoas podem
se afeiçoar
tanto pelo corpo
como pela alma,
em que a afeição
material é
efêmera e a
espiritual
duradoura.
Na afeição do
corpo ou
material, as
ilusões iniciais
dissipam-se
diante da
realidade do
convívio, as
quais foram
fundadas pela
cega paixão,
pelo simples
prazer ou pelas
aparências, que
desaguaram em
infelicidade
pela difícil e
truculenta
experiência
mútua,
Depois das
ilusórias juras
de amor, a perda
de confiança, a
infidelidade, a
violência, o
menosprezo, a
indiferença, o
egoísmo, o
orgulho, o
ciúme, o
sentimento de
posse, entre
outras tantas
atitudes que
maculam o
relacionamento,
provocam
ressentimentos,
revolta,
repulsa, ódio,
antipatia,
terminando com a
união.
A relação dessas
pessoas, desde o
início, não se
baseou no amor
com o enlace de
almas.
Acreditavam que
se amavam
realmente até
surgir
obstáculos na
relação, mudando
o padrão de
comportamento
com reações em
face da
frustração
vivenciada.
Já a afeição de
almas é
duradoura em
decorrência da
união de
corações pelo
mútuo
conhecimento.
Pela
convivência, as
almas se
enxergam, os
parceiros
compreendem suas
realidades e
motivam outros
sentimentos que
mantêm o
relacionamento
pela
compreensão,
pelo respeito,
pela
consideração,
pela tolerância,
pela paciência,
pelo perdão,
pelo carinho,
pela amizade,
pela compaixão.
Esses seres
entenderam que,
mesmo diante das
dificuldades e
aflições, o amor
continua
presente nos
corações para a
edificação
mútua, extraindo
lições úteis em
uma relação de
conhecimento e
crescimento.
O Espírito
Emmanuel, no
livro Vida e
sexo, na
psicografia de
Francisco
Cândido Xavier,
no Capítulo 11,
em “Alterações
afetivas”,
esclarece:
“Muito comum se
alterem as
condições
afetivas, depois
que o navio do
casamento se
afasta do cais
do sonho para o
mar largo da
experiência.
Converte-se,
então, a
esperança em
trabalho e
desnudam-se
problemas que a
ilusão envolvia.
Em muitos casos,
a altura da
afeição
permanece
intacta;
entretanto, na
maioria das
posições,
arrefece o calor
em que se
aquecia o casal
nos dias
primeiros da
comunhão
esponsalícia.
(...)
Parceiro e
parceira, nos
compromissos do
lar, precisam
reaprender na
escola do amor,
reconhecendo
que, acima da
conjunção
corpórea, fácil
de se
concretizar, é
imperioso que a
dupla se case,
em espírito -
sempre mais em
espírito -, dia
por dia. (...)
Extinta a
fogueira da
paixão na
retorta da
organização
doméstica,
remanesce da
combustão o ouro
vivo do amor
puro, que se
valoriza, cada
vez mais, de
alma para alma,
habilitando o
casal para mais
altos destinos
na Vida
Superior.”
Emmanuel
esclarece ser
normal a mudança
das condições
afetivas depois
de iniciar o
convívio em
decorrência das
experiências
vividas a dois.
Nessas
experiências, as
esperanças do
início devem ser
trabalhadas em
face dos
problemas que a
ilusão as
envolvia.
Para muitos, a
afeição não
muda, mas para
outros esfria o
relacionamento.
Isso porque,
pela
convivência, é
preciso
reaprender as
lições de amor
nos compromissos
do lar,
reconhecendo
que, acima dos
interesses
materiais, é
imperioso viver
em espírito na
rotina diária.
Extinta a
paixão, tem que
permanecer o
puro amor, que
se valoriza de
alma para alma,
em que ambos se
elevam moral e
espiritualmente.
No mesmo
sentido, o
Espírito
Miramez, no
livro Filosofia
espírita, na
psicografia de
João Nunes Maia,
Volume XIX,
Capítulo 21 –
Antipatias,
comenta a
questão 939 de O
Livro dos
Espíritos:
“O ser humano se
engana
constantemente,
principalmente
no tocante ao
amor. É preciso
analisar mais a
chamada sintonia
que, no fundo, é
o próprio amor.
Ele faz parte de
uma escala
imensurável;
cada degrau
corresponde a um
estado de alma,
e a subida vai
nos mostrando
que ela é
infinita,
assinalando as
posições das
criaturas e
fazendo-as
sentir a verdade
na sequência da
subida.
Ao se encontrar
uma criatura,
principalmente
do sexo oposto,
pode-se sentir
imediatamente
uma grande
afeição, que
tanto pode ser
pela presença
física, quanto
pela espiritual.
Compete a cada
indivíduo ser
cauteloso em
mostrar o que
está pensando e
sentindo naquele
momento, para
não cair em
contradições.
Certamente que
em muitos casos,
encontramos
pessoas pela
primeira vez e
sentimos
antipatias por
elas, no
entanto, com o
decorrer do
tempo,
modificamos
nossos
sentimentos,
passando a amar
tais criaturas,
bem como se dá o
contrário. A
razão nos fala
que tudo isso
constitui
processo de
despertamento
espiritual, e
que não vamos
permanecer
sentindo
antipatia; o
nosso futuro é
amar e nos
confraternizar
com todos os
seres deste
mundo em que
moramos
temporariamente
e dos outros,
tanto quanto de
todos os reinos
da natureza.
Devemos amar a
Deus, como já
falamos alhures,
em todas as
coisas, que
essas coisas
respondem a esse
amor em sua
dimensão de
vida. Não deves
te sentir
culpado por
teres antipatia
por alguém;
deves, sim,
compreender esse
sinal como sendo
um aviso do que
ocorre por
dentro da tua
vida. O que tens
a fazer é buscar
mudar na tua
intimidade e
esforçar-te para
tal, que a
própria natureza
te ajudará na
superação dos
obstáculos
naturais. Esses
conflitos são
normas de
despertamento
dos valores
internos. Não
deves tampouco
culpar as
entidades
mal-informadas
sobre a verdade.
Elas estão
igualmente
procurando, como
todos nós, a
verdade para se
libertarem das
incompreensões.
Ao encontrares
novos
companheiros e a
antipatia
surgir, é um
sinal pedindo
para parares e
meditar, até que
se abram em teu
entendimento,
vários processos
da vida para nos
educar e
instruir. O
próprio amor à
primeira vista
deve ser
moderado. Em
tudo, a posição
de equilíbrio
nos mostra
melhores
resultados;
todas as paixões
ardentes vêm de
fonte
mal-informada, e
todas as paixões
desenfreadas
nascem mais da
matéria e pedem
modificações. O
homem elevado é
sereno em tudo o
que faz e pensa;
ele ama, na
mesma
serenidade, a
Deus em tudo.
Certamente que
existem muitas
modalidades de
afeições, no
entanto, tudo
vem do Espírito.
Somente ele, na
posição de
encarnado, ama
ou odeia. Quando
o Espírito se
liberta do corpo
na
desencarnação, a
matéria se funde
na própria
matéria,
desfazendo-se da
forma. Os
elementos buscam
seus iguais,
fundindo-se e se
transformando
para a sua
grandeza. Na
própria matéria
existe
‘antipatia’ dos
elementos, que
vibram em
diferentes
ordens.
Em muitos casos,
que podem ser
comprovados,
muitos que amam
e que se diziam
felizes em tais
momentos, passam
a odiar.
Entrementes, com
a compreensão da
vida, com o
passar dos
milênios, passam
a amar
novamente,
eternamente,
pois esse é o
caminho, a
verdade e a vida
para todas as
criaturas de
Deus. O ódio é
transitório; o
amor é eterno,
em tudo que
existe.
Nestes jazia uma
multidão de
enfermos, cegos,
coxos e
paralíticos.
(João, 5: 3)
Na vibração do
ódio somente
existem cegos,
coxos e
paralíticos,
mas, com Jesus,
em se referindo
ao amor, à
simpatia, todos
se curam da
cegueira, das
enfermidades e
dos defeitos
físicos, vivendo
nas linhas da
perfeita
harmonia de
vida.
Podemos afirmar
que todos os
acontecimentos
contraditórios
que se passam na
vida da alma,
são necessários
para que ela
chegue à região
do amor,
passando a amar.
Não podemos
julgar a ninguém
porque deixou de
amar determinada
criatura de quem
antes tanto
gostava. As
próprias ilusões
são lições, para
nos mostrar o
verdadeiro
caminho. Todos
passam por essas
diretrizes. Os
Espíritos
elevados sabem
disso; por isso
não julgam.”
Assim, é o
Espírito quem
ama e não o
corpo, pois o
Espírito é sede
da inteligência,
dos sentimentos,
dos desejos e
das ações.
Dependendo das
situações
vividas e da
moral do ser
humano, alguns
passam do amor
para o ódio.
Na afeição de
almas, ante o
amor que se
conhece e
descobre, a
dificuldade
torna-se
desafio, a dor
faz-se prova, a
enfermidade
constitui
resgate, a luta
se converte em
experiência, a
ingratidão
ensina, a
renúncia
liberta, a
solidão prepara
e o sacrifício
santifica.
Por isso,
procuremos, pela
tolerância
fraterna, pela
compreensão,
pelo respeito,
pela
consideração,
pela tolerância,
pela paciência,
pelo perdão,
pelo carinho,
pela amizade e
pela compaixão,
as lições
sublimes para
caminhar nas
construções
afetivas,
simpáticas,
edificantes e
imperecíveis das
almas
entrelaçadas.
Seja qual for a
circunstância,
mantenha acesa a
chama do amor
ensinada e
exemplificada
pelo Mestre
Jesus.
Bibliografia:
BÍBLIA SAGRADA.
CONHECENDO O
ESPIRITISMO.
Centro Espírita
online Casa de
Jesus. Quais
os tipos de
casamento? Disponível
no endereço
eletrônico: LINK-1.
Publicado em: 13
de janeiro de
2019. Acessado
em 15 de outubro
de 2023.
KARDEC, Allan;
tradução de
Evandro Noleto
Bezerra. A
Gênese. 2ª
Edição.
Brasília/DF:
Federação
Espírita
Brasileira,
2013.
KARDEC, Allan;
tradução de
Guillon
Ribeiro. O
Livro dos
Espíritos. 1ª
Edição.
Brasília/DF:
Federação
Espírita
Brasileira,
2019.
MIRAMEZ
(Espírito); na
psicografia João
Nunes Maia. Filosofia
espírita. Volume
XIX. 1ª
Edição. Belo
Horizonte/MG.
Editora Fonte
Viva, 1990.
O
LIVRO DOS
ESPÍRITOS
COMENTADO PELO
ESPÍRITO
MIRAMEZ. Filosofia
espírita -
Volume XIX -
Questão 939
comentada. Disponível
no endereço
eletrônico: LINK-2.
Acessado em 15
de outubro de
2023.
PERALVA,
Martins. Estudando
a mediunidade.
27ª Edição.
Brasília/DF:
Federação
Espírita
Brasileira,
2017.
PÉTALAS DO
ESPIRITISMO. Pergunta
939 - O Livro
dos Espíritos.
Disponível no
endereço
eletrônico: LINK-3.
Publicado em: 10
de setembro de
2020. Acessado
em 14 de outubro
de 2023.