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por Rogério Coelho

 

Curativos da alma


Os sofrimentos impostos pelo Bom Deus são apenas medicinais


"Conforme a Justiça Divina, aqui neste mundo não pode existir um desgraçado que não haja merecido o seu infortúnio."  - Santo Agostinho


"A cada um será dado segundo a suas obras" afirmou Jesus[1]...

O episódio do "cego de nascença"; o diálogo de Jesus com Nicodemos; a afirmativa de que João Batista era a reencarnação de Elias, são fatos que atestam - insofismavelmente - a impossibilidade da unicidade das existências.

A reencarnação emerge - portentosa - do seio dos ensinamentos de Jesus. Sem ela, onde estaria a Justiça Divina!?

Até mesmo sem lançarmos mão dos peremptórios argumentos espiritistas, - que não dão azo a dúvidas -, vamos buscar subsídios para a certeza e veracidade da reencarnação na sabedoria dos estudiosos de todos os tempos, e no seio da própria Igreja: Orígenes, de todos os pais da Igreja, foi quem mais claramente afirmou a reencarnação. Pontificou suas assertivas com a tese: "a Justiça do Criador deve patentear-se em todas as coisas”.

O Abade Bérault-Bercastel, ao estudar os apontamentos de Orígenes, resumiu: "(...) segundo esse doutor da Igreja, a desigualdade das criaturas humanas não representa senão o efeito do seu próprio merecimento, porque todas as almas foram criadas simples, livres, ingênuas e inocentes por sua própria ignorância; e todas - também por isso - absolutamente iguais. O maior número incorreu em “pecado” e, na conformidade de suas faltas, foram elas encerradas em corpos mais ou menos grosseiros, expressamente criados para lhes servir de prisão. Daí os procedimentos diversos da família humana.

Por mais grave, porém, que seja a queda, jamais acarreta para o Espírito culpado o retrocesso à condição de bruto. Apenas o obriga a recomeçar novas existências, quer neste,  quer  em outros mundos, até que, exausto  de  sofrer,  se submete à lei do progresso e se modifique para melhor. Todos os Espíritos estão sujeitos a passar do bem ao mal e do mal ao bem.  Os sofrimentos impostos pelo Bom Deus são apenas medicinais, e os próprios demônios cessarão um dia de ser os inimigos do bem e o objeto dos rigores do Eterno”.

S. Jerônimo afirma que a transmigração das almas fazia parte dos ensinos revelados a certo número de indivíduos que recebiam o nome de iniciados.

Em suas "confissões" diz Santo Agostinho: "(...) não teria minha infância atual sucedido a uma outra idade antes dela extinta?... Antes mesmo desse tempo, teria eu estado em algum lugar? Seria alguém?"

Lemos na Apologética de Tertuliano: "(...) se foi possível crer-se na metempsicose grosseira, não será mais digno admitir-se que um homem possa ter sido anteriormente um homem, conservando sua alma as qualidades e faculdades precedentes?"

O notável escritor francês Léon Denis[2], amarrando as pontas de todos esses raciocínios, conclui: "(...) Stº. Agostinho debita a razão dos sofrimentos das criaturas, a causa geral das provações que padece a humanidade, assim como as deformidades nativas, a fator cujas raízes estão implantadas nas vidas passadas.  Portanto, a preexistência das Almas à dos corpos em uma ou várias existências anteriores à vida terrestre explica essas aparentes anomalias.

Ratificando a opinião de Platão, Orígenes explica que as vicissitudes seriam - curativos da Alma - correspondendo à necessidade simultânea da justiça e do amor, não nos sendo imposto o sofrimento senão para nos melhorarmos”.

Assim, vivemos todos - sem exceção - sob o pálio da Justiça Distributiva e Equânime do Pai Celestial, e as vicissitudes nada mais são do que o buril agindo no sentido de aformosear a pedra bruta - lapidando-a - para que a Luz Divina presa nos mais íntimos sítios d’Alma brilhe numa superfície sem jaça.                


 

[1] - Mateus, 16:27.

[2] - DENIS, Léon. Cristianismo e Espiritismo. 7.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1978, nota nº. 5


    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita