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por Celso Martins

 

O Centro Espírita


A Casa Espírita é Escola onde todos somos alunos — o único Mestre é Jesus!


Não devemos encarar o Centro Espírita como sendo apenas mais uma casa de orações dentre tantas que já existem pelo mundo religioso de hoje em dia!

É ele uma casa de orações, sim, porque em seu recin­to o Espírito se eleva até Deus, erguendo ao Criador os seus pensamentos e o seu coração. A prece é sempre agradável ao Pai Celestial, quando ditada pelo coração, porque a intenção é tudo para o Criador. Os homens reu­nidos por uma comunhão de bons pensamentos e de sen­timentos puros têm muito mais força para atrair os bons Espíritos e aí, sem dúvida alguma, o coração aflito é be­neficiado mercê da misericórdia divina, através do socor­ro amoroso dos amigos da Espiritualidade, mediante a re­cepção do passe, da obtenção de receitas mediúnicas, do uso da água fluidificada, até mesmo das curas espirituais.

Então — o Centro Espírita é também uma casa de orações.

Mas não há de ser apenas isso e nada mais.

Há de ser também um hospital... Uma escola... E uma oficina...

Hospital ele é, talvez não no sentido material da pa­lavra, mas em seu aspecto espiritual. Pois as dores da Alma, os dramas da consciência, os problemas emocionais, as carências afetivas, as angústias do coração são bem mais cruciantes do que as mazelas que atingem apenas o corpo somático.

Quantos buscam o Centro Espírita ávidos de tranquilidade para os seus corações em desassossego, diante da desencarnação inesperada de um ente querido! Ou então, porque estão sentindo os efeitos massacrantes de um remorso profundo! Ou ainda, porque estão vertendo o amargo pranto de uma grande desilusão!

Quantos procuram no recolhimento da Casa Espírita o refrigério para sua Alma, sofrida no lar, diante de parentes difíceis, problemáticos, irritadiços e odientos!

Quantos batem às portas da Casa Espírita naquela se­de de paz à maneira do viandante do deserto, que vai anelante procurando daqui e dali o refrescante oásis na secu­ra do tórrido ambiente em derredor!

O Centro Espírita há de ser também uma escola.

Não escola no sentido tradicional de estabelecimento de ensino, administrando noções de ciência, rudimentos de letras, coisas assim. Mas escola para análise das Leis que regem a vida. Escola para a meditação acerca dos pos­tulados das obras espíritas. Escola para a vivência dos en­sinamentos de Jesus.

Escola onde todos somos alunos — o único Mestre é Jesus!

Escola onde quem sabe um pouco mais está na obrigação de distribuir do que tem e do que se sabe com os demais companheiros de romagem terrena.

Educandário da Alma, que educa os sentimentos. Que burila as emoções. Que amplia os horizontes. Que apro­funda os conhecimentos relativos ao porquê das lutas que enfrentamos, das dores que sofremos, das lágrimas que vertemos, das dificuldades que faceamos.

Educandário, sim, que disciplina inclusive o mediunismo, transformando-o em mediunidade gloriosa, encarada e vi­vida como ferramenta útil de trabalho cristão, no consolo e na orientação tanto de encarnados como de desencar­nados.

O Centro Espírita é, pois, uma escola. E não só escola. Mas também uma oficina. Oficina de labor fraternal. De trabalho para o Bem comum. De atividades conjugadas em construção de uma humanidade mais feliz!

Labora em equívoco quem supõe apenas trabalhe num Centro Espírita aquele que seja médium. Sem dúvida, o médium que empresta seus inestimáveis serviços à Casa Espírita, está trabalhando na Seara do Cristo, desde que se coloque na posição de intérprete fiel dos amorosos mensageiros do Grande Além. Todavia, há atividades outras no movimento espiritista nacional que independem das faculdades medianímicas; e são de igual maneira ativida­des importantes, necessárias, inadiáveis...

Vejamos exemplos mais claros: há atividades administrativas de cujo desempenho depende a boa condução dos trabalhos da Instituição. Para executá-las, há uma diretoria, com presidente, secretário, tesoureiro, etc. Ora, do perfeito desempenho de suas atribuições, resulta a regularidade dos horários, a execução dos programas traçados, a manutenção dos serviços de assistência social aos necessitados, o cumprimento das obrigações legais do Centro, como pessoa jurídica, junto às autoridades constituídas, enfim, o Centro Espírita cum­pre com suas obrigações e deveres sociais no contexto da comunidade em que está inserido.

E o simples fato de não pertencermos pessoalmente à diretoria não nos impede de emprestar também aí a nos­sa colaboração, dentro de nossas possibilidades e habili­dades, para que o Centro possa cumprir com o seu progra­ma à frente de encarnados e de desencarnados a que se propõe a servir.

