Coleção Nosso Lar: obra de
ficção?
Com os filmes Nosso Lar e Nosso Lar II voltaram
ao debate questões relacionadas à veracidade dos
relatos mediúnicos de André Luiz,
particularmente concernentes à vida no Além.
Parecia coisa resolvida, mas não!
Eu tinha menos de dez anos e acompanhava
atentamente a discussão do tema, ora sob a
liderança carismática de meu avô Astolfo
Olegário de Oliveira, ora patrocinado por minha
tia avó Elza Baesso, ou, ainda por meus pais e
tios.
Com o tempo, essa discussão perdeu o sentido e
todos considerávamos como validadas as
informações fornecidas pelo autor espiritual.
No entanto, confrades inteligentes, estudiosos e
bem-intencionados vêm insistindo no caráter
ficcional ou fantasioso da obra.
Apesar dos argumentos apresentados por eles,
mantenho a posição que construí em mais de
quarenta anos de atividades no movimento
espírita. Considero a coleção Nosso Lar como o
mais valioso repositório de informações
disponíveis a respeito do modo de vida na
dimensão espiritual.
Valho-me de três argumentos:
Primeiro, a idoneidade moral do médium, seu
comprometimento com a causa espírita e a
confiabilidade de seus recursos mediúnicos,
amplamente validados em décadas de labor.
Segundo, a coerência da obra, ditada em um
período de mais de 25 anos, mantendo-se na mesma
linha de pensamento.
Terceiro, a vasta concordância com outros
relatos mediúnicos.
Gostaria de ater-me a este último argumento.
É verdade que a pobreza de dados concretos a
respeito da dimensão extrafísica caracteriza a
obra de Allan Kardec. Até mesmo a noção de
colônias espirituais é refutada por Kardec,
conforme se vê no comentário ao item 1017 de O
livro dos espíritos. Penso que isso pode ser
compreendido considerando a natureza iniciática
da obra. Tais informações, naquele momento,
poderiam comprometer seriamente a iniciativa dos
Espíritos.
Mas, outros autores se comprometeram com tais
informações.
Devemos a Emanuel Von Swedenborg (1688-1772),
cientista, filósofo e médium sueco as primeiras
notáveis revelações a esse respeito. Entre 1740
a 1760, em vários livros, notadamente em O
Céu e Inferno, A nova Jerusalém e Arcanos
Celestiais, o sensitivo se reportou a casas
onde viviam famílias, templos onde praticavam o
culto, auditórios onde se reuniam para fins
sociais, plantas, árvores e flores em
quantidades jamais vistas na dimensão terrena,
obras de arte, artesanatos e objetos não muito
diferentes daqueles que os Espíritos estavam
habituados a ver durante sua vida terrena.
Mostra, também, que a vida no céu não é uma
sequência monótona de práticas religiosas, mas
um cenário de intensa atividade. Como o serviço
útil é a base da felicidade, são essenciais as
ocupações celestiais. Lá, todas as faculdades
mentais encontrarão sua função e a ociosidade
não é permitida. Ele se refere à “alimentação”,
garantindo que mesmo os indolentes serão
compelidos ao trabalho e só receberão alimento
se prestarem algum tipo de serviço.
Nesse mundo espiritual, informa o sensitivo,
existem sociedades cujas funções são, por
exemplo, cuidar das crianças; outras, cujas
funções consistem em dar-lhes a instrução e a
educação, quando elas crescem. Comenta que até
seus jogos e divertimentos servem de
instrumentos de instrução. Há museus, ginásios e
faculdades, bibliotecas e lugares onde se
realizavam jogos literários.
Há uma interessante descrição de um local de
instrução de meninas. Elas são reunidas, em
grupos de três, quatro ou cinco. Cada uma tem
seu próprio quarto e sua própria cama. Num
aposento contíguo, há um pequeno vestiário, onde
elas guardam suas roupas e seus pertences mais
valiosos. Elas estão sempre ocupadas com sua
tarefa primordial, os bordados. As peças que
produzem são para o próprio uso ou para
presentear as outras. Elas recebem sua roupa de
uso diário gratuitamente, e a roupa mais fina é
reservada para as festividades. Elas também
recebem moedas de prata e ouro e as guardam
cuidadosamente, pois elas representam diligência
e virtude. Elas têm a Palavra Escrita e o livro
dos Salmos e os levam quando vão ouvir o pastor.
E quando duas pessoas foram casadas neste mundo,
essa união subsistirá na outra vida. E as
pessoas que não chegaram a casar-se neste mundo,
encontrarão seus consortes na outra vida, desde
que verdadeiramente os desejem.
Depois de Swedenborg, encontramos uma tímida
referência a “bosques encantadores” na
correspondência do Espírito de Lavater com a
imperatriz da Rússia em 1798, conforme se lê na
Revista Espírita de maio de 1868.
Contemporâneo de Kardec, embora tenha vivido até
1910, destaca-se o médium norte-americano,
Andrew Jackson Davis. De família humilde e com
pouca escolaridade, é considerado um dos maiores
médiuns de sua época, tanto pelos fenômenos que
produzia, como por seus livros. Sua mediunidade
desabrochou aos 17 anos de idade. Fazia
conferências de alto nível filosófico e
científico, incompatível com sua parca cultura.
Descreveu, em detalhes, o processo
desencarnatório. Em suas visões espirituais,
Davis viu uma disposição do Universo que
correspondia aproximadamente ao que foi descrito
por Swedenborg, acrescido do que foi
posteriormente ensinado pelos Espíritos e aceito
pelos espíritas. Viu uma vida semelhante à da
Terra.
A obra Raymond, de 1916, de Oliver Lodge,
traria outras informações. Lodge, físico inglês
de renome, foi um dos pioneiros da telegrafia
sem fio e do rádio. O cientista foi um grande
defensor da existência da vida após a morte e é
lembrado pelos seus estudos sobre o tema.
Iniciou-os estudando fenômenos físicos no final
da década de 1880. Entre 1901 e 1903, serviu
como presidente da Society for Psychical
Research, importante organização de pesquisa
parapsicológica. Após a morte de seu filho,
Raymond, em 1915, na Primeira Guerra Mundial,
Oliver Lodge visitou vários médiuns, tendo
recebido várias mensagens do filho, que foram
publicadas na obra Raymond, or Life and Death (1916),
que se tornou um best-seller à época.
Nessa obra há referências, dentre outras coisas,
a casas construídas de tijolos, árvores, lama
que suja a roupa e alimentos para os Espíritos
que têm fome.
Nove anos depois, na América do Norte, outra
obra de sucesso faria, igualmente, revelações
sobre a vida na dimensão espiritual. Trata-se do
livro A vida além do véu, de 1925,
publicada pelo reverendo George Vale Owen,
sacerdote anglicano que se destacou como médium
na década de 1920. O livro reúne mensagens da
mãezinha desencarnada do pastor e faz referência
a jardins, prédios e florestas.
No Brasil, antes mesmo de André Luiz, a médium
Yvonne do Amaral Pereira iniciou a captação
mediúnica do livro Memórias de um Suicida,
com relatos minuciosos sobre a vida no além. E,
ainda, Cairbar Schutel, que examinou vários
assuntos relacionados com a vida no outro mundo,
em um livro de mesmo nome publicado em outubro
de 1932. É bom lembrar que Cairbar desencarnou
em janeiro de 1938, bem antes da publicação de
Nosso Lar.
Depois de André Luiz, autores desencarnados,
através de diferentes médiuns vêm ratificando e
desenvolvendo quase todas as informações
previamente fornecidas. Certamente, muitos dados
nos são, ainda, ocultos, mas as informações
reveladas permitem-nos a certeza de que a vida
prossegue estuante e inestancável e que nossa
posição do mundo extrafísico se dará em
equivalência com a nossa posição no mundo
corpóreo, pois somos sempre nós mesmos, aqui ou
no além.