Ideia fixa
Esta reflexão tem como propósito abordar questões a
respeito de ideia fixa com algumas de suas
características, que poderão servir de alerta para
prevenir possíveis consequências indesejáveis e
motivadoras de alguns males, porquanto espera-se que a
sua compreensão auxilie a evitar a sua evolução para um
estado patológico.
Não se pretende nesta reflexão, por exemplo, aprofundar
estudos em processos de obsessão e desobsessão, em face
da sua complexidade temática, mas tão somente
estabelecer simples relação para chamar a atenção para
os cuidados com as ideias fixas.
Ideia poderá ser representação mental de uma realidade
ou de algo transcendente, abstrato, imaginário,
fantasioso, fantástico, fictício, utópico, entre outros,
relacionando-se a um pensamento acerca de coisa, alguém,
informação, conceito, conhecimento, noção, criação,
descoberta ou opinião.
As ideias surgem de várias maneiras, dependendo da
conexão mental realizada com as circunstâncias
enfrentadas, os entendimentos de uma realidade, a
percepção de vida, a análise e o julgamento acerca de
determinadas questões.
As ideias podem ser boas, indiferentes ou ruins,
dependendo de como elas estão inseridas no contexto de
uma realidade ou abstração.
Importante recordar que a partir de uma ideia muitas
coisas passam a existir ou a acontecer, sendo seus
pontos de partida.
A ideia fixa ou convicção recorrente, por vezes
involuntária, conduz a um pensamento dominante e
persistente em uma pessoa, quer seja ele bom ou ruim.
A ideia fixa poderá ter várias gradações, dependendo da
sua intensidade e do seu domínio, desde uma simples
repetição de pensamento até algo patológico, como
sintoma de uma monomania, obsessão ou paranoia.
Pessoas com ideias fixas podem ser consideradas
obstinadas, perseverantes, persistentes, firmes,
teimosias, renitentes, inflexíveis, obsessivas, dentre
outras.
A ideia fixa tem seu aspecto negativo, preocupante e
perigoso, quando foge aos parâmetros de normalidade,
bloqueando a mente da pessoa a ponto de não mais
enxergar, escutar ou compreender situações,
conhecimentos, explicações, esclarecimentos, alertas ou
sugestões, que contrariem seus pensamentos
preconcebidos.
Dependendo da intensidade e do domínio, a ideia fixa
poderá ser considerada um transtorno mental ou
psiquiátrico, caracterizado por pensar obsessivamente em
algo ou alguém durante muito tempo seguido.
Pessoa com ideia fixa poderá passar por desligamento
mental, quando alguém tenta lhe trazer à razão sobre a
consequência de determinada atitude, funcionando como
escudo à ação de trazer para a realidade.
Para a Doutrina Espírita, a ideia fixa poderá dominar um
Espírito obsessor, assim como a pessoa obsidiada por
ele.
Suely Caldas Schubert, no
livro Obsessão/Desobsessão, no Capítulo 3 - O que
é a obsessão, caracteriza-a como: “Impertinência,
perseguição, vexação. Preocupação com determinada ideia,
que domina doentiamente o Espírito, e resultante ou não
de sentimentos recalcados; ideia fixa; mania.
Vulgarmente a palavra obsessão é usada para significar
ideia fixa em alguma coisa, gerando um estado mental
doentio, daí podendo advir manias, cacoetes, atitudes
estranhas.”
Assim, obsessão é a ação de domínio doentio persistente
sobre uma pessoa, encarnada ou desencarnada, com
características diversas, desde uma simples influência
moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até uma
perturbação completa do organismo e das faculdades
mentais.
Em O Livro dos Médiuns,
de Allan Kardec, Segunda Parte, Capítulo XXIII, Da
obsessão, tem-se o alerta: “A
obsessão muito prolongada pode ocasionar desordens
patológicas e reclama, por vezes, tratamento simultâneo
ou consecutivo, quer magnético, quer médico, para
restabelecer a saúde do organismo. Destruída a causa,
resta combater os efeitos.”
Desse alerta, verifica-se que a obsessão prolongada
conduz a um processo complexo de desordem patológica e
de extenso tratamento, requerendo ações simultâneas da
medicina humana e de ordem espiritual para restabelecer
a saúde do paciente. Mesmo eliminando as causas, há de
se continuar o tratamento dos seus efeitos.
