Conhece-te a ti mesmo
“Autoconhecimento e sua importância para a vida pessoal
e profissional”.1 Este
é o título do artigo publicado pela equipe do Blog
Carreiras da empresa Serasa Experian em março
de 2023. Como espíritas, acrescentaríamos
convictos ao título a perspectiva “espiritual”.
Há muito se fala em autoconhecer-se. Prega-se o
autoconhecimento como a chave para o sucesso ou ingresso
mágico para a felicidade plena, muitas vezes sem
perceber que não se trata de uma mudança de chave ou uma
aquisição imediata, mas sim de um processo que envolve
importantes vertentes como o desenvolvimento moral, a
reforma íntima e a autossuperação e que transcende a
existência atual.
Este artigo traz uma pequena contribuição – quando
comparado à amplitude da literatura espírita – sobre o
tema autodesenvolvimento e, considerando as exigências
atuais deste processo, tem o fito de suscitar no leitor
não só o entendimento do tema como também lhe fornecer
um roteiro para tal.
O autoconhecimento continua
evidenciando caminho seguro à iluminação espiritual do
indivíduo. Na questão 919 de O Livro
dos Espíritos (LE)
quando Kardec pergunta “Qual o meio
prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta
vida e de resistir à atração do mal?” a
Espiritualidade categoricamente responde: “Um sábio
da Antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.” 2
Não satisfeito e possivelmente em dúvida quanto ao real
processo a ser desenvolvido para o tão sonhado
autoconhecimento, Kardec, na mesma questão (919-a),
aprofunda: mas, “...Qual o meio de consegui-lo?” Daí
segue a sublime resposta de Santo Agostinho que nos leva
a profundas reflexões e nos dá uma fórmula espetacular
como caminho a ser seguido. Ele ensina: “Fazei o que
eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia,
interrogava a minha consciência, passava revista ao que
fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum
dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar.
Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim
precisava de reforma.”
As colocações de Santo Agostinho não param por aí; por
muitas linhas mais ele nos
inquire a consciência sobre todas as ações praticadas ao
longo do dia, o bem ou o mal que havemos feito, com que
objetivos procedemos em tais ou tais circunstâncias,
se fizemos algo que não ousaríamos confessar e questiona
ainda: “Se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento,
teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no
mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado?”. Continua
nos pedindo examinar a fundo o que
pudemos ter obrado conta Deus, contra nosso próximo e
finalmente contra nós mesmos. Afirma que “O
conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do
progresso individual” e nos pede para não ignorar a
opinião dos nossos semelhantes, especialmente as dos
inimigos nos dizendo que “Deus muitas vezes os coloca
a vosso lado como um espelho, a fim de que sejais
advertidos com mais franqueza do que o faria um amigo” e
conclui sua resposta orientando: “Formulai, pois, de
vós para convosco, questões nítidas e precisas e não
temais multiplicá-las.”
Na questão supracitada, em sua íntegra, Santo Agostinho
nos presenteia com ferramentas práticas a serem
utilizadas no dia-a-dia e mostra, com simplicidade, como
devemos utilizar cada uma delas.
Na questão 779 do mesmo livro, Kardec questiona: “A
força para progredir, haure-a o homem em si mesmo, ou o
progresso é apenas fruto de um ensinamento?” Os
espíritos respondem: “O homem se desenvolve por si
mesmo, naturalmente. Mas, nem todos progridem
simultaneamente e do mesmo modo. Dá-se então que os mais
adiantados auxiliam o progresso dos outros, por meio do
contato social.”
Neste tocante, parafraseando Haroldo Dutra, “...é
impossível existir autoconhecimento se não houver
contato com o próximo.” Afirmação que nos remete às
questões 766, 767 e 768 de O Livro dos Espíritos e
o comentário do Codificador
que afirma:
“Homem nenhum possui faculdades completas. Mediante a
união social é que elas umas às outras se completam,
para lhe assegurarem o bem-estar e o progresso. Por isso
é que, precisando uns dos outros, os homens foram feitos
para viver em sociedade e não insulados.”
Emmanuel no livro Fonte Viva, lição 47, nos
exorta:
“Se desejas emancipar a alma das grilhetas escuras do
“eu”, começa o teu curso de autolibertação, aprendendo a
viver como possuindo tudo e nada tendo, com todos e sem
ninguém”. “[...] Lembra-te de que, por força das leis
que governam os destinos, cada criatura está ou estará
em solidão, a seu modo, adquirindo a ciência da
autossuperação.” “[...] Não te imponhas,
deliberadamente, afugentando a simpatia; não dispensarás
o concurso alheio na execução de tua tarefa.”3
No livro Bilhetes Fraternais, Lição 2, o irmão
Rodrigo contribui dizendo: “Faze mais. Procura
em teu derredor aqueles que também se julgam sós e
dá-lhes as bênçãos da tua presença, aliviando-lhes as
dores pela oferta do teu interesse e do teu amor”.4 Uma
lição que nos incentiva o autodesenvolvimento pela
caridade, como nos ensinou Jesus: “Amarás o teu
próximo como a ti mesmo”. (Mateus 22:39)
No livro Caminho, Verdade e Vida, cap. 122,
Emmanuel no diz que “convém o esforço de autoanálise,
a fim de identificarmos a qualidade das próprias ações” e
que “é indispensável conhecermos os frutos de nossa
vida, de modo a saber se beneficiam os nossos irmãos.”5
O autoconhecimento para
ocorrer efetivamente perpassa a individualidade. Coloca
a convivência do ser humano com seu próximo, em
sociedade, como elementar à autossuperação. Força-nos
exercer domínio sobre o egoísmo, o orgulho e o instinto.
Nos estimula o autodesenvolvimento pela moral que o
amado Mestre Jesus nos trouxe, especialmente através da
prática da caridade e do amor ao próximo. Estamos, nesta
existência, conseguindo nos forjar de acordo com as
instruções da Espiritualidade Maior?
Referência bibliográfica:
1 EXPERIAN,
Serasa. Autoconhecimento e sua importância para a
vida pessoal e profissional. Disponível em: LINK-1.
Acesso em 01 set. 2023.
2 KARDEC,
Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon
Ribeiro. 93. ed. Brasília: FEB, 2013. q. 919, 919a, 766,
767, 768, 779.
3 XAVIER,
Francisco C. Fonte Viva. Pelo Espírito
Emmanuel. 36 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2011. 448
p. Lição 47 - Autolibertação,
p113.
4 ESPÍRITOS
DIVERSOS. Bilhetes Fraternais - Livro 3. Brasília:
Sociedade Divulgadora do Espiritismo Cristão, 2022. 216
p. Lição 2 – Solidão com Jesus, p19.
5 XAVIER,
Francisco C. Caminho,
Verdade e Vida. Pelo
Espírito Emmanuel. 18ª
ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1998.
377 p. Frutos, p259.
* Artigo selecionado no
Concurso A Doutrina Explica 2023, promovido pelo Jornal
Brasília Espírita, em parceria com a revista eletrônica O
Consolador e a Web Rádio Estação da Luz.
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