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por Vladimir Alexei

 

O papel do educador é aprender


A professora Heloisa Pires, em uma de suas obras, indicou que a educação visa fazer aflorar todas as experiências úteis do indivíduo, assim como atenuar as tendências viciosas que porventura ainda existam em cada um.

Seu pai, o saudoso e querido professor J. Herculano Pires, trouxe uma referência à educação espírita que retrata a importância do tema, em função de sua complexidade, quando descreve que “o Espiritismo se apresenta na ordem geral das concepções humanas como o último elo da cadeia de sistemas educacionais na evolução terrestre”.

Ainda na esteira das reflexões em torno do pensamento de autores espíritas, o também professor Ney Lobo aborda que cabe ao aspecto “religioso” do Espiritismo a Educação.

Diante desse entendimento, é oportuno observar o pensamento dos educadores espíritas em relação ao pensamento de educadores acadêmicos. Semelhanças são percebidas quando se estuda que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua produção ou a sua construção”, como asseverou o professor Paulo Freire. Tal reflexão encontra ressonância no pensamento da professora Heloisa Pires.

O professor Paulo Freire continua esclarecendo que “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. Isso responde, caso exista alguma dúvida, sobre o título dessas singelas reflexões em torno de um tema espiritual de expressiva relevância, que é a educação do Espírito.

O Espiritismo é uma fonte primorosa de conhecimento. O conhecimento é um recurso poderoso do Espírito que se desenvolve ao utilizar-se a inteligência de maneira a construir uma vida melhor para si e o seu entorno. No entanto, parece que o conhecimento não é tão simples assim de se adquirir.

Para conhecer é preciso analisar. Para analisar é preciso entender. Para entender é importante utilizar os sentidos, além da inteligência, criando assim um ambiente propício para a transformação. Talvez, compreendendo o alcance dessa necessidade, o sociólogo alemão Ulrich Beck, tenha utilizado a palavra “metamorfose” no lugar de transformação para ilustrar o movimento que se busca imprimir em uma existência. Ao explicar o sentido da palavra, não seria de todo equivocado supor que o autor pudesse ter estudado as obras de Allan Kardec ou ainda ser intuído por Espíritos Superiores em seu trabalho.

O autor diz que “metamorfose não é uma mudança social, não é transformação, não é evolução, não é revolução e não é crise. É uma maneira de mudar a natureza da existência humana.” Segundo Beck, a metamorfose desafia nosso modo de estar no mundo, de pensar sobre o mundo. É tão profundo que associar essas reflexões ao que a Doutrina Espírita propõe em termos de transformação íntima é no mínimo uma responsabilidade que se deve ter na divulgação do Espiritismo.

Falar com simplicidade, expor com sabedoria, viver intensamente aquilo que se diz é o que o Espírita está construindo. Quanto mais desafiador for esse processo, mais próximo do aprendizado está aquele que ensina. Por que? Porque as experiências da vida precisam vibrar na acústica da alma de maneira a proporcionar as conexões entre os recursos que se tem e as necessidades que precisam ser trabalhadas para o progresso espiritual.

Nesse sentido, ensina com mais acerto aquele que aprende, que sente, que encara as dificuldades da vida com galhardia, errando, caindo, sofrendo, para entender o real significado de cada tropeço nessa jornada de aprendizado. Tudo se conecta, o tempo todo, como um enorme “sistema”, cujo papel do educador é tentar reconhecer os padrões, filosóficos e matemáticos, expostos ou ocultos, para conjugar um novo alfabeto, em que o tropeço represente oportunidade, as quedas, ascensão, o sofrimento, amor, e assim sucessivamente até que as compreensões sejam dilatadas e o Espírito esteja preparado para uma nova compreensão do seu papel na existência.

Por isso, quantificar o tempo que se dedica ao trabalho educativo de ensinar, como se estivessem nas horas utilizadas o poder metamorfoseador, é ignorar a transformação que a Educação opera, quando aplicada em bases profundas no decorrer das reencarnações.

Não se muda uma existência repetindo o passado; não se contribui para a transformação pessoal, com medo de enfrentar seus compromissos, escudando-se em trabalhos sociais ou dedicando-se tempo à divulgação do Espiritismo, quando o trabalho educativo está nos ambientes de maior exigência dos valores espirituais, aqueles que o indivíduo tangencia, acreditando defender-se; não se constrói relações reais, de caráter fraterno e duradouro, manipulando informações para que as pessoas executem aquilo que o egoísmo propõe como trabalho cristão; não se muda um movimento de divulgação sem esclarecer os erros cometidos na criação de sectarismo e o seu impacto na atualidade; não se muda uma existência religiosa, cultivando hábitos religiosos que sufocam as possibilidades de um pensamento livre de convenções; por fim, não se muda uma existência, e nem o seu papel como educador, sem aprender.

Demore o tempo que for, viva a vida da maneira que dê conta. Cada movimento disposto a encontrar respostas, é um passo importante, ainda que trôpego, rumo ao despertar da consciência para a evolução do Espírito.


    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita