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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Maus obreiros


O título do presente artigo, publicado no livro Vinha de Luz, enaltece a mensagem do Espírito Emmanuel (psicografia de Francisco Cândido Xavier), que examina – sempre com extrema profundidade e sabedoria – um trecho da epístola de Paulo aos Filipenses: “Guardai-vos dos maus obreiros”. A lembrança do referido texto é pertinente, particularmente nestes tempos de intensa má-fé e má vontade que grassam por toda a parte. E os efeitos mais visíveis de toda essa insensibilidade contumaz repercutem dolorosamente na vida humana em geral. Por isso, precisamos ficar muito atentos para que, quando defrontados pelo pessimismo peçonhento insuflado por tais indivíduos, não comprometamos as nossas melhores disposições d’alma.

Como muito bem pondera a elevada entidade espiritual, “Em todas as atividades do bem, o trabalhador sincero necessita preservar-se contra o veneno que procede do servidor infiel”. Com efeito, esses indivíduos geralmente não perdem a oportunidade de deslustrar as mais elogiáveis iniciativas daqueles que se devotam sinceramente a construir algo digno de nota. Os seus pontos de vista são quase sempre enviesados, impedindo-os de se concentrar no lado positivo das coisas. Suas opiniões são geralmente duras, sarcásticas e impiedosas, e, obviamente voltadas a destruir o ânimo de quem tenta algo construir.

Como explica ainda Emmanuel, “Enquanto os servos leais se desvelam, dedicados, nas obrigações que lhes são deferidas, os maus obreiros procuram o repouso indébito, conclamando companheiros à deserção e à revolta. Ao invés de cooperarem, atendendo aos atendendo aos compromissos assumidos, entregam-se à crítica jocosa ou áspera, menosprezando os colegas de luta”.

Se expandirmos um pouco o raciocínio, notaremos que os “maus obreiros” estão infiltrados em todos os setores da vida, não apenas no religioso. Nesse sentido, vale destacar a crueldade – não vemos adjetivo mais apropriado – com a qual as pessoas são tratadas pelo poder público para obter uma consulta médica, por exemplo.

Embora a Constituição do país prescreva o direito de todos à saúde, na prática os dramas humanos se multiplicam a olhos vistos. Os cidadãos mais humildes e com renda muito limitada não conseguem cuidar se quer razoavelmente dessa tão importante dimensão. O paradoxo é que até mesmo aqueles que desfrutam de melhores condições financeiras, e que podem pagar por um plano privado, também têm grandes dissabores como mostram as estatísticas.

Na verdade, se alargarmos o olhar concluiremos que não há setor que não esteja contaminado por maus obreiros, que tornam a vida humana desnecessariamente mais áspera. Divorciados da noção do amor e do respeito aos semelhantes – pilares da mensagem cristã -, empenham-se com fervor doentio em tornar a experiência corporal humana ainda mais penosa. Quando possível, também espalham o vírus do ceticismo nos corações humanos através das suas intervenções desastrosas.

Recentemente, determinado livro de conteúdo bem pesado foi alvo de extrema crítica por parte de alguns setores da sociedade por estar sendo distribuído para estudantes menores de 18 anos de idade. Profissionais da área de educação, indignados com a linguagem usada pelo autor e o teor da obra, manifestaram a sua desaprovação veementemente. Ocorre que, se tal livro foi recomendado, apesar da sua proposta temática não estar em perfeita consonância com as necessidades dos alunos dessa faixa etária (não vou entrar no mérito da sua qualidade literária), é porque um ou mais “obreiros” da educação assim entenderam. 

Entretanto, o escândalo gerado não foi obra do acaso, mas decorrentes de decisões e percepções provavelmente infelizes. Não constituí novidade, aliás, de que nossa juventude atual precisa de sadia orientação e diálogo, que, em muitos casos, não encontram em seus próprios lares. Divulgar material didático para eles que não contribua para o seu real desenvolvimento humano e capacitação para a vida profissional, não parece ser o melhor caminho.

Ainda dentro do assunto em pauta, cabe igualmente considerar a existência de organizações que desempenham um péssimo papel em relação à sociedade. São, grosso modo, exemplos salientes de péssimas obreiras institucionais, dificultando tanto quanto podem a vida das pessoas e, em muitas ocasiões, explorando-as impiedosamente. Ou seja, não contratam empregados suficientes para o funcionamento das suas operações, não disponibilizam recursos ou acesso ao atendimento dos cidadãos em momentos de crise, como vimos, por exemplo, recentemente em situações de enchentes e queda de energia. Outras utilizam um lobby deplorável para obter vantagens financeiras e, assim, revelam uma chocante irresponsabilidade social.

Tais empreendimentos se enquadram perfeitamente bem na categoria de “maus obreiros”. Conjecturo que os reais servidores do bem, normalmente enfrentam grandes obstáculos para expressar as suas luzes espirituais em tais locais de trabalho. Sejamos nós engenheiros, médicos, operários, garis, professores ou executivos, enfim, o fato é que Deus espera o nosso engajamento e efetiva contribuição na melhoria geral da nossa civilização. Portanto, devemos ser obreiros do bem, pois há sempre algo que podemos fazer nessa direção. Por outro lado, quem opta por seguir deliberadamente um caminho obscuro e sinistro, tenha em mente que um dia haverá de prestar contas à espiritualidade pelos seus atos desastrosos.
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita