Curativos da alma
Os sofrimentos impostos pelo Bom Deus são apenas
medicinais
"Conforme a Justiça Divina, aqui neste mundo não pode
existir um desgraçado que não haja merecido o seu
infortúnio." - Santo Agostinho
"A cada um será dado segundo a suas obras"
afirmou Jesus...
O episódio do "cego de nascença"; o diálogo de
Jesus com Nicodemos; a afirmativa de que João Batista
era a reencarnação de Elias, são fatos que atestam -
insofismavelmente - a impossibilidade da unicidade das
existências.
A reencarnação emerge - portentosa - do seio dos
ensinamentos de Jesus. Sem ela, onde estaria a Justiça
Divina!?
Até mesmo sem lançarmos mão dos peremptórios argumentos
espiritistas, - que não dão azo a dúvidas -, vamos
buscar subsídios para a certeza e veracidade da
reencarnação na sabedoria dos estudiosos de todos os
tempos, e no seio da própria Igreja: Orígenes, de todos
os pais da Igreja, foi quem mais claramente afirmou a
reencarnação. Pontificou suas assertivas com a tese: "a
Justiça do Criador deve patentear-se em todas as
coisas”.
O Abade Bérault-Bercastel, ao estudar os apontamentos de
Orígenes, resumiu: "(...) segundo esse doutor da
Igreja, a desigualdade das criaturas humanas não
representa senão o efeito do seu próprio merecimento,
porque todas as almas foram criadas simples, livres,
ingênuas e inocentes por sua própria ignorância; e todas
- também por isso - absolutamente iguais. O maior número
incorreu em “pecado” e, na conformidade de suas faltas,
foram elas encerradas em corpos mais ou menos
grosseiros, expressamente criados para lhes servir de
prisão. Daí os procedimentos diversos da família humana.
Por mais grave, porém, que seja a queda, jamais acarreta
para o Espírito culpado o retrocesso à condição de
bruto. Apenas o obriga a recomeçar novas existências,
quer neste, quer em outros mundos, até que, exausto
de sofrer, se submete à lei do progresso e se
modifique para melhor. Todos os Espíritos estão sujeitos
a passar do bem ao mal e do mal ao bem. Os sofrimentos
impostos pelo Bom Deus são apenas medicinais, e os
próprios demônios cessarão um dia de ser os inimigos do
bem e o objeto dos rigores do Eterno”.
S. Jerônimo afirma que a transmigração das almas fazia
parte dos ensinos revelados a certo número de indivíduos
que recebiam o nome de iniciados.
Em suas "confissões" diz Santo Agostinho: "(...)
não teria minha infância atual sucedido a uma outra
idade antes dela extinta?... Antes mesmo desse tempo,
teria eu estado em algum lugar? Seria alguém?"
Lemos na Apologética de Tertuliano: "(...) se foi
possível crer-se na metempsicose grosseira, não será
mais digno admitir-se que um homem possa ter sido
anteriormente um homem, conservando sua alma as
qualidades e faculdades precedentes?"
O notável escritor francês Léon Denis,
amarrando as pontas de todos esses raciocínios,
conclui: "(...) Stº. Agostinho debita a razão dos
sofrimentos das criaturas, a causa geral das provações
que padece a humanidade, assim como as deformidades
nativas, a fator cujas raízes estão implantadas nas
vidas passadas. Portanto, a preexistência das Almas à
dos corpos em uma ou várias existências anteriores à
vida terrestre explica essas aparentes anomalias.
Ratificando a opinião de Platão, Orígenes explica que as
vicissitudes seriam - curativos da Alma - correspondendo
à necessidade simultânea da justiça e do amor, não nos
sendo imposto o sofrimento senão para nos melhorarmos”.
Assim, vivemos todos - sem exceção - sob o pálio da
Justiça Distributiva e Equânime do Pai Celestial, e as
vicissitudes nada mais são do que o buril agindo no
sentido de aformosear a pedra bruta - lapidando-a - para
que a Luz Divina presa nos mais íntimos sítios d’Alma
brilhe numa superfície sem jaça.