Há atividades doutrinárias como a realização de ses­sões de estudos, de aulas sobre mediunidade (nos cursos de educação mediúnica), como as reuniões de evangelização infantil e preparação dos jovens para a vida, como a realização de semanas espíritas, as tardes fraternas, as solenidades em homenagem a Kardec, a Bezerra de Mene­zes, ao Livro dos Espíritos (18 de abril)... São atividades através das quais se difunde o Espiritismo, podendo tal trabalho ser complementado com a venda de livros, a instalação de Clube do Livro, a edição de jornais, a represen­tação de periódicos com a cobrança de assinatura e obten­ção de novos assinantes, etc.

Ainda existem as atividades assistenciais com a dis­tribuição de vestes, de remédios, de mantimentos, de cal­çados, a famílias carentes. Neste particular, a família espí­rita do Brasil dá admiráveis exemplos de beneficência com farta rede de hospitais, de gabinetes médico-dentários, de escolas de alfabetização, de lares-asilo, de alber­gues noturnos, dando o pão do corpo e o pão da Alma a criaturas de ambos os sexos e de todas as idades.

Não esquecer, no entanto, de estruturar tais ativida­des de modo tenham elas autossuficiência; quer dizer, se­jam todas dotadas de uma infraestrutura financeira que as mantenha e não venham a depender das verbas oficiais. Em muitos casos (lamentáveis, diga se de passagem) há até a ingerência indébita de políticos que querem obter vantagens pessoais à custa do Espiritismo, levando os dirigentes da Casa Espiritista a envolvimentos perfeitamente dispensáveis.

Por fim, há as atividades mediúnicas, as únicas capa­zes de aliviar dores para as quais a Medicina oficial não raro se vê praticamente ineficaz, impotente, como é o ca­so específico das obsessões, só passíveis de cura (ou pelo menos de alívio) mediante os recursos da terapêutica es­piritual.

Pois bem, para que tudo isso seja realizado com se­gurança, e alcance o êxito desejado por todos, dois aspec­tos não devem ser esquecidos. Vejamos: o primeiro diz respeito à necessidade de que o traba­lho seja feito em regime de equipe. Nada de ficar um só indivíduo enfeixando nas mãos todo o poder decisório! Que a presença de um líder é importante, é ponto pacífico. Não se discute seu poder de congregar forças, de somar esforços, de coordenar elementos. Mas nem por isso o lí­der irá abraçar o mundo com as pernas, como se diz na linguagem comum. Quero dizer, ele agirá de tal modo que dará liberdade de iniciativa a seus companheiros para que estes produzam dentro de suas possibilidades. Só assim o rendimento será maior: não se sobrecarrega a ninguém e todos têm oportunidade de dar o seu quinhão de boa- vontade. E para que isso seja realidade, cada elemento se revista do espírito de humildade no sereno propósito de trabalhar e de servir.

Então, o Centro Espírita funciona, sim, como um hos­pital, lembrando bem aquele ninho agasalhador amparando a ave que foge, espavorida, da fúria do temporal. Ali aparece a figura de Jesus, a repetir mansamente aquelas fra­ses milenares: — vinde a mim, ó vós que sofreis, que estais cansa­dos e oprimidos, que eu vos aliviarei. Aprendei de mim que sou manso. Tomai sobre vós o meu jugo que é suave e leve...

Neste aspecto, quantos casais se reconciliaram! Quan­tos jovens se reajustaram com a vida! Quantos compa­nheiros não desistiram das ideias de suicídio! Só porque encontraram no Centro Espírita uma palavra de consolo e de orientação!... se isto se dá em relação aos homens, outro também ocorre relativamente aos Espíritos sofredo­res. Até ali sempre acorrem em grupos sedentos de paz, famintos de sossego, encontrando aí repouso para suas almas doloridas!...

O segundo aspecto que merece nossa atenção diz respeito à formação de sucessores. Ninguém tem a preten­são de que ficará para sementeLá um belo dia, sem que ele mesmo espere, a morte o surpreende! É lei natural da vida! Se não é a morte, pelo menos pode ser um impedi­mento sério imposto, por exemplo, por uma doença grave. Pois bem, este afastamento do confrade que estava à fren­te da obra, caso não tenha sido providenciada a formação de sucessores, poderá fazer com que a atividade do grupo sofra solução de continuidade. Claro que o Plano Espiritual supre as nossas deficiências. A rigor é ele mesmo quem comanda nossos empreendimentos terrenos, sugerindo-nos medidas, apontando-nos iniciativas, mostrando cami­nhos (sem que, às vezes, isto nós percebamos). Mas isto não quer dizer devamos deixar tudo à conta da ajuda do Alto. A nossa participação também conta porque, senão, onde o nosso mérito individual? Onde a nossa parcela hu­mana na obra que é de Deus e que, de certa forma, depende de nosso trabalho pessoal?

Muita coisa pode e deve ser feita em benefício da hu­manidade encarnada e desencarnada, em termos de con­solação de dores e de esclarecimento das mentes. E é justamente o Centro Espírita, na atualidade, aquele am­biente onde esse trabalho de amor tem condições de ser realizado desde que todos nos dediquemos de corpo e al­ma ao amor ao próximo, como Jesus nos amou. [1]

 

[1] - MARTINS, Celso. AMORIM, Deolindo. Ponto de encontro. 2.ed. Capivari S.P. p. 37 a 41.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita