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por Bruno Abreu

O certo e o errado que nos expulsaram do paraíso


A primeira história da Bíblia sobre o ser humano, como certamente se conhece, é sobre um casal que vivia em harmonia tendo como casa o Paraíso. Estes viveram em harmonia até comerem uma fruta, que está descrita como a fruta da árvore do conhecimento, ficando a saber o que era certo e errado, tendo sido expulsos do Paraíso.

Essa história torna-se um pouco confusa para a maioria das pessoas, por não entenderem como pode o conhecimento do certo e do errado fazer com que sejam expulsos do Paraíso?

A maioria das pessoas continuam achar que será o conhecimento correto que as levará a felicidade ou a evolução, o que contraria totalmente essa história.

Infelizmente, o conhecimento sobre nós e a forma de viver tem martirizado a humanidade no campo moral.

Um casal discute por terem os cônjuges perceções diferentes sobre a mesma situação; cada um defende o que lhe parece certo e eles entram em uma batalha. Isso acontece em todos os relacionamentos terrenos, pais e filhos, amigos, irmãos, marido e mulher, colegas de trabalho, condutores; é uma lista interminável.

Podemos ver que o certo e o errado levam as pessoas ao choque.

Este certo e errado ultrapassa o campo das relações e atinge o interior de todos nós. Passamos a vida a cobrar-nos por termos a mesma forma de funcionamento, dos certos e errados, com nós próprios. Os conflitos internos e as doenças psíquicas nascem destes confrontos internos em que nos dividimos e criamos uma guerra dentro de nós.

Damos mais valor aos nossos certos e errados que a paz, por isso estamos sempre prontos ao conflito, interno, com os outros ou com a vida.

O que é o certo e o que é o errado?

Quando nos deparamos com o conceito do certo e do errado, pensamos connosco que poucas vezes por dia usamos esta medida. Esta ideia é errada, nós carregamos este conceito em cada minuto de nossa vida, em cada escolha que fazemos, não utilizamos é o termo.

O certo e o errado, apresentam-se de muitas formas, eles são a dualidade. Podem-se apresentar como bom e mau, gosto e não gosto, quero e não quero, amo e detesto, prazer e sofrimento, e muitas outras formas. Agarramos com todo o apego um e lutamos para afastar o outro.

Nosso caráter foi construído nesta base dualista de escolhas, colhemos para nós o mais certo, o que mais gostamos e montamos a nossa estrutura psíquica. Após esta construção, olhamos para tudo através destas medidas e defendemos os nossos certos, com unhas e dentes.

Os nossos certos, que utilizamos como medidas constantes para os outros e para com a vida, fazem-nos chegar à frustração e à indignação, pois os outros têm os seus certos e errados, e a vida um funcionamento próprio que não cabe em nossa vontade.

O casal discute por seus pontos de vista serem diferentes em determinada situação. Discussão após discussão, acontece a saturação do casamento. Os países lutam, por ideias ou ideais diferentes e muitas das guerras são de base religiosa por crenças diferentes. Os certos e os errados em funcionamento prático da vida.

Esta forma de funcionamento é tão entranhada em nós que os conflitos internos que sofremos, tem como causa a nossa divisão interior e o apego a este conceito, de forma consciente ou inconsciente.

Temos de medir tudo na vida, o que causa o conflito e o descontentamento, connosco, com os outros e com a vida.

Como poderia o primeiro casal mencionado na Bíblia continuar a viver no Paraíso?

O certo e o errado são conceitos pessoais que criam a realidade de cada ser, pelo apego destes aos conceitos. Por isso, chegam a ponto de poderem cometer os crimes mais horríveis para os defenderem. A ignorância da constituição do ser em pleno funcionamento.

A nossa constituição mental é a medida certa do mundo, que pequenos tolos nós somos, e exigimos aos outros que ajam dentro da nossa medida de aceitação. A arrogância, leva-nos a exigir à vida que decorra dentro dessas medidas, como se isto fosse possível.

Vivemos presos a ideia de que um dia todos teremos o conhecimento certo e viveremos em Paz. Não percebemos que no caminho da sabedoria, acontece a consciência de que o conhecimento certo é um engodo que expulsou Adão e Eva e nos mantém na confusão, por sermos tão apegados a esta ideia.

Apareceu o Mestre há dois mil anos, com os seus ensinamentos revolucionários. Deixou-nos como disciplina para estudo, o Amor, e aconselhou-nos a sermos indulgentes com os outros e connosco e resignarmo-nos com a vida. A indulgência e a resignação são o desapego aos certos e errados. Não quer dizer que deixemos de ter opinião, apenas não as impomos nem as utilizamos para criar as medidas para os outros, para nós ou para com a vida.

Indulgência e resignação, estas são as únicas “medidas” que devemos ter, para tal, perdoar 70x7, não atirar a primeira pedra, viver como os lírios do campo e não criar expectativas sobre ninguém nem sobre a vida, deixarmos os outros serem como são, pois, pedimos que nos aceitem de nossa forma.

Este é o segredo para voltarmos ao Paraíso, que, segundo o Mestre, está dentro de nós e ele o chamou de Reino de Deus, e assim desapegar-nos dos certos e dos errados.

 

O autor reside em Lisboa, Portugal.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita