Preparação de evangelizadores espíritas
No ano de 1982, em comemoração dos cinco anos da
Campanha Permanente de Evangelização, a equipe do
Departamento de Infância e Juventude da Federação
Espírita Brasileira promoveu uma entrevista com o
espírito Bezerra de Menezes, através do médium Júlio
Cezar Grandi Ribeiro (1935-1999). As perguntas e
respostas vieram a público numa separata da revista
Reformador, no ano de 1986, e depois a entrevista foi
publicada no livro Sublime Sementeira, da
FEB Editora. Das palavras desse iluminado espírito,
vamos destacar algumas que consideramos de grande
importância e merecem reflexão profunda, a começar pelo
chamamento à capacitação e qualificação do evangelizador
espírita:
“É notório que a especialidade da tarefa não se compraz
com improvisações descabidas, tão logo a experiência
aponte o melhor e o mais rendoso, razão pela qual os
servidores integrados na evangelização devam buscar,
continuamente, a atualização de conteúdos e
procedimentos didático-pedagógicos, visando a um melhor
rendimento, em face da economia da vida na trajetória da
existência, considerando-se que, de fato, os tempos são
chegados.”
A busca contínua por atualização de conteúdos e
procedimentos didático-pedagógicos deve fazer parte da
vida do evangelizador espírita, e dos esforços dos
dirigentes dos centros espíritas, principalmente dos
coordenadores do serviço de evangelização, o que pode
ser feito com a realização periódica de encontros de
estudo e avaliação no âmbito da própria equipe de
colaboradores; convidando um educador espírita de outro
centro espírita para uma palestra e/ou oficina sobre um
tema que atenda às necessidades dos evangelizadores;
promovendo a participação dos evangelizadores em
encontros, seminários e cursos sobre evangelização
promovidos pelo movimento espírita; indicando aos
evangelizadores literatura especializada, espírita e não
espírita, que contribua para a melhor compreensão da
pedagogia e da psicologia, assim fortalecendo o
conhecimento teórico e a práxis educacional.
Coordenadores e evangelizadores não podem ficar parados
no tempo, pois a vida é dinâmica, e no processo
educativo, que engloba o processo de ensino e
aprendizagem, existem pesquisas, teorias, técnicas,
métodos, finalidades que ganham aprofundamento com a
ótica espírita da criança ser um espírito reencarnado.
Como apreender tudo isso e melhor educar, sem estudar,
sem se preparar continuamente? Muitos educadores
espíritas, vários com livros publicados, são
desconhecidos dos evangelizadores: Herculano Pires,
Lucia Moysés, Ney Lobo, Sandra Borba, Pedro de Camargo,
Anália Franco, Walter Oliveira Alves, Dalva Silva Souza,
Cíntia Vieira Soares, isso citando apenas alguns. Não
falta literatura espírita especializada na área da
educação, resta saber se ela é lida e estudada pelos
educadores espíritas.
Outro trecho que nos chama a atenção na fala de Bezerra
de Menezes é quando ele aborda a importância da
evangelização espírita:
“A tarefa da evangelização espírita infantojuvenil é do
mais alto significado dentre as atividades desenvolvidas
pelas instituições espíritas, na sua ampla e valiosa
programação de apoio à obra educativa do homem. Não
fosse a evangelização, o Espiritismo, distante de sua
feição evangélica, perderia sua missão de Consolador,
renteando-se com a diversidade das escolas religiosas no
mundo que, embora úteis e oportunas, estiolaram-se no
tempo absorvendo posições de terminalidade e
dogmatismo.”
O entendimento vindo da espiritualidade maior é claro:
entre todas as atividades e serviços desenvolvidos pelo
centro espírita, a evangelização das crianças e dos
jovens é a mais importante. Não podemos esquecer que
Jesus aceitou ser chamado de Mestre, porque de fato ele
é, tendo ensinado e exemplificado o conteúdo que hoje
temos no Evangelho. E também não podemos esquecer que
Allan Kardec, antes de codificador do Espiritismo, é um
pedagogo, tendo trabalhado intensamente pela educação.
Assim, tanto o Evangelho quanto o Espiritismo, são
essencialmente doutrinas de educação, mas esse
entendimento não é pacífico no movimento espírita, com
muitos dirigentes priorizando, por exemplo, o serviço
social, ou a reunião mediúnica, ou o tratamento
espiritual e assim por diante. Destaquemos que Bezerra
de Menezes não menospreza nenhuma atividade realizada
pelos centros espíritas, mas alerta que entre todas, “a
tarefa da evangelização espírita infantojuvenil é do
mais alto significado”.
Complementando seu pensamento, que reflete o pensamento
dos espíritos superiores, Bezerra esclarece:
“Os responsáveis pelos centros, grupos, casas ou núcleos
espiritistas devem mobilizar o maior empenho e
incentivo, envidando todos os esforços para que a
evangelização de crianças e jovens faça evidenciar os
valores da fé e da moral nas gerações novas. É
necessário que a vejam com simpatia, como um trabalho
integrado nos objetivos da instituição e jamais como
atividade à parte.”
Apesar desse apelo-advertência, muitos dirigentes
continuam a ver a evangelização como uma atividade à
parte, como um serviço que complementa a palestra
pública, retirando do salão as crianças, que assim não
atrapalharão o palestrante; ou relegam a evangelização
para um horário no fim de semana, sem nem mesmo
comparecer para acompanhar, incentivar e avaliar.
Quantos centros espíritas adaptam sua sede física para
tudo, menos para a evangelização? E se assim ainda
assistimos as coisas acontecerem perante a tarefa de
mais alto significado, podemos imaginar como está o
desenvolvimento da capacitação e qualificação dos
evangelizadores.
Temos recebido muitas informações da queda do serviço de
evangelização nos centros espíritas, com fuga de
crianças, de jovens e de evangelizadores. Fazendo parte
de vários grupos de divulgação no movimento espírita, e
acompanhando as redes sociais, quase nada temos visto
quanto à realização de eventos e cursos para
evangelizadores. Quantas vezes comparecemos para fazer
palestra e nada ouvimos, e o público, com relação à
atividade evangelizadora? Não é feita divulgação, e isso
aponta um sério problema de prioridade e de comunicação.
Hoje, em que compreendemos que a evangelização espírita
deve abranger a família, da criança ao adulto, e que o
presente e o futuro da humanidade dependem da formação
moral e espiritual que estamos dando às novas gerações e
aos encarregados da sua educação, os centros espíritas,
na figura de seus dirigentes e colaboradores, devem
reavaliar as prioridades, valendo isso para o movimento
espírita. Somente a educação, compreendida como educação
moral, na ótica da imortalidade e da reencarnação,
educando os indivíduos, poderá realizar a transformação
moral da humanidade, e essa é a missão do Espiritismo,
portanto, do centro espírita.
Marcus De Mario é escritor, educador,
palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo online de
estudo espírita; edita o canal Orientação Espírita no
YouTube; possui mais de 35 livros publicados.
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