O certo e o errado que
nos expulsaram do paraíso
A primeira história da Bíblia sobre o ser humano, como
certamente se conhece, é sobre um casal que vivia em
harmonia tendo como casa o Paraíso. Estes viveram em
harmonia até comerem uma fruta, que está descrita como a
fruta da árvore do conhecimento, ficando a saber o que
era certo e errado, tendo sido expulsos do Paraíso.
Essa história torna-se um pouco confusa para a maioria
das pessoas, por não entenderem como pode o conhecimento
do certo e do errado fazer com que sejam expulsos do
Paraíso?
A maioria das pessoas continuam achar que será o
conhecimento correto que as levará a felicidade ou a
evolução, o que contraria totalmente essa história.
Infelizmente, o conhecimento sobre nós e a forma de
viver tem martirizado a humanidade no campo moral.
Um casal discute por terem os cônjuges perceções
diferentes sobre a mesma situação; cada um defende o que
lhe parece certo e eles entram em uma batalha. Isso
acontece em todos os relacionamentos terrenos, pais e
filhos, amigos, irmãos, marido e mulher, colegas de
trabalho, condutores; é uma lista interminável.
Podemos ver que o certo e o errado levam as pessoas ao
choque.
Este certo e errado ultrapassa o campo das relações e
atinge o interior de todos nós. Passamos a vida a
cobrar-nos por termos a mesma forma de funcionamento,
dos certos e errados, com nós próprios. Os conflitos
internos e as doenças psíquicas nascem destes confrontos
internos em que nos dividimos e criamos uma guerra
dentro de nós.
Damos mais valor aos nossos certos e errados que a paz,
por isso estamos sempre prontos ao conflito, interno,
com os outros ou com a vida.
O que é o certo e o que é o errado?
Quando nos deparamos com o conceito do certo e do
errado, pensamos connosco que poucas vezes por dia
usamos esta medida. Esta ideia é errada, nós carregamos
este conceito em cada minuto de nossa vida, em cada
escolha que fazemos, não utilizamos é o termo.
O certo e o errado, apresentam-se de muitas formas, eles
são a dualidade. Podem-se apresentar como bom e mau,
gosto e não gosto, quero e não quero, amo e detesto,
prazer e sofrimento, e muitas outras formas. Agarramos
com todo o apego um e lutamos para afastar o outro.
Nosso caráter foi construído nesta base dualista de
escolhas, colhemos para nós o mais certo, o que mais
gostamos e montamos a nossa estrutura psíquica. Após
esta construção, olhamos para tudo através destas
medidas e defendemos os nossos certos, com unhas e
dentes.
Os nossos certos, que utilizamos como medidas constantes
para os outros e para com a vida, fazem-nos chegar à
frustração e à indignação, pois os outros têm os seus
certos e errados, e a vida um funcionamento próprio que
não cabe em nossa vontade.
O casal discute por seus pontos de vista serem
diferentes em determinada situação. Discussão após
discussão, acontece a saturação do casamento. Os países
lutam, por ideias ou ideais diferentes e muitas das
guerras são de base religiosa por crenças diferentes. Os
certos e os errados em funcionamento prático da vida.
Esta forma de funcionamento é tão entranhada em nós que
os conflitos internos que sofremos, tem como causa a
nossa divisão interior e o apego a este conceito, de
forma consciente ou inconsciente.
Temos de medir tudo na vida, o que causa o conflito e o
descontentamento, connosco, com os outros e com a vida.
Como poderia o primeiro casal mencionado na Bíblia
continuar a viver no Paraíso?
O certo e o errado são conceitos pessoais que criam a
realidade de cada ser, pelo apego destes aos conceitos.
Por isso, chegam a ponto de poderem cometer os crimes
mais horríveis para os defenderem. A ignorância da
constituição do ser em pleno funcionamento.
A nossa constituição mental é a medida certa do mundo,
que pequenos tolos nós somos, e exigimos aos outros que
ajam dentro da nossa medida de aceitação. A arrogância,
leva-nos a exigir à vida que decorra dentro dessas
medidas, como se isto fosse possível.
Vivemos presos a ideia de que um dia todos teremos o
conhecimento certo e viveremos em Paz. Não percebemos
que no caminho da sabedoria, acontece a consciência de
que o conhecimento certo é um engodo que expulsou Adão e
Eva e nos mantém na confusão, por sermos tão apegados a
esta ideia.
Apareceu o Mestre há dois mil anos, com os seus
ensinamentos revolucionários. Deixou-nos como disciplina
para estudo, o Amor, e aconselhou-nos a sermos
indulgentes com os outros e connosco e resignarmo-nos
com a vida. A indulgência e a resignação são o desapego
aos certos e errados. Não quer dizer que deixemos de ter
opinião, apenas não as impomos nem as utilizamos para
criar as medidas para os outros, para nós ou para com a
vida.
Indulgência e resignação, estas são as únicas “medidas”
que devemos ter, para tal, perdoar 70x7, não atirar a
primeira pedra, viver como os lírios do campo e não
criar expectativas sobre ninguém nem sobre a vida,
deixarmos os outros serem como são, pois, pedimos que
nos aceitem de nossa forma.
Este é o segredo para voltarmos ao Paraíso, que, segundo
o Mestre, está dentro de nós e ele o chamou de Reino de
Deus, e assim desapegar-nos dos certos e dos errados.
O autor reside em Lisboa, Portugal.
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