O papel do
educador é aprender
A professora Heloisa Pires, em uma de suas obras,
indicou que a educação visa fazer aflorar todas as
experiências úteis do indivíduo, assim como atenuar as
tendências viciosas que porventura ainda existam em cada
um.
Seu pai, o saudoso e querido professor J. Herculano
Pires, trouxe uma referência à educação espírita que
retrata a importância do tema, em função de sua
complexidade, quando descreve que “o Espiritismo se
apresenta na ordem geral das concepções humanas como o
último elo da cadeia de sistemas educacionais na
evolução terrestre”.
Ainda na esteira das reflexões em torno do pensamento de
autores espíritas, o também professor Ney Lobo aborda
que cabe ao aspecto “religioso” do Espiritismo a
Educação.
Diante desse entendimento, é oportuno observar o
pensamento dos educadores espíritas em relação ao
pensamento de educadores acadêmicos. Semelhanças são
percebidas quando se estuda que “ensinar não é
transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a
sua produção ou a sua construção”, como asseverou o
professor Paulo Freire. Tal reflexão encontra
ressonância no pensamento da professora Heloisa Pires.
O professor Paulo Freire continua esclarecendo que “quem
ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao
aprender”. Isso responde, caso exista alguma dúvida,
sobre o título dessas singelas reflexões em torno de um
tema espiritual de expressiva relevância, que é a
educação do Espírito.
O Espiritismo é uma fonte primorosa de conhecimento. O
conhecimento é um recurso poderoso do Espírito que se
desenvolve ao utilizar-se a inteligência de maneira a
construir uma vida melhor para si e o seu entorno. No
entanto, parece que o conhecimento não é tão simples
assim de se adquirir.
Para conhecer é preciso analisar. Para analisar é
preciso entender. Para entender é importante utilizar os
sentidos, além da inteligência, criando assim um
ambiente propício para a transformação. Talvez,
compreendendo o alcance dessa necessidade, o sociólogo
alemão Ulrich Beck, tenha utilizado a palavra “metamorfose” no
lugar de transformação para ilustrar o movimento que se
busca imprimir em uma existência. Ao explicar o sentido
da palavra, não seria de todo equivocado supor que o
autor pudesse ter estudado as obras de Allan Kardec ou
ainda ser intuído por Espíritos Superiores em seu
trabalho.
O autor diz que “metamorfose não é uma mudança social,
não é transformação, não é evolução, não é revolução e
não é crise. É uma maneira de mudar a natureza da
existência humana.” Segundo Beck, a metamorfose
desafia nosso modo de estar no mundo, de pensar sobre o
mundo. É tão profundo que associar essas reflexões ao
que a Doutrina Espírita propõe em termos de
transformação íntima é no mínimo uma responsabilidade
que se deve ter na divulgação do Espiritismo.
Falar com simplicidade, expor com sabedoria, viver
intensamente aquilo que se diz é o que o Espírita está
construindo. Quanto mais desafiador for esse processo,
mais próximo do aprendizado está aquele que ensina. Por
que? Porque as experiências da vida precisam vibrar na
acústica da alma de maneira a proporcionar as conexões
entre os recursos que se tem e as necessidades que
precisam ser trabalhadas para o progresso espiritual.
Nesse sentido, ensina com mais acerto aquele que
aprende, que sente, que encara as dificuldades da vida
com galhardia, errando, caindo, sofrendo, para entender
o real significado de cada tropeço nessa jornada de
aprendizado. Tudo se conecta, o tempo todo, como um
enorme “sistema”, cujo papel do educador é tentar
reconhecer os padrões, filosóficos e matemáticos,
expostos ou ocultos, para conjugar um novo alfabeto, em
que o tropeço represente oportunidade, as quedas,
ascensão, o sofrimento, amor, e assim sucessivamente até
que as compreensões sejam dilatadas e o Espírito esteja
preparado para uma nova compreensão do seu papel na
existência.
Por isso, quantificar o tempo que se dedica ao trabalho
educativo de ensinar, como se estivessem nas horas
utilizadas o poder metamorfoseador, é ignorar a
transformação que a Educação opera, quando aplicada em
bases profundas no decorrer das reencarnações.
Não se muda uma existência repetindo o passado; não se
contribui para a transformação pessoal, com medo de
enfrentar seus compromissos, escudando-se em trabalhos
sociais ou dedicando-se tempo à divulgação do
Espiritismo, quando o trabalho educativo está nos
ambientes de maior exigência dos valores espirituais,
aqueles que o indivíduo tangencia, acreditando
defender-se; não se constrói relações reais, de caráter
fraterno e duradouro, manipulando informações para que
as pessoas executem aquilo que o egoísmo propõe como
trabalho cristão; não se muda um movimento de divulgação
sem esclarecer os erros cometidos na criação de
sectarismo e o seu impacto na atualidade; não se muda
uma existência religiosa, cultivando hábitos religiosos
que sufocam as possibilidades de um pensamento livre de
convenções; por fim, não se muda uma existência, e nem o
seu papel como educador, sem aprender.
Demore o tempo que for, viva a vida da maneira que dê
conta. Cada movimento disposto a encontrar respostas, é
um passo importante, ainda que trôpego, rumo ao
despertar da consciência para a evolução do Espírito.