As atividades presenciais, o medo e o
comodismo
Quatro anos passados do pico da pandemia da Covid, tendo
o vírus sido controlado através das medidas higiênicas e
da aplicação da vacina, fazendo com que a vida voltasse
ao normal, continuamos a receber notícias do
esvaziamento dos centros espíritas, exceção daqueles que
promovem o chamado tratamento espiritual, e, mais do que
isso, vemos imagens, através das redes sociais, de
centros espíritas que continuam a limitar o número de
participantes no auditório em dia de reunião pública de
palestra, quando ninguém mais faz isso: hospitais,
postos de saúde, casas de shows, supermercados, agências
bancárias, estádios de futebol, ginásios esportivos,
igrejas católicas, templos evangélicos, casas de festas,
shoppings, enfim, não possuem mais restrição, de nenhuma
espécie, e os ambientes, muitas vezes, encontram-se
lotados, com as pessoas aglomeradas, menos os centros
espíritas. Na metade do ano 2021 as restrições
sanitárias começaram a ser derrubadas, o que se
concretizou totalmente no final do mesmo ano,
entretanto, temos notícia de centros espíritas que
somente reabriram suas portas, e parcialmente, a partir
de 2022, tendo ficado dois anos sem nenhuma atividade
presencial, e parece que muitos continuam funcionando de
modo parcial.
Alegam os dirigentes espíritas que houve debandada de
colaboradores diretos e do público em geral, e isso era
de ser previsto, afinal ficar dois anos sem atividade
presencial não poderia ter outro resultado. Nesse tempo
houve crescimento das atividades online, através da
internet, e que muito contribuíram, sem dúvida, para
continuidade da difusão do Espiritismo, mas existem
atividades que não podem ser realizadas
satisfatoriamente apenas pelo mundo digital.
Perguntamos: por que os espíritas demoraram tanto para
reabrir suas instituições? Por que não percebemos
atitude dinâmica para renovar o convite às mentes e aos
corações, inclusive com a capacitação de novos
colaboradores? Naturalmente não estamos generalizando,
pois sabemos de centros espíritas que estão trabalhando
muito bem, mas a queixa sobre o esvaziamento é muito
grande. Um caso muito simbólico que conhecemos, é um
centro espírita que tem sua sede em frente a enorme
condomínio residencial, e que em rua ao lado estão
outros dois condomínios residenciais, todos com vários
blocos, de muitos andares e apartamentos. O centro
espírita, que tem uma boa sede, bem construída e
montada, está semivazio, com falta de público e de
colaboradores. O que está acontecendo? O que os
dirigentes espíritas estão fazendo para tornar as
atividades do centro espírita conhecidas? Claro que não
estamos aqui afirmando que todos os moradores desses
condomínios deveriam estar no centro espírita, mas uma
parcela significativa poderia nele estar, pois a
mensagem espírita é consoladora e esclarecedora por
excelência, preenchendo os vazios existenciais.
Continuando a ter esse centro espírita como exemplo, é
fato que mal dá para saber que ali é um centro espírita,
e muito menos saber quais são as atividades nele
desenvolvidas, pois a fachada do mesmo não evidencia
essas informações, embora elas existam, mas com letreiro
diminuto, imperceptível para quem está passando e nada
tem no prédio que lhe chame a atenção. Durante boa parte
do tempo ele está fechado, pois suas atividades são
estanques, espalhadas em alguns dias e horários. Alguém
já viu esse mesmo retrato em outros centros espíritas?
Não é mais concebível que os espíritas estejam com medo
do vírus na sede dos centros espíritas. O vírus da Covid
não foi exterminado, assim como diversos outros vírus,
mas está sob controle, e, desde que participemos das
campanhas de vacinação, assim como tomemos os cuidados
necessários com nossa saúde e bem estar, não há o que
temer. Curiosamente, vemos os espíritas, inclusive os
dirigentes dos centros espíritas, participarem de
passeios aos shoppings, de shows musicais, de peças de
teatro, de jogos de futebol, e assim por diante, sem
nenhuma preocupação, mas quando se trata do centro
espírita…
Se, de um lado, ainda temos o medo como desculpa, de
outro lado temos que reconhecer o comodismo como
desculpa. Sim, é mais cômodo ficar em casa assistindo a
palestras e vídeos, lendo livros, interagindo apenas
pelo visor do celular ou do computador, não assumindo
nenhuma responsabilidade, não colocando a mão na massa.
Isso quando, de fato, o fazemos, pois ficar em casa
exige força de vontade para se organizar e não se deixar
levar por outros afazeres, e sabemos que muitas pessoas
não possuem o bom hábito da organização, do planejamento
e do cumprimento de obrigações.
Os dirigentes dos centros espíritas devem saber
equilibrar atividades presenciais com atividades online,
tendo consciência que somos seres de relação,
presentemente reencarnados na matéria, e não podemos
prescindir do convício com os outros, pois é nesse
convívio social onde vamos aprender a nos amar.
Se não é possível trazer de volta os que se afastaram, e
cada um responde por si mesmo perante a lei divina, é
perfeitamente possível formar novos colaboradores. Para
isso os centros espíritas necessitam melhorar sua
comunicação, sua estratégia de divulgação, pois é fato
que, em muitos casos, o entorno do centro espírita, ou
seja, as ruas adjacentes, não sabe da existência do
mesmo, assim como muitos moradores do bairro desconhecem
o que é o Espiritismo e o que se faz no centro espírita.
O que estamos fazendo para divulgar esses
esclarecimentos? O que estamos fazendo para atender as
demandas atuais da sociedade humana?
O verdadeiro espírita, conforme assinalado por Allan
Kardec na codificação espírita, não pode ser tímido,
receoso, medroso ou acomodado. Sempre respeitando a
todos, tenham ou não religião, deve agir firmemente na
sua transformação moral, ao mesmo tempo em que divulga e
esclarece, sem atropelar as consciências, mas
decididamente empunhando a bandeira do Espiritismo, com
fraternidade, não abandonando as fileiras dos serviços
presenciais intransferíveis e urgentes que somente podem
ser desenvolvidos no âmbito da sede física do centro
espírita.
Assim, pois, concluímos que os espíritas devem retornar
aos centros espíritas do mesmo modo que retornaram às
atividades sociais, culturais, profissionais e outras,
pois o centro espírita é feito pelas pessoas, mas se
elas ficam em casa, como o centro espírita atenderá, com
seus serviços, os desesperados e sem esperança que lhe
batem à porta pedindo socorro?
Marcus De Mario é escritor, educador,
palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo online de
estudo espírita; edita o canal Orientação Espírita no
YouTube; possui mais de 35 livros publicados.
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