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por Ricardo Baesso de Oliveira

 

Pena que vale a pena


Orlando tinha quase setenta anos, quando foi detido por uma grave infração de trânsito. O juiz determinou-lhe, como penalidade, sessenta horas de trabalho voluntário. A instituição que o acolheu foi o IDE-JF. Ele deveria cumprir esse tempo no projeto social da instituição, o projeto Ser feliz.

No IDE-JF, Orlando foi lotado na cozinha, participando do grupo responsável pelo lanche das manhãs de domingo.

Logo nos primeiros encontros, ele surpreendeu-se com a forma acolhedora com que foi recebido: sorrisos, abraços, congratulações, votos de saúde e tudo o mais. Por isso ele não esperava, afinal, ali estava porque cometera um crime; havia uma culpa a ser expiada pelo serviço comunitário. No entanto, ele nunca foi visto dessa forma. Para os tarefeiros do IDE-JF, ele era um amigo querido, muito bem-vindo.

Todos os domingos era visto por lá, carregando as imensas panelas, onde eram preparados o macarrão, o molho do cachorro quente, ou a sopa de legumes. Todos tratavam-lhe pelo nome. Não faziam diferença entre ele e os demais tarefeiros da casa.

Concluídas as sessenta horas, quando as diretoras do centro lhe comunicaram que estava liberado, ele, de forma surpreendente, indagou:

- Posso continuar?

A felicidade foi geral: Orlando continuaria na casa, como voluntário do projeto Ser feliz. E lá ficou por muitos anos, afastando-se apenas alguns meses antes da pandemia da covid 19.

Ele faleceu recentemente aos 91 anos e recebeu a justa homenagem da casa, com uma matéria de reconhecimento, publicada no jornal do IDE-JF: O ideal.

Segundo O Livro dos Espíritos a justiça não exclui a bondade. Jamais devemos tratar com desprezo o nosso semelhante, independentemente de qualquer coisa. Se agirmos em relação ao criminoso de forma desumana perdemos a autoridade para corrigi-lo. Lembra Kardec que a autoridade legítima é a que se apoia no exemplo que dá do bem.

Assim, a tortura, a desconsideração, a humilhação e os maus tratos apenas agravam o rancor que muitos nutrem em relação à sociedade e não contribuem para o seu melhoramento moral. Além de ser uma atitude covarde e incompatível com os princípios humanitários.

Escreveu Kardec: não há culpados que não se possam regenerar por meio da persuasão e do exemplo [...]. Os Espíritos, por mais perversos, acabam por corrigir-se com o tempo. O fato de muitas vezes ser impossível regenerá-los prontamente, não importa na inutilidade de tais esforços. Mesmo a contragosto, as ideias sugeridas a tais Espíritos fazem-nos refletir. São como sementes que, cedo ou tarde, tivessem de frutificar.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita