A propósito do verbo Agradecer
Um dos mais instrutivos capítulos da obra O
Evangelho segundo o Espiritismo se intitula Pedi
e obtereis, uma visão única e objetiva sobre
a forma como devemos nos relacionar com Deus por
intermédio das orações.
De modo geral, o crente se preocupa em solicitar
ao Pai tudo que imagina ser útil e necessário
para a condução de sua própria vida material,
concentrando sua atenção no pedir,
esquecendo-se, muitas vezes, de que deveria
também exercitar outras duas propostas, quando
se dirige, pela oração, ao Criador: o
agradecimento e o louvor.
Entretanto, mesmo aqueles que não se esquecem do
agradecimento, se concentram em identificar os
recursos materiais indispensáveis para sua
sobrevivência bendizendo o Criador pela
possiblidade de usufruí-los, enquanto tantos não
desfrutam destas dádivas, ou seja, agradecem: o
alimento que não falta à mesa, o vestuário que
aquece do frio, a casa que oferece abrigo das
intempéries, a posse do veículo que possibilita
o transporte para exercer as muitas atividades,
o dinheiro na bolsa ajudando a fazer face aos
variados compromissos financeiros – contas de
energia, gás, água, plano de saúde... Feitos
estes agradecimentos, sentem-se quites com suas
consciências.
Por outro lado, esquecem-se de agradecer a Deus
quando: o dinheiro está escasso e as contas se
acumulam, o emprego não se apresenta, a saúde
não vai bem, isto é, em situações desagradáveis
de dor, de sombra, em situações agressivas, pois
estas representam testes para o fortalecimento
da fé, resignação e submissão ao Magnânimo.
Afinal, tanto as ocorrências felizes, quanto as
de nosso ponto de vista, infelizes, são todas
justas e ocorrem em decorrência da lei de causa
e efeito, estando Deus ciente de todas elas.
Contudo, esta forma de ser grato ao Criador -
considerando apenas os recursos materiais
presentes ou ausentes em nossas vidas -,
representa apenas a ponta do iceberg neste ainda
ignorado processo de reconhecimento a tudo que
nos é ofertado por Ele, afinal tudo Lhe
pertence, somos apenas mordomos das muitas
dádivas materiais que nos cercam.
Existe um aspecto da vida que não é bem
entendido ou, se o é, não motiva a criatura a
expressar sua gratidão: é o agradecimento
pessoal demonstrado pelo exemplo!
A mais significativa forma de reconhecer o amor
do Criador a todas as suas criaturas se dá pela
forma como nos conduzimos no dia a dia, ou seja,
pelo exemplo ou testemunho, isto é, a gratidão
moral.
Essa desconhecida modalidade de agradecimento se
materializa quando não: mentimos,
furtamos o próximo, usamos de nosso poder
temporário para humilhar os que estão sob nosso
comando, maltratamos os animais irracionais e a
Natureza, desperdiçamos os recursos materiais
que estão sob nossa provisória guarda, mantemos
a tranquilidade operosa diante dos muitos
contratempos do cotidiano, buscamos a saúde
espiritual, cuidamos do corpo físico -
ferramenta de trabalho do Espírito quando
reencarnado, observamos os direitos alheios.
A propósito, guardar a fé no futuro, na
misericórdia e justiça divinas, são formas de
agradecimento.
É de pouca valia repetirmos continuados
agradecimentos pelos recursos materiais que
desfrutamos, enquanto: agimos de modo
preconceituoso na sociedade, divulgamos fake
News sem nenhuma cerimônia, dirigimos nossos
veículos como loucos e, quando envolvidos em
acidentes, negamos tudo: não havia bebido, não
estava em velocidade acima da permitida, não
estava fazendo racha. Há incontáveis
modos de negar, pelas nossas atitudes diárias,
as orações que realizamos periodicamente nas
diversas instituições religiosos às quais nos
afeiçoamos ou mesmo em nossos lares.
Existe uma multidão de formas pelas quais
podemos expressar a nossa gratidão a Deus que
passam despercebidas e, de fato, são estas as
que mais valem, maior peso possuem, pois
traduzem, ao longo da existência, o nosso
entendimento e a consequente prática das leis
que julgamos serem justas, o melhor meio de
demonstrarmos gratidão ao Criador: cumprir os
deveres, principalmente os morais, pelos
exemplos e testemunhos.