A esse respeito, no livro Obsessão/Desobsessão,
segunda parte, Capítulo 8 - Os recursos espíritas, Suely
Caldas Schubert alerta: “Convém
lembrar sempre que se o doente está fazendo uso de
medicação receitada por médico da Terra, esta não deverá
ser suspensa, nem sob o pretexto de atrapalhar o
tratamento espiritual. Uma atitude dessas traz graves
implicações, cujos resultados poderão comprometer
seriamente aquele que a recomendou. Afinal, sabemos à
saciedade que existem casos de caráter misto, em que se
conjugam o mal espiritual e o físico, exigindo por isso
uma terapêutica igualmente mista.”
Caso alguém recorra a tratamento de desobsessão em um
centro espírita, destaca-se que não se deve parar ou
suspender o tratamento médico desse paciente ou deixar
de tomar os medicamentos prescritos.
Na obsessão simples, ocorre um grau de constrangimento
que se limita a perturbar a vontade, a emoção e o
psiquismo do obsidiado, mas não domina em profundidade o
seu psiquismo.
Na fascinação, há ilusão produzida sobre o
pensamento na mente do obsidiado, tais como: ideias
fixas, imagens hipnotizantes, mágoas, fantasias, etc. O
fascinado não acredita que está sendo enganado, contudo
da ilusão que dela decorre a pessoa fica como um cego,
afastando tudo aquilo que lhe possa abrir os olhos.
A subjugação é uma constrição que paralisa a vontade
daquele que a sofre e o faz agir a seu mau grado. O
paciente fica sob um verdadeiro jugo. O subjugado é
constrangido a tomar resoluções absurdas e
comprometedoras que, por ilusão, julga sensatas. Essa
obsessão pode levar a uma espécie de loucura espiritual,
diferente da orgânica.
Preventivamente, é preciso identificar a ideia fixa e a
sua relação com a obsessão, desde o início, quando o seu
grau de constrangimento é menor. Por conseguinte,
qualquer ideia fixa que venha a perturbar emocionalmente
uma pessoa será sempre um sinal de alerta, precisando
ser combatida a sua origem.
O Espírito Manoel Philomeno de Miranda, no livro Nos
bastidores da obsessão, na psicografia de Divaldo
Pereira Franco, em “Examinando a obsessão”, esclarece:
“Quando você escutar nos recessos da mente uma ideia
torturante que teima por se fixar, interrompendo o curso
dos pensamentos; quando constatar, imperiosa, atuante
força psíquica interferindo nos processos mentais;
quando verificar a vontade sendo dominada por outra
vontade que parece dominar; quando experimentar
inquietação crescente, na intimidade mental, sem motivos
reais; quando sentir o impacto do desalinho espiritual
em franco desenvolvimento, acautele-se, porque você se
encontra em processo imperioso e ultriz de obsessão
pertinaz.
Transmissão mental de cérebro a cérebro, a obsessão é
síndrome alarmante que denuncia enfermidade grave de
erradicação difícil.
A princípio se manifesta como inspiração sutil, depois
intempestivamente, para com o tempo fazer-se
interferência da mente obsessora na mente encarnada, com
vigor que alcança o clímax na possessão lamentável.
Ideia negativa que se fixa, campo mental que se
enfraquece, dando ensejo a ideias negativas que virão.
Da mesma forma que as enfermidades orgânicas se
manifestam onde há carência, o campo obsessivo se
desloca da mente para o departamento somático onde as
imperfeições morais do pretérito deixaram marcas
profundas no perispírito.”
Pelo texto de Manoel Philomeno de Miranda, percebe-se a
gravidade da obsessão alimentada pela ideia fixa,
atuando na mente da pessoa obsidiada, nos seus
pensamentos e na sua vontade, causando domínio,
inquietação e aflições.
Em “Examinando a
obsessão: a) Obsessões especiais”, Philomeno de Miranda
ensina: “O
pensamento é sempre o dínamo vigoroso que emite ondas e
que registra vibrações, em intercâmbio ininterrupto nas
diversas faixas que circulam a Terra. Mentes viciadas e
em tormento, não poucas vezes escravas da monoideia
obsessiva, sincronizam com outras mentes desprevenidas e
ociosas, gerando pressão devastadora. (...) Muitos
processos graves de alienação mental têm início quando
os seres constrangidos por essa força possuidora, ao
invés de a repelirem, acalentam-lhe os miasmas
pertinazes que terminam por assenhorear-se do campo em
que se espalham.”
Assim, o pensamento é meio de intercâmbio espiritual,
emitindo e recebendo ondas de vibrações nas faixas que
circulam na Terra. Por esse meio, mentes de pessoas
poderão se entrelaçar em monoideias obsessivas, que
causam processos graves de alienação mental devido a uma
força possuidora pertinaz que acaba dominando a pessoa.
Em “Perante obsessores”:
Philomeno de Miranda alerta: “A
princípio, como mensagem invasora, a influência sobre as
telas mentais do incauto é a ideia negativa não
percebida. Só mais tarde, quando as impressões vigorosas
se fixam como panoramas íntimos de difícil eliminação, é
que o invigilante procura o benefício dos medicamentos
de resultados inócuos. (...) Em razão disso, somos o que
pensamos, permutando vibrações que se harmonizam com
outras vibrações afins.”
Em “Socorro espiritual”,
no Capítulo2, temos: “A
viciação mental, resultante do pensamento vibrando na
mesma onda, gera a ideia delinquente na psicosfera
pessoal do seu emitente, aglutinando forças da mesma
qualidade, por sua vez emanadas por inteligências
desajustadas, que se transformam em energia destruidora.
Tal energia é resultante do bloqueio mental pela
densidade da tensão no campo magnético da aura. Ali,
então, se imprimem por força da monoideia devastadora as
construções psíquicas que se convertem em instrumento de
flagício pessoal ou instrumento de suplício alheio,
operando sempre no mesmo campo de vibrações mentais
idênticas. Quando essas energias são dirigidas aos
encarnados e sintonizam pela onda do pensamento,
produzindo as lamentáveis obsessões que atingem
igualmente os centros da forma, degeneram as células
encarregadas do metabolismo psíquico ou físico,
manifestando-se em enfermidades perturbadoras, de longo
curso...”
A mente é o centro emissor dos nossos pensamentos, que
tudo move, refletindo, como um espelho, a nossa vida,
conforme o estágio evolutivo em que nos encontramos.
Projetamos os nossos reflexos mentais e recebemos os
reflexos de outras criaturas.
Pelos pensamentos, podemos colocar-nos em comunhão com o
Pai, mover, construir, evoluir e iluminar-se, ou
estacionar, destruir e mergulhar na escuridão.
Por isso, muito importante controlar os pensamentos
doentios, porquanto o ser humano, como ímã, atrai sobre
si mesmo a contaminação fluídica de entidades inferiores
em desequilíbrio, capazes de nos conduzir a males
físicos de variada procedência. Quantos vícios, que
corroem a vida moral, são decorrentes do pensamento
desgovernado, impondo ao corpo físico processos
patológicos indefiníveis que favorecem a queda ou até
mesmo a morte. Isso porque a mente é o incessante
gerador de força através dos fios positivos e negativos
do sentimento e do pensamento.
Um pensamento negativo ou uma supervalorização de ideia
fixa pode crescer desordenadamente, pois é no estado
negativo que, martelados pelas vibrações de sentimentos
e pensamentos doentios, atingimos o desequilíbrio
parcial ou total da harmonia orgânica, enredando o corpo
e a alma nas teias da enfermidade.
Por esse motivo, devemos ter cuidado com os nossos
pensamentos, palavras, gestos e ações, pois receberemos
da vida aquilo que oferecemos a ela, pois nem sempre
conseguiremos perceber a presença do mal.
Os pensamentos negativos prejudicam e produzem
ressonância perniciosa em nós mesmos e nas pessoas a
quem são dirigidos. Por outro lado, os pensamentos
positivos se hospedam no coração, recebendo influxos
mentais bons e revigorantes.
Muitos distúrbios de comportamento psicológico são
provenientes de sintonias carregadas de sentimentos
inferiores, cujas descargas de efeitos danosos têm
origens em seres inferiores de baixas vibrações
espirituais.
Não se deve responder na mesma faixa de frequência as
vibrações inferiores, pois o intercâmbio poderá ser
destruidor.
O pensamento positivo e edificante traz energias que nos
sustentarão os campos vibratórios, captando energias
benéficas nas augustas fontes do amor universal.
Por tudo isso, é preciso aprender a disciplinar os
pensamentos, a fim de atrairmos os bons Espíritos que
nos auxiliarão a percorrer o bom caminho, tornando-o
menos árido e pleno de realizações espirituais.
Portanto, segue o alerta quanto à ideia fixa, ponha-se
vigilante a esse respeito!
Bibliografia:
BÍBLIA SAGRADA.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon
Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª
Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira,
2019.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon
Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição.
Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon
Ribeiro. O Livro dos Médiuns. 1ª Edição.
Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
MIRANDA, Manoel Philomeno de (Espírito),
na psicografia Manoel Divaldo Pereira Franco. Nos
bastidores da obsessão. 13ª
Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira,
2016.
SCHUBERT, Suely Caldas. Obsessão/Desobsessão:
profilaxia e terapêutica espíritas. 3ª Edição.
Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.